Dicas de Mulher
Entra ano, sai ano e tem certas coisas que parecem permanecer iguais: a sensação de que nosso corpo poderia ser mais magro, mais firme, mais flexível e mais admirado. A gente já sabe que essa pressão estética pelo corpo ideal sequer parte de cada uma de nós individualmente.
O desejo pelo inalcançável (já que até as modelos capas de revista dizem não se sentirem suficientemente atraentes) tem a ver com a construção de uma sociedade que define o que é belo nas mulheres a partir do ponto de vista dos homens. Resultado: somos resumidas a objetos que podem ser moldados de acordo com o gosto alheio.
Por isso fica fácil entrarmos nessa corrida pelo que chamam de corpo ideal sem hesitar. Com isso assumimos o papel de personagens sem vontades próprias e sem o menor controle sobre a imagem que mostramos para o mundo. E, para piorar, ainda que ações como Movimento Corpo Livre e campanhas contra a gordofobia, capacitismo, etarismo e racismo tenham ganhado maior apelo nas redes sociais, parece não haver relação entre curtir um post dizendo “Aceite-se como você é” e olhar no espelho se sentindo empoderada.
Como então fazer com que toda essa linda e inspiradora teoria finalmente seja usada como ferramenta a favor da nossa autoestima? Afinal, não adianta admirar mulheres de corpos “reais” na Internet e se sentir constrangida por ter engordado durante as férias de final de ano.
Para mim existem algumas frentes possíveis. A primeira é questionar quem são essas pessoas que você deseja agradar tanto, a ponto de achar que sua beleza – e existência – precisa ser validada por elas. E se não agradar, o que de tão destruidor seria dito que você não poderia suportar ouvir sem esquecer que o fato de alguém dizer algo não torna aquilo verdade.
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Às vezes, criamos cenários catastróficos na nossa cabeça onde parece que todo mundo sai de casa pronto para acabar com nosso dia. Quando, na verdade, cada pessoa já tem seus próprios fantasmas para lidar. Sem contar que essa é, segundo suas palavras, uma viagem entre amigos. Por definição, essas são as pessoas que te apoiam e enaltecem independentemente daquilo que você tenha ou não a oferecer, quem dirá da numeração do seu biquíni.
O que ocorre, muitas vezes, é que a voz dizendo que não somos bonitas, não somos inteligentes ou não somos dignas de amor vem de nós mesmas. Por isso, quando pensar em confrontar quem julga seu corpo, comece por você. Quem foi que te ensinou a odiar seu corpo? Tem que ensinou a ter vergonha dele? E, principalmente, por que é tão difícil listar o que amamos sobre nossa aparência quando temos tantos elementos que nos tornam únicas, deslumbrantes, atrativas, poderosas e genuínas?
Temos o costume de usar os piores adjetivos, fazendo as descrições mais violentas e desumanas quando estamos falando de quem somos. Depois ainda esperamos que outra pessoa nos convença do contrário. A verdade é que não vamos derrubar o patriarcado a tempo de você aproveitar o verão em paz. Também não é papel nosso convencer quem vive alienado de que o gosto de cada um de nós nos foi ensinado e diz muito mais sobre o que sociedade nos vende do que sobre o que nos interessa de fato.
Mas, não se engane, aparência pode garantir o olhar, mas não garante a permanência de ninguém em nossas vidas. Seja a mulher que, além de exibir seu corpo com orgulho, reconhece que é extraordinária e irresistível, não por se aceitar completamente, mas por ser feliz mesmo assim.
Monique dos Anjos é jornalista, consultora antirracista e escritora de contos eróticos para mulheres. Com 20 anos de experiência na escrita de reportagens sobre o universo feminino, hoje estuda gênero e raça enquanto educa três crianças incríveis que a motivam a reconhecer a felicidade todos os dias e em todas as coisas.