COLUNA

Feliz dia dos pais presentes

Dicas de Mulher

O dia dos pais pela ótica do cuidado.

“Cadê o abraço do papai?”

Há tantos pais ausentes que é preciso ressaltar que a comemoração do dia dos pais não é para eles. Como poderia um pai, que não vê os filhos há anos, tocar a campainha de braços abertos aguardando por um sorriso e por um abraço? “Cadê o abraço do papai?” E do outro lado uma criança, talvez assustada, talvez ressentida, talvez esperançosa. É difícil de acreditar que um pai ausente compareça a uma apresentação de escola para ser homenageado por crianças com quem ele demonstra não desejar conviver.

Há pais que escolhem todos os dias por seus filhos e o dia dos pais é o dia deles, assim como é o dia dos avós que cuidam dos seus netos, como é o dia dos padrastos que assumiram seus enteados como filhos, como penso deveria ser o dia das figuras masculinas de cuidado. Quem são os homens que cuidam de você? Acredito que seja muito importante esta pergunta, porque ao falarmos em cuidado automaticamente pensamos em uma figura materna. O imaginário coletivo funciona assim: uma mãe lavando roupas é comum, um pai é “extraordinário”. Uma mãe cozinhando todos os dias cumpre suas obrigações, um pai é “incrível”. Uma mãe cuidando é “o mínimo que ela faz”, um pai cuidando é “o melhor pai do mundo”.

Cuidar é verbo de quem ama. Portanto o amor precisa de tempo para se desenvolver, já que cuidar exige dedicação, constância, presença, energia. E crianças sabem quem as cobre antes de dormir, quem as ampara quando estão doentes, quem as protege quando estão com medo. As crianças podem não saber muito sobre quem está ausente, mas com certeza sabem muito sobre quem está presente.

É preciso ensinar às crianças que o cuidado deve ser, também, uma responsabilidade dos homens. E não bastam palavras, porque os exemplos contrários são muito recorrentes: o pai que chega e espera a janta no sofá, enquanto a mãe cozinha, organiza as mochilas, faz as lições; o pai que pergunta tudo para a mãe: “quantas gotas do remédio?”, “onde fica o sabonete?”, “que dia vai ser a reunião?”; o pai que nunca apareceu e o pai que convive por poucas horas. Para que não haja estranhamento quando um pai realmente assume suas responsabilidades e se dedica às tarefas de cuidado, como é comum as mães fazerem, é preciso de muitos exemplos masculinos de cuidado. É preciso que os homens escolham por se responsabilizar.

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Por enquanto, a paternidade é facultativa, ou seja, os pais podem escolher o quanto de tempo e de dinheiro eles acreditam ser justo dedicarem aos filhos, sem serem verdadeiramente cobrados a considerarem as reais necessidades das crianças. É assim que acontece na prática. As mães não têm outra escolha senão assumirem, mesmo que sozinhas, a totalidade das necessidades das crias. Acaba se tornando algo a se comemorar quando um pai escolhe por cuidar de forma responsável, porque esta escolha é equivalente a ele escolher não se beneficiar em sobrecarregar a mãe de seus filhos. E seria digno que a escolha contrária não pudesse ser feita como amplamente é: pais que escolhem não cuidar, pais que escolhem ser ausentes.

Feliz dia dos pais presentes, dos homens que cuidam, que exercem o trabalho do cuidado, que realizam tarefas de cuidado, que sabem da importância do seu exemplo e da sua presença, que não sobrecarregariam uma mãe para se beneficiar. Sabemos que vocês existem.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Dicas de Mulher.

Carolina Damião é atriz, escritora, produtora e criadora de conteúdo sobre o direito das mães de viverem a vida para além da maternidade. Gosta de pintar murais e de dançar. É mãe-solo e deseja ser feliz no paraíso. Em breve no teatro com o monólogo "Não me chame de mãe".