Estela Lacerda
Provavelmente, você está sofrendo por causa dela, a ansiedade eleitoral. Pelo nome, parece um mal-estar fake, coisa de meme que nasceu no Twitter, mas o assunto é sério e há profissionais da saúde falando a respeito.
Você tem passado muito tempo em sites de notícias, ou consumindo conteúdos noticiosos por meio das redes sociais, não é mesmo? Tem lido opiniões de especialistas a respeito do segundo turno, acompanhado pesquisas e ficado de olho em quais famosos estão declarando voto para o seu candidato.
Você não tem passado meio dia sequer sem saber algo sobre política, mesmo quando tudo que você queria era estar alienada, não é? Mesmo quando está ali no grupo do “zap” com seus amigos ou no grupo do trabalho, uma ou outra pessoa toca no assunto.
Então, você sai do trabalho, onde provavelmente falou das eleições em algum momento, ou de uma consulta, onde provavelmente passou propaganda eleitoral na tv, e ganha as ruas. Provavelmente, pensa “Ufa! Agora vou para casa relaxar”. Ou “Finalmente, vou encontrar um(a) amigo(a) e desligar disso tudo”. Mais uma ilusão na sua vida de adulto…
Ao andar pelas ruas, vê bandeiras, camisetas, bonés verde-amarelos ou vermelhos por todos os lados. Se, assim como eu, você mora no Sul do país, nunca viu tanto as cores da bandeira por quadra. Até mesmo as lojas estão um misto de verde-amarelo-vermelho, que não sabemos mais se tem a ver com política, Copa do Mundo ou Natal.
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Se senta em um café ou bar com um amigo, vocês fofocam, riem de vocês mesmos, falam de trabalho ou de um relacionamento amoroso, mas, não adianta, logo vem ele. Aquele assunto nosso de cada dia neste mês de outubro: as eleições.
Então, dizem se estão ou não esperançosos, que se indignaram com o parente x ou y, falam que se surpreenderam com o posicionamento de determinada pessoa que já foi muito próxima. Até que se despedem.
Ao tomar o rumo da sua casa, você pode ligar o rádio do carro ou ouvir um podcast nos fones, ou mesmo colocar uma playlist favorita para ouvir enquanto caminha em direção ao seu lar. Mas não adianta! Você vai, de algum modo, associar qualquer coisa que está ouvindo à política – e é inevitável, afinal ela permeia tudo mesmo.
Quando pede um carro por aplicativo, vai rezando com toda a fé que tem ou não tem – porque nessas horas passamos a ter muita -, para seu motorista não dizer “E essas eleições, hein?”, “E esse segundo turno?”.
Se ele toca no assunto, ambos tentam comer a prosa pelas beiradas, que é para não enfrentar aquele desconforto de quando se tem candidatos diferentes. Mas, se por acaso vocês têm a intenção de teclar os mesmos números na urna, o alívio vem e você até relaxa no banco do passageiro, sem medo de ser feliz.
Ao chegar em casa, tomar aquele banho demorado, comer uma refeição gostosa e jogar-se no sofá parece o caminho para a alienação momentânea, que por vezes tanto precisamos. No entanto, começa aquele looping, você consome notícias, lê opiniões, até mesmo os memes estão, de alguma forma, relacionados às eleições.
Quando você se dá conta, já passou duas horas ou mais no celular ou computador apenas consumindo informações – espero que todas verídicas – a respeito do tema e vai tentar dormir com a cabeça pilhada.
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Tem dificuldade para pegar no sono, insiste, mas ainda assim você está mesmo é querendo mandar o número do seu candidato na urna com gosto e logo. Para livrar-se do peso, até mesmo emocional, que estas eleições trouxeram.
Assim, na maior parte do tempo, sobretudo à noite, quando tem horas livres, você está preocupada com o futuro. Tanto em relação aos próximos quatro anos quanto à segunda-feira, que está logo ali. O clima pode pesar, até mesmo nos nossos círculos, quando tivermos um presidente eleito.
Deixa eu te contar, se você está passando por tudo o que mencionei, ou mesmo parte, provavelmente está lidando com a ansiedade eleitoral. Ajuda se eu disser que não é a única? Inclusive, tenho passado dias com bastante oscilação de humor desde o primeiro turno.
Uma amiga, fissurada em política, chama esse distúrbio de “Mal de Brasil”. Pode passar na segunda-feira, ou você pode precisar de um tratamento intensivo, a depender de em quem você vota, quem vai se eleger e como vai lidar com isso.
Queria te dar umas receitinhas caseiras, dessas que são certeiras e quase nos abraçam, mas, nesse caso específico, acredito que cada pessoa tem sua maneira de processar informações e lidar com demandas emocionais.
Penso que a primeira e principal questão é lembrar que nada é mais importante do que sua saúde mental e sua integridade física. Claro que os resultados das eleições podem interferir nisso futuramente. Mesmo assim, você precisa se manter forte e lúcida para lidar com o porvir.
Se passa horas na internet consumindo informação, que tal se desconectar? Nem que seja por um tempo cronometrado. Enquanto isso, faça algo que lhe dê prazer e use esse tempinho para se conectar com você. Algumas opções são cozinhar, exercitar-se, costurar, pintar, escrever, ler, jogar, brincar com os filhos ou com pets etc.
Você também pode buscar o que eu chamo de “Voltar ao lugar de conforto”. Não estou falando de colo de mãe, o que pode ser válido também, mas, por exemplo, de assistir a filmes ou séries repetidos. Ao revermos obras que gostamos, temos lembranças agradáveis, rimos de situações e, o melhor, conseguimos nos desligar do mundo lá fora, mantendo distância da enxurrada de informações.
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Vale dizer que, em casos extremos, afastar-se das redes sociais durante as eleições pode ser uma grande fonte de cura. Mas se, ainda assim, sua ansiedade atinge níveis altíssimos e você não consegue deixar de estar obcecada pelas eleições, a ponto de sentir mal-estar físico, não deixe de procurar ajuda. Um psicólogo ou psiquiatra vai saber te orientar a fim de passar por isso ou até que medicação pode usar.
Por fim, lembre-se que, independentemente do resultado das eleições, um país não cresce e não melhora sem mulheres resistentes como eu, você e todas ao nosso redor. Estejamos inteiras e bem!
Fez Letras, mas se encontrou na área de Comunicação. Mediadora do clube de leitura #LeiaMulheres e autora do livro de poemas 'O rio seco que vive em mim'. Gosta de planta, de bicho e de gente, mas mais ainda de histórias.