iStock
“Prefiro bolo”. Essa é uma afirmação comum para quem se identifica no espectro da assexualidade, uma comparação na qual os assexuais afirmam que comer um bolo é mais interessante do que ter relações sexuais. O assunto ganhou destaque na mídia em 2020, após um participante do Big Brother Brasil se declarar assexual.
O prefixo “a”, de assexual, é utilizado para negação e indica que não há a existência da atração sexual. No entanto, não é sinônimo de celibato, abstinência ou problemas hormonais. Para saber mais sobre o assunto, conversamos com a psicóloga Jackeline Corrêa (CRP 08/22340). Confira todos os detalhes:
O que é assexualidade
A assexualidade é uma orientação sexual, também chamada pela sigla ACE. Tome cuidado para não usar o termo assexuado, que significa ausência de órgãos sexuais. Segundo a psicóloga, “pessoas assexuais não sentem, ou sentem em pouca intensidade, interesse em relações sexuais – independentemente do gênero da parceria escolhida. Todavia, essa ausência de desejo não significa que o assexual não ame, não queira se relacionar, não se envolva com outra ou outras pessoas.”
Relacionadas
Publicidade
Tipos de assexualidade
- Arromântica: pessoas arromânticas não têm interesse ou necessidade de um relacionamento amoroso.
- Demirromântica: pessoas que precisam de um forte vínculo emocional com outras para sentirem atração afetiva.
- Romântica: são aqueles que sentem atração romântica por outras pessoas. Podem ser heterromânticos, birromânticos, homorromânticos ou panrromânticos.
- Demissexual: pessoas que sentem atração sexual por outras, quando criam um forte vínculo emocional.
- Gray-A: pessoas que sentem atração sexual ocasionalmente. Se identificam em uma área entre a assexualidade e a sexualidade.
Jackeline ressalta que assexuais podem fazer sexo. Ela nos fala que “uma forma ilustrativa para compreender é imaginar uma régua de 0 a 10 onde o 0 é a completa ausência de atração sexual e o 10 a presença de atração sexual. As pessoas assexuais podem se identificar do número 0 ao número 9. Portanto, não é correto dizer que pessoas assexuais não irão fazer sexo em alguns momentos de sua vida.”
7 fatos e mitos sobre a assexualidade
Apesar de a assexualidade estar sendo mais divulgada e falada abertamente, ainda existem dúvidas sobre o assunto. Separamos os principais mitos e fatos relacionados à orientação sexual. Confira:
- O sexo não é essencial para o assexual: Fato. Para as pessoas assexuais, existem outros prazeres no relacionamento a dois. Algumas não querem ter relações sexuais, outras vão experimentar isso ocasionalmente. Segundo a psicóloga: “Para muitas pessoas assexuais, o momento mais agradável com sua parceria é rir juntos, passear no parque, assistir a um filme com pipoca, um jantar num restaurante aconchegante…”
- Assexualidade é um problema hormonal: Mito. Assexuais podem ter problemas hormonais, mas a falta de atração sexual não está relacionada a isso.
- Assexualidade não é celibato: Fato. O celibato é uma escolha pessoal de se guardar para alguém ou determinada ocasião, por isso o desejo sexual é reprimido.
- Todo assexual sofreu um trauma: Mito. Pessoas que sofreram traumas sexuais continuam tendo desejo, mas o reprimem por medo. Os assexuais não enxergam o sexo como essencial, mas podem nunca ter tido relações e sua orientação sexual não está ligada com traumas do passado.
- Assexuais conseguem ter respostas fisiológicas para o ato sexual: Fato. Os assexuais sex-favoráveis podem ter experiências sexuais e experimentar orgasmos e outras respostas fisiológicas.
- Uma pessoa só é assexual porque nunca experimentou fazer sexo ou não encontrou a pessoa certa: Mito. Alguns assexuais fazem sexo ocasionalmente, enquanto outros experimentaram e não acharam a experiência relevante.
- Pessoas assexuais podem enfrentar situações de sofrimento psíquico pela falta de reconhecimento e de respeito: Fato. Pela falta de conhecimento sobre o assunto, algumas pessoas invalidam a assexualidade, taxando a orientação sexual como uma doença. Para Jackeline, “é recomendado o trabalho terapêutico para o autoconhecimento e empoderamento.”
Esses são alguns dos fatos e mitos sobre a assexualidade. A psicóloga Jackeline ainda deixa um recado importante: “Nenhum profissional da saúde mental habilitado pode sugerir ou impor que pessoas assexuais devam ‘se definir’ em alguma outra orientação sexual como a heterossexualidade ou a homossexualidade. Se um profissional te sugerir algo desse tipo, denuncie!”.
Experiências com a assexualidade
Selecionamos quatro vídeos com relatos de mulheres sobre a descoberta da assexualidade. Acompanhe:
Como é ser assexual
Thalita Piacentini explica um pouco sobre assexualidade e relata como é seu relacionamento com o marido. Ela também responde várias questões e tira dúvidas sobre a orientação sexual.
Publicidade
Você sabe o que é demissexualidade?
Aqui, a blogueira Thata explica as diferenças entre demissexulidade, assexualidade e não assexualidade, além de ler relatos e experiências de pessoas que passaram pelo processo de reconhecimento e aceitação.
Eu sou demissexual
Relato de Natasha Rattacasso sobre sua descoberta da demissexualidade. Ela fala inclusive sobre sua criação, com mais liberdade para falar sobre sexo e sexualidade. Por isso, mostra que querer fazer sexo apenas com alguém com quem se tem um forte vínculo não é apenas uma questão de escolha.
Como é namorar uma demissexual
Nesse vídeo, a YouTuber trouxe seu namorado para responder perguntas sobre a demissexualidade e explicar como é o relacionamento do casal. Acompanhe!
Como você pode ver, a assexualidade é uma orientação sexual. Se você se identifica como assexual, sinta-se livre para falar sobre o assunto. Nas palavras da psicóloga Jackeline: “Ninguém vai poder te dizer como amar, só você.” Agora, aproveite e leia também nossa matéria sobre o que é um sapiossexual, a pessoa que sente atração pela inteligência.
Stephanie Quadros
Escritora com 8 livros publicados e apresentadora de um programa de rádio sobre literatura nacional, o Capivaras Leitoras. Ama ler, viajar e passar um tempo com a Buffy, sua cachorrinha vira-lata.