12 dúvidas esclarecidas sobre café com óleo de coco
O consumo não é indicado, por exemplo, para quem tem uma dieta desequilibrada
Atualmente, tudo que “promete” emagrecimento, melhor desempenho nas atividades físicas, ou, simplesmente, uma “forcinha” para a pessoa seguir uma alimentação e hábitos de vida mais saudáveis ganha destaque…
Isso tudo, por um lado, é positivo – já que a atenção à saúde acaba ficando sempre em evidência –; mas, por outro lado, tem gerado certos “modismos” – o que pode acabar mais “desinformando” do que informando as pessoas, e até criando certo “terrorismo nutricional” e em torno da saúde de uma forma geral.
Neste contexto, uma bebida à base de café e óleo de coco, tem chamado a atenção, conquistando “muitos adeptos” (especialmente aqueles que praticam atividade física com regularidade), ao mesmo tempo em que causando muitas dúvidas.
Você também já se perguntou “por que tomar café com óleo de coco”?! Quais benefícios essa mistura oferece? Quem deve e quem não deve consumir?
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Abaixo, a nutricionista Inari Ciccone, especialista em Obesidade e Emagrecimento pela UNIFESP, esclarece estas e outras dúvidas sobre o assunto.
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1. Muito se fala sobre o consumo de café com óleo de coco, especialmente antes de treinar. Por quê?
Inari lembra que os efeitos da cafeína como uma substância estimulante e termogênica são bem claros na literatura. “O café, bebida rica em cafeína, promove um maior gasto de energia quando digerido e metabolizado, por isso é chamado de termogênico. Além disso, a cafeína age no sistema nervoso central, atuando como estimulante, deixa o cérebro mais ‘ligado’, aumentando a sensação de energia, foco e concentração. Devido a esses efeitos, é recomendado o consumo de café, ou cafeína, na hora que antecede o treino”, diz.
A adição do óleo de coco na bebida, explica Inari, é uma prática recomendada aos adeptos das dietas paleolítica e cetogênica, onde existe a redução ou exclusão do consumo de alimentos fontes de carboidratos. “Os carboidratos são nutrientes essenciais para a formação de energia de forma rápida e fácil para o organismo. Na sua digestão e metabolização, ocorre a formação de glicose, nutriente essencial para suprir a necessidade energética das células, sendo fundamental para o funcionamento de órgãos importantes como o cérebro. Na sua ausência, o metabolismo precisa utilizar outros nutrientes para obter essa energia por outras vias metabólicas, por isso a inclusão do óleo de coco nessa situação”, esclarece a nutricionista.
O óleo de coco extravirgem possui na sua composição uma predominância dos lipídios (gordura) de cadeia média, com maior facilidade de digestão, absorção e produção de energia mais rapidamente, quando comparado às gorduras com moléculas maiores, como o caso da gordura saturada. “Logo, o seu uso pode ser indicado antes do treino, momento em que o corpo precisa ter energia disponível para um bom rendimento”, destaca Inari.
“Combinando a facilidade de obter energia e saciedade a partir do óleo de coco, com os efeitos termogênicos e estimulantes da cafeína, o café com óleo de coco pode ser uma estratégia para o pré-treino, principalmente quando o indivíduo estiver seguindo alguma dieta de restrição de carboidratos”, ressalta a especialista.
2. Quais os benefícios do café com o óleo de coco?
Inari ressalta que, resumidamente, esta combinação “é uma boa fonte de energia de fácil metabolização e absorção e biodisponibilidade, que promove saciedade, em conjunto com o efeito termogênico e estimulante do café”.
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3. Pode-se dizer que café com óleo de coco ajuda no processo de emagrecimento?
Não se pode afirmar isso. “O que promove o emagrecimento é o conjunto da redução da ingestão de energia (caloria) e inflamação em conjunto com o aumento do gasto energético. O déficit calórico é fundamental para que ocorra o emagrecimento. Ainda não existem evidências científicas fortes na literatura que comprovem o efeito benéfico do óleo de coco no emagrecimento”, diz Inari.
“Um estudo conduzido por um grupo de pesquisadores no Alagoas estudou 40 mulheres entre 20 e 40 anos, divididas em dois grupos. Um grupo recebeu óleo de coco e, outro, recebeu óleo de soja – de forma aleatória por 12 semanas, além de orientação dietética e prescrição de dieta hipocalórica por nutricionista e orientação para prática de atividade física. Como resultado, a suplementação de óleo de coco não alterou o perfil lipídico e a perda de peso foi idêntica nos dois grupos. No entanto, os autores verificaram redução de circunferência abdominal no grupo com óleo de coco em relação ao óleo de soja (-1,4cm vs 0,6cm). Porém, os pesquisadores concluíram que é necessário acompanhar por um tempo maior, para confirmar a ausência do efeito colateral no perfil lipídico e realizar um estudo com uma amostra mais ampla, para obter uma evidência mais forte para essa associação”, comenta a nutricionista.
Quanto ao uso do óleo de coco com o café, ainda não existem estudos científicos com forte evidência publicados na literatura que comprovem essa associação. “Sendo assim, não podemos afirmar que tomar o café com o óleo de coco ajuda a emagrecer”, ressalta Inari.
“Além disso, as evidências indicam que o uso do óleo de coco de forma crônica ou excessiva, em conjunto com uma dieta desequilibrada pode elevar a fração LDL (ruim se exceder o limite) do colesterol do sangue, por possuir além da gordura saudável, uma quantidade significativa de gordura saturada em sua composição”, acrescenta a especialista.
Vale citar que a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) publicou uma nota contraindicando a recomendação do uso do óleo de coco para o emagrecimento. “Além disso, a partir dos Guidelines das Sociedades Brasileiras, Americanas, contra doença cardiovascular, câncer e saúde em geral, a recomendação do consumo de gordura saturada é de até 7% do valor energético total da dieta, ou o mínimo possível. Nesse caso, para utilizar o óleo de coco, a sua fração desse tipo de gordura deve estar dentro da quantidade para cada indivíduo”, explica Inari.
Trecho da nota publicada pela Abeso sobre o óleo de coco:
“Fica claro que, apesar das diversas teorias positivas sobre o óleo de coco, os estudos ainda são escassos e controversos, tanto para o perfil lipídico quanto para o emagrecimento. É importante ter em mente que a gordura saturada do óleo de coco, mesmo que com melhor composição que outras fontes de gordura saturada, deve ter seu consumo restrito. Ainda é válida a recomendação de que uma dieta de alta qualidade para saúde deve limitar a ingestão de gordura saturada (7% do valor calórico total da dieta), substituir gordura saturada por monoinsaturada e poli-insaturada, aumentar o consumo de ômega 3, fibras solúveis, vegetais e frutas. O uso de suplementos a base de óleo de coco está longe de ser um milagre para emagrecer. Certamente seu uso é mais um modismo, sem respaldo científico e que, portanto, deve ser desestimulado.”
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4. Como fazer esta mistura?
Inari explica que ela é feita com 1 colher (de chá) de óleo de coco para 1 xícara de café. “Para obter uma mistura homogênea, é recomendado o uso de um mixer”, diz.
5. Pode ser adicionado açúcar ou adoçante a essa mistura?
Se for para adoçar a bebida, a recomendação é a adição de adoçante do tipo Estévia, em pequena quantidade, de acordo com a nutricionista.
6. Quem deve tomar café com óleo de coco? (para quem costuma ser indicado)
“A recomendação é muito utilizada na linha da Nutrição Funcional, além das recomendações da dieta peleolítica e cetogênica. No entanto, a prática pode fazer parte de uma alimentação equilibrada e balanceada, de quem gostar da palatabilidade e sentir um efeito benéfico em seu organismo. Lembrando que a elaboração de uma dieta equilibrada é feita exclusivamente por nutricionista, e deve ser levada em conta todos os fatores que contribuem”, destaca Inari.
7. Quem não deve tomar café com óleo de coco?
“Pessoas que apresentam hipertensão, colesterol elevado, e uma dieta predominantemente de carne vermelha, embutidos, queijos amarelos, manteiga, ovo, frituras, doces etc. A prática não é muito recomendado para quem tem uma alimentação desequilibrada”, explica a nutricionista.
8. Café com óleo de coco pode engordar (caso seja tomado de forma exagerada)?
Sim. “Vale ressaltar que o óleo de coco é um tipo de gordura, o qual apresenta um elevado valor calórico. Caso seja consumido fora de um contexto saudável e equilibrado, pode promover o acúmulo de gordura corporal”, destaca Inari.
9. Quais são os riscos do consumo em excesso?
“O óleo de coco, além de possuir os ácidos graxos de cadeia média, também possui os ácidos graxos de cadeia longa, ou seja, a gordura saturada, que possui relação com o aumento do colesterol LDL (fração ruim se exceder os valores de referências)”, diz Inari.
“O risco do consumo excessivo é um aumento da gordura abdominal, aumento do colesterol no sangue, aumentando o risco para uma doença cardiovascular (infarto, ACV, placa de ateroma, derrame)”, destaca a nutricionista.
10. Existe um horário mais ou menos indicado para tomar a bebida?
De acordo com a nutricionista, o horário menos indicado é após o treino, ou à noite.
11. Pode-se tomar café com óleo de coco mais de uma vez ao dia?
Depende muito do hábito alimentar de cada indivíduo, de acordo com Inari. “Essa prática é mais segura quando for utilizada em conjunto com uma alimentação com baixo consumo de alimentos calóricos, e que contenham o mínimo possível de gorduras animais e/ou industriais, assim como açúcares e alimentos refinados”, explica.
Para saber a quantidade ideal para cada indivíduo, é recomendado que ele procure um nutricionista.
12. É possível tomar café com óleo de coco em forma de cápsulas?
“Não acredito que seja o mais viável. Em minha opinião, o mais indicado para a prática é para as pessoas que se adaptam bem e acham a bebida palatável, sendo assim, não vejo a necessidade de manipular os compostos. Além disso, acredito que seja instável o conjunto do óleo de coco com a cafeína para serem armazenados em conjunto via cápsula”, explica Inari.
Para finalizar, a nutricionista ressalta que o café com óleo de coco pode ser indicado como uma opção de pré-treino para as pessoas que já estão com uma alimentação adequada, e que gostem do sabor e tenham acesso para isso, dentro da sua rotina.
“A bebida não pode ser chamada de emagrecedora, pois não existem evidências científicas fortes que comprovem isso. No entanto, cada organismo reage de uma forma, cada caso é um caso. Para saber se a bebida é indicada, consulte sempre seu nutricionista”, esclarece.
Então, lembre-se sempre: fuja dos “modismos” e consulte sempre um profissional para saber o que é realmente eficaz ou não para o seu emagrecimento, para um melhor desempenho físico e/ou para a manutenção da boa saúde.
Tais Romanelli
Jornalista formada em 2009 (58808/SP), redatora freelancer desde 2013, totalmente adepta ao home office. Comunicativa, sempre cheia de assuntos para conversar e inspiração para escrever. Responsável no trabalho e fora dele; dedicada aos compromissos e às pessoas com quem convive; apaixonada pela família, por cachorros, pelo lar, pelo mar, por momentos de tranquilidade e também de agito.