Estela Lacerda
As eleições estão muito próximas e devemos, mais uma vez, escolher quem pode nos representar pelos próximos anos. Há quem ache isso chatíssimo, e talvez seja mesmo. Votar consciente não é uma tarefa fácil, é preciso estudo, análise, atenção. No entanto, acredito que um caminho primordial para confiar nosso voto é pensar em representatividade.
89% das mulheres não se sentem representadas politicamente por homens, conforme uma pesquisa feita pelo Instituto Justiça de Saia, em parceria com a organização Justiceiras, no ano de 2021. De modo geral, o público da pesquisa, composto por mulheres com alinhamento à direita e à esquerda política, sente-se sem apoio e acredita viver em uma sociedade muito violenta e desigual. Qual seria o caminho para mudar esse cenário?
Será que votar em mulher é a resposta, nossa tábua de salvação? Há um forte movimento em prol de mulheres votarem em mulheres neste ano, sobretudo devido à campanha da candidata à presidência Simone Tebet. A questão é se isso resolveria ou não nossos problemas. Eu diria “sim”, mas também diria “não”. Talvez seja melhor um “depende”. Não é tão complicado. Explico!
Não basta eleger uma mulher se, enquanto representante política, ela não se compromete com os direitos da mulher, com nosso bem-estar e qualidade de vida. Isso perpassa diversas áreas, como saúde, educação, trabalho, lazer, meio ambiente etc.
É importante votarmos em mulheres, mas naquelas que trabalham para romper barreiras que nos mantém longe das tomadas de decisões, que esbarram em toda população, tanto em termos de políticas públicas quanto em relação ao modo como a sociedade enxerga a mulher.
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Isso quer dizer que uma mulher na política deve trabalhar para atender não só às demandas das mulheres brancas de classe média ou alta e heterossexuais, mas mulheres pobres, negras, indígenas, LGBTs, PCDs, neurodiversas e demais minorias.
Precisamos de mulheres que abram caminhos para que todas nós possamos caminhar juntas, de modo igualitário, reparando brechas históricas, sociais e culturais. Para tal, é preciso ser não só feminista, mas antirracista, anti-homofobia e anticapacitista.
Desse modo, uma representante política deve ter muita coragem para combater discriminações e pulso muito firme para lutar por nossos direitos, principalmente os sexuais e reprodutivos, para que o Estado não controle nossos corpos e condene nossos comportamentos como imorais ou inadequados.
As mulheres na política somente governam para a totalidade feminina quando ouvem e dão voz aos movimentos sociais, promovem políticas de enfrentamento à violência em todas as suas formas, desenvolvem projetos para tirar as mulheres da pobreza, colocam comida no prato, assinam carteiras de trabalho e têm a educação como base de uma sociedade transformadora.
Além disso, outros pontos importantes são acreditar e investir na ciência e comprometer-se com pautas universais, como as políticas de preservação, manutenção e consciência ambiental. Ciência e meio ambiente são dois fatores que nos alcançam todos os dias, mesmo que não percebamos: da vacinação contra COVID-19, por exemplo, à oscilação de temperaturas, escassez de recursos naturais e espécies em extinção.
Então, ao que devo me atentar ao querer votar em mulheres? Não existe uma resposta exata para essa pergunta, embora eu venha pincelando alguns pontos importantes a considerar. Isso se dá porque depende do quanto você, que lê esta coluna, pensa nas mulheres, iguais, semelhantes e diferentes de si.
Na minha colinha eleitoral constam mulheres e homens, brancos e negros. Pessoas que, a meu ver, buscam uma sociedade igualitária, defendem políticas sociais, direitos das mulheres, são favoráveis à educação, são antirracistas e não silenciam minorias.
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E na sua, quais questões você levou em consideração para escolher um(a) candidato(a)? Pense nisso, se você ainda não decidiu em quem votar. Não esqueça que você deve escolher uma pessoa para presidente da República, governador, senador, deputado federal e deputado estadual.
O momento de promover mudanças está chegando com as eleições, mas, vale lembrar: é só um primeiro passo.
Fez Letras, mas se encontrou na área de Comunicação. Mediadora do clube de leitura #LeiaMulheres e autora do livro de poemas 'O rio seco que vive em mim'. Gosta de planta, de bicho e de gente, mas mais ainda de histórias.