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Entre as práticas sexuais não heteronormativas, a bissexualidade é uma orientação que ainda não é muito compreendida e aceita – nem por heterossexuais, nem por homossexuais. Frequentemente, a bissexualidade é relacionada à infidelidade e à falta de responsabilidade afetiva. Ainda há pessoas que evitam se relacionar com quem se defina como bissexual. Essa visão revela a bifobia que perpetua na sociedade e deve ser combatida.
Mas, afinal, o que é bifobia?
Segundo um estudo desenvolvido por pesquisadores da UFSC, o termo bifobia foi cunhado “para se referir a discriminações específicas dirigidas a pessoas que se entendem como bissexuais”. Nesse sentido, a bifobia está relacionada à “invisibilização e deslegitimação das experiências bissexuais”.
Apesar de a bifobia ser uma experiência comumente vivenciada por pessoas bissexuais, há quem questione sua legitimidade, já que, em tese, as pessoas bissexuais só sofreriam preconceito da sociedade em geral quando estão se relacionando com pessoas do mesmo sexo – o que é equivocado.
Esse duplo preconceito existe porque a sociedade, no geral, tem um pensamento monossexual, ou seja, acredita que as pessoas só podem ter atração por um único gênero sexual, não podendo transitar entre a atração hetero e a homossexual. Porém, se considerarmos, a partir da escala de Kinsey, que a sexualidade é muito mais um gradiente do que formatos fixos de atração, o trânsito entre as formas de atração possíveis – e, portanto, legítimas – entre os seres humanos são tão variadas quanto pode ser variada e ampla essa escala.
Exemplos de bifobia
Se você não imagina como a bifobia se apresenta na prática, seguem alguns exemplos para você identificar (talvez no seu próprio comportamento) e evitar.
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- Achar que a pessoa bissexual age por conveniência: um exemplo claro dessa forma de preconceito aconteceu na edição do BBB 2021, quando a bissexualidade de Lucas Penteado foi questionada como sendo algo “conveniente” ou mesmo como uma estratégia de jogo. A pressão sobre o rapaz foi tão intensa que ele acabou abandonando o reality.
- “Bissexuais traem mais”: há uma visão equivocada de que as pessoas bissexuais “querem todo mundo” e, por isso, seriam menos fiéis. Porém, fidelidade e lealdade não têm relação com orientação sexual: há pessoas hetero e homossexuais muito fiéis, outras nem tanto, e isso não se relaciona ao gênero pelo qual a pessoa se atrai.
- Bissexualidade é indecisão: outro preconceito que existe em relação aos bissexuais é que sua orientação seria fruto de indecisão. Nada mais equivocado. Não é que a pessoa não saiba o que ela gosta: é que não é a genitália que a pessoa tem que define a atração que o bissexual sente, ele inclusive pode ter interesse por homens e mulheres por motivos diferentes, sem que isso seja indecisão. Para a pessoa bissexual, pessoas são pessoas, independentemente do gênero.
- Dizer que a pessoa quer ficar com todo mundo: ao mesmo tempo, não é porque uma pessoa bissexual se atrai por homens e mulheres que ela se atrai por TODOS os homens e TODAS as mulheres. Como já foi dito, a única questão é que a genitália não é o elemento definidor da atração.
- “Bissexual só serve para pegar, porque não namora”: outro conceito equivocado, uma vez que as pessoas bissexuais não são todas iguais. Há quem queira um romance de conto de fadas e quem prefira relações mais fluidas – assim como em pessoas de qualquer outra orientação. Não é a bissexualidade que define o interesse (ou a falta dele) por relações fechadas e duradouras.
- Bissexual é “heteroconveniente”: muitas pessoas homossexuais julgam a bissexualidade como “heteroconveniente”, ou seja, como se a orientação verdadeira – talvez homossexual – fosse escondida socialmente para que a pessoa bissexual não sofresse a homofobia que existe na sociedade. Sabe-se que muitas vezes pessoas homossexuais acabam passando por esse tipo de experiência, mas, à parte isso, a bissexualidade existe por si só, é uma orientação sexual diferente. E pessoas bissexuais não deixam de sê-lo por serem ou não serem aceitas. É uma questão de desejo.
- Bissexuais não sofrem tanto como homossexuais: em primeiro lugar, é equivocado fazer este tipo de “competição” sobre quem sofre mais, porque há diversas intersecções que precisam ser consideradas, uma vez que a sociedade está carregada de preconceitos de todos os tipos. O importante aqui é saber que a pessoa bissexual sofre preconceito, sim, e às vezes tanto das pessoas que atacam a comunidade LGBTQIA+ quanto de membros dessa mesma comunidade.
Ainda há muito o que ser feito em relação à bifobia, e ainda há muito o que se aprender e esclarecer. O fundamental é sempre tentar se colocar no lugar do outro e ter empatia, porque ninguém conhece a dor do outro como ele. Confira, na sequência, algumas dicas para combater a bifobia e construir uma sociedade mais igualitária e receptiva.
Como combater a bifobia
Assim como o racismo, a transfobia e a homofobia, a bifobia também é algo que está entranhado no pensamento social e precisa de tempo e esforço constante para ser superada. Algumas dicas para combater esse tipo de preconceito são:
1. Pesquise
É comum que as pessoas tenham visões erradas daquilo que desconhecem. Nesse sentido, pesquisar e se aprofundar nos assuntos antes de formar uma opinião sobre eles pode te salvar de ter posicionamentos preconceituosos – e isso não só em relação à bissexualidade como em relação a qualquer outro tema que seja desconhecido por você e, ao mesmo tempo, seja um pouco polêmico. Por isso, antes de dar sua opinião, pesquise.
2. Converse
Falar com quem vive ou já viveu uma determinada experiência na prática também é outra boa forma de evitar preconceitos e visões equivocadas. As pessoas estão sempre dispostas a dividir sua experiência com quem está verdadeiramente interessado. Então, antes de apontar o dedo e julgar, converse e entenda a vivência de cada pessoa.
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3. Lembre que o mundo é diverso
As pessoas são diferentes e não é porque uma definição serve para uma que vai servir para outra. A beleza do mundo é saber que, apesar de ser possível agrupar os indivíduos em grupos a partir de suas semelhanças, cada pessoa é um universo. Não julgue uma pessoa pelo que você sabe de outra.
4. Tenha empatia
Sempre que for falar ou fazer algo que pode atingir outra pessoa, pare e pense: eu gostaria de ouvir isso sobre mim? Se colocar no lugar do outro é uma habilidade importantíssima para o desenvolvimento da solidariedade, e deve ser constantemente exercitada, uma vez que nossa sociedade tende a convocar as pessoas para olharem apenas para si mesmas. Permita-se olhar para o outro, tenha empatia!
5. Respeite
Mesmo quando você não concordar com o comportamento de outra pessoa, respeite. Cada um deve ter a liberdade de ser o que é, dentro daquela regra: “a sua liberdade acaba quando começa a do outro”. Aceite que cada um tem pleno direito de exercer sua própria liberdade dentro do espaço que lhe cabe e celebre: isso é democracia, isso é liberdade, isso é respeito!
O caminho para superar os preconceitos que existem na nossa sociedade é árduo e espinhoso. Apesar disso, se cada um fizer sua parte, refletindo, se questionando, respeitando o lugar do outro, em breve a realidade pode ser muito diferente da atual. Se você tem disposição para repensar seus preconceitos, que tal refletir também a respeito da transfobia e entender que a sexualidade e a identidade de gênero são leques muito mais amplos do que você imaginava?
Thays Pretti
Escritora, autora de "A mulher que ri", "Efêmeras" e "Do Silêncio". Apaixonada por Clarice Lispector, clubes de leitura e pessoas. Gosta de listar coisas de três em três.