Guia atualizado sobre como ser mulher em 2024

Não é de hoje que ouvimos, lemos e vivemos regras de comportamento direcionadas às mulheres. Tanto os livros jurídicos quanto os religiosos trouxeram, ao longo da história, a descrição da função da mulher na sociedade, que por um longo tempo esteve ligada à procriação e à maternidade.

Em 1955, a renomada revista Housekeeping Monthly publicou “O guia da boa esposa”. O texto ditava o que a mulher deveria fazer para ser boa com seu marido e filhos. Ser amável, disposta, preparar o jantar, dedicar a vida ao marido e aos afazeres domésticos e até se manter em silêncio eram tarefas cruciais para ser uma boa mulher na década de 1950.

70 anos se passaram e conquistamos inúmeros direitos legais que versam sobre nossa liberdade: de ir e vir, de votar, de divorciar, de viver em segurança. Mas ainda há ditames, manuais e guias de grande sucesso que insistem na permanência de estereótipos que nos aprisionam.

Desafio você a dar um Google na expressão “como conquistar”. Perceba: a primeira opção de busca que aparece é “um homem”. Ou seja, “como conquistar um homem” segue sendo a referência de boa parte das mulheres heterossexuais, pois ser amada por um homem – assim como há 70 anos – ainda é sinônimo de felicidade.

Como eu, reles colunista desta página que vos fala, não posso vencer o machismo que nos ronda há séculos, decidi ir no movimento da maré, mas com meu próprio jeito de nadar. Para o dia 8 de março, escrevi um guia prático sobre como ser mulher. Espero que isso ajude você a viver com alguma projeção de felicidade e sucesso. Meu objetivo é mantê-la segura e livre (dentro do possível), ainda que as tarefas listadas abaixo não sejam tão simples quanto preparar o jantar.

1. Desconfie de tudo

Não assine nenhum papel sem ler antes. Não saia com um homem desconhecido sem mandar a localização para sua amiga. Não aceite propostas de salário sem pensar antes. A chance de te enganarem pelo simples fato de você ser mulher é grande.

Ainda hoje, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), as mulheres recebem salários menores que os homens, exercendo as mesmas funções. Por isso, esteja sempre atenta! Desconfie, pergunte, pesquise – o que nos leva diretamente a segunda tarefa do nosso guia…

2. Estude

Conclua o Ensino Médio. Faça faculdade. Curse uma pós-graduação, se quiser. Leia diariamente. Seja curiosa. Atualize seus conhecimentos. Mas nunca, nunca, nunca pare de estudar.

Minha avó conta que os pais dela não a deixavam ir para a escola, pois, se ela estudasse, acabaria sustentando o marido durante a vida. Hoje, minha avó é uma excelente cozinheira e ótima com contas. Ela poderia ser dona de um grande negócio se não tivesse sido tirada da escola.

3. Ganhe dinheiro (e poupe-o!)

Estudar não nos traz só prazer e conhecimento, esse é o caminho mais firme para você ter grana. Sim, você precisa gostar de dinheiro, mulher! Ele vai comprar seu carro, sua casa, vai bancar suas viagens e te ajudar na criação dos filhos. Vai te dar segurança, conforto e independência.

Fomos ensinadas a gostar de ganhar dinheiro dos outros, a pedir para o pai e para o marido. Mas entenda: o seu próprio dinheiro pode te livrar de grandes problemas no futuro. Planeje-se financeiramente, avalie riscos, mude, busque formas de ganhá-lo. Pare de gastar grana com procedimento estético e invista em um negócio. A mulher que você será no futuro vai te agradecer imensamente por isso.

4. Seja histérica

Os manuais que ditavam o silêncio feminino já não existem mais. Atualmente, há leis de proteção às mulheres, porém tais leis não serão executadas se você não gritar. Surte, grite, faça um escândalo sempre que ultrapassarem os limites do seu corpo e de sua liberdade.

Reivindique um cargo melhor. Deixe os pratos que você vive equilibrando se espatifarem no chão, delegue tarefas, não tente ser boa em tudo. Escolha algo que faz sentido para você e use sua força e sua voz para conquistar isso.

5. Pense sobre a maternidade

Há inúmeras formas de ser mãe. Mães mais novas, mães mais velhas, mães adotivas, mães de pet… Os métodos anticoncepcionais, aliados às técnicas inovadoras da medicina de fertilização e congelamento de óvulos, oferecem algo muito precioso para nós: tempo. Tempo para pensar, para planejar, para calcular se queremos, de fato, colocar um serzinho no mundo.

Ao optar por ter filhos, também entendemos que queremos fazer coisas parecidas ou diferentes das nossas mães. Entendemos que há coisas indelegáveis ao genitor da criança, e que precisamos de maturidade e disposição para enfrentar a maternidade. No final das contas, daremos conta – mas isso não precisa ser um fardo.

6. Cuide da sua saúde física

O seu corpo é a casa que você tem. Pode ser que, em algum momento, ele seja a única coisa que te sustenta. Faça uma atividade física que te dê prazer. Coma aquilo que te nutre.

Ame cada curva, cada marca e cada cicatriz que conta uma história sobre você. Entenda que seu corpo não foi feito para usufruto do outro, mas para sentir os prazeres da vida.

7. Tenha amigas

Troque experiências, fale com mulheres, ame outras mulheres. Elas entendem, no íntimo, as dores pelas quais você passa. Tomar um vinho com uma amiga, fazer um churrasco com seu grupo, ajudar na maternidade daquela sua vizinha… tudo isso vai formando uma teia de proteção e de autovalorização.

Todas as relações envolvem crises, então, priorize resolvê-las com suas amigas. Não as abandone quando se casar, porque, como diz Ana Suy, uma psicanalista que eu adoro, “A amizade é como a gente chama o amor que deu certo”.

8. Seja mulher

Por fim, mas não menos importante, aceite-se. Temos a péssima mania de dizer que “mulher sofre”, acreditamos que menstruar é um fardo, que a menopausa é um castigo, que suportamos mais dores, que somos mais frágeis… Não importa o quanto doa, se você se identifica como mulher, seja uma mulher.

Fale constantemente sobre como é bom conhecer seu ciclo menstrual. Destaque a beleza e a elasticidade do seu corpo. Abuse da possibilidade de se maquiar, de se bronzear, de usar vestido, saia, calça, biquíni ou qualquer coisa que mostre a mulher que está aí. Entenda a beleza de poder amar, procriar, chorar, viver intensamente e da forma como você quiser.

9. Crie seu próprio manual

Este guia é apenas minhas percepções do mundo. Eu não quero ninguém me seguindo, porque eu também não sei muito bem o que estou fazendo. Por isso, use e abuse das minhas ideias, mas elenque seus valores. Entenda o que é importante para você, escreva e siga à risca. Mudar de ideia é possível, e aí você reescreve, retoma a rota, mas nunca deixe de ser fiel a si mesma.

Dadas as dicas, eu espero que você possa seguir sua caminhada com mais segurança. Ser mulher nos dias de hoje não é fácil, mas tem sido cada vez melhor, graças aos questionamentos daquelas que vieram antes de nós. Então, feliz dia! Que neste 8 de março você possa ser o guia das suas próprias escolhas, sorrir apesar das dificuldades e compreender a imensidão de possibilidades dentro do que é ser mulher!