Dicas de Mulher
Sabe aquele relacionamento que não está do seu agrado? Aquela amiga que vem falando e fazendo coisas que te machucam? Até mesmo aquele comportamento do seu colega de trabalho que te deixa nervosa logo às 8 horas da manhã? Em todos esses casos, um diálogo franco pode melhorar as coisas e te dar mais qualidade de vida. Porém, provavelmente, você tem medo de falar sobre o problema diretamente com a pessoa que o está causando.
Como mulheres, fomos educadas para evitar confrontos, para sermos agradáveis e, principalmente, para termos medo de brigas. Talvez isso não seja somente uma questão de educação, mas também tenha a ver com o cuidado da mulher que teme perder o emprego, que sofre abusos cotidianamente em casa, no ônibus e na rua.
É compreensível que tenhamos medo de – literalmente – morrer se enfrentarmos uma pessoa ou situação abusiva. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), atualmente o Brasil está em quinto lugar no ranking mundial de feminicídios. Isso ilustra muito bem o porquê de evitarmos tantas conversas difíceis com homens, especialmente.
Por essas e outras, acabamos pagando um preço alto em nossas relações. Seja com homens, mulheres, filhos, familiares, amigos ou colegas de trabalho, deixar os diálogos complexos de lado pode gerar cenários ainda piores a longo prazo. Por isso, cara leitora, eu acredito que podemos focar muito mais em como dizemos certas coisas, ao invés de simplesmente deixarmos para lá e fingirmos que nada está acontecendo ao nosso redor. O medo é compreensível, mas enfrentá-lo é extremamente necessário para nossa proteção e bem-estar.
Primeiro, é preciso saber se um papo sincero já aconteceu antes, se o problema é recorrente e se, mesmo sabendo que te magoa, a pessoa não busca mudanças. Você já falou sobre isso? Se a resposta for sim, avalie se você foi clara o suficiente e se quer dar chance para uma segunda conversa. Se a resposta for não, saiba que a pessoa que te machuca talvez nem imagine isso, portanto, prepare-se para falar!
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Se você é do tipo que exclui todo mundo que te incomoda para não enfrentar conversas difíceis, talvez seja a hora de compreender o motivo pelo qual cada um está na sua vida. Diálogos sinceros servem para manter e melhorar as relações. Se a pessoa com quem você está em crise não precisa fazer parte da sua vida ou do seu cotidiano, ou se você não a quer manter por perto, então para quê abrir seu coração? Agora, se estamos falando sobre alguém com quem você precisa conviver, ou quer apostar em um relacionamento saudável, prepare-se (de novo!) para falar!
Há uma pergunta do psicanalista Sigmund Freud muito interessante para se fazer quando se precisa resolver algo com alguém: “Qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?” Antes de conversar com alguém, avalie não só o que te desagrada em relação a outra pessoa, mas também se você tem agido de maneira a estimular o comportamento que está te machucando. Quando estamos estressadas “até a tampa” com alguém, é comum sermos grosseiras ou nos afastarmos. Um dos pontos cruciais das conversas difíceis é estarmos dispostas não só a falar, mas também a ouvir o que desagrada o outro. Afinal, toda relação é uma via de mão dupla…
As conversas difíceis não podem acontecer nos momentos difíceis. Elas são mais frutíferas quando estamos estáveis, ponderadas e sem a tensão no ar. Durante uma briga, trazer pontos que estão te desagradando poderá fazer a situação ficar ainda pior. Por isso, não tenha medo de “estragar” um bom momento com um debate. É justamente nos bons momentos que nossos argumentos serão mais frutíferas e bem recebidas pelo outro. Lembre-se: não se trata de estar certa ou errada, mas de um trabalho em equipe para a evolução de uma relação.
Muitas vezes, durante as conversas difíceis, tendemos a acusar o outro: “você fez isso”, “você agiu errado”, “você me magoou”, “você é egoísta”… Quando as coisas ocorrem dessa forma, é natural que não sejamos escutadas, porque o outro entra em uma postura defensiva, já que a conversa parece mais um ataque! Uma das formas de falar para o outro o que você está sentindo sem parecer agressiva é focar sempre no “eu”. Ao invés de dizer “você me criticou”, troque por “EU me senti criticada”, pois às vezes o outro não teve a intenção de te criticar, mas foi assim que você se sentiu. Se, mesmo assim, a pessoa não mudar a postura e não se importar com os seus sentimentos, talvez seja sinal de rever a relação.
Seja em casa, na vida pessoal, no trabalho ou na família, as relações exigem esforços, crises e constantes transformações. As palavras são o caminho para que nós possamos manter em nossa vida aqueles que queremos bem, e que nos querem bem também, convivendo com as diferenças e mudando aquilo que é passível de mudança. As conversas podem ser difíceis às vezes, mas viver uma vida de angústia e sem dizer o que sentimos pode ser impossível e muito mais danoso a longo prazo.
Psicanalista e Palestrante, graduada em Psicologia e em Letras, com Mestrado e Doutorado em Linguística e Pós-Graduada em Sexualidade Humana. Dedica sua carreira ao desenvolvimento de mulheres líderes no trabalho, nos relacionamentos e na vida. É autora do livro "A linguagem da loucura" e empresária, ama comunicação, esportes, viagens e celebrações.