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A disforia de gênero é um incômodo com o próprio corpo, que causa muito desconforto, e pode levar tanto ao autoconhecimento quanto à inquietação. Você já experienciou essa angústia? Confira as explicações de Ana Cláudia Mendes, psicóloga especialista em LGBTQIA+, trisal e não monogamia, bem como os relatos de Cici Cioni, DJ, produtora e estudante de moda.
O que é disforia de gênero?
A psicóloga Ana Cláudia Mendes, que trabalha com o público Queer, afirma que as disforias de gênero são “os ‘incômodos’, angústias e insatisfações que muitas pessoas trans e travestis sentem”. Isso acontece porque características marcantes de um sexo biológico podem aparecer em pessoas com outras identidades de gênero.
Segundo a psicóloga, “além de queixas físicas, a sensação acaba afetando, sobretudo, o psicológico e emocional da pessoa”. Cici sentiu na pele e conta que “é um incômodo muito grande, porque, às vezes, você acaba tentando se encontrar dentro de si mesmo, sabe?”
Mesmo que a própria pessoa sinta o desconforto diante de características normalmente associadas ao masculino ou ao feminino, Cici destaca um ponto importante: “é claro que existem vários fatores sociais, inclusive o preconceito de você ser abordada na rua de forma agressiva”.
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Como saber se o que estou sentindo é disforia de gênero?
Neste momento, você consegue identificar seus sentimentos? Abaixo, confira pontos importantes que permeiam a disforia de gênero. A partir deles, pense sobre a sua vivência.
- Opção pelo crossdessing: vontade de utilizar roupas socialmente estipuladas como pertencente ao gênero oposto ao seu.
- Aflição com a puberdade: com a chegada da puberdade e das características adultas do sexo biológico, a pessoa não consegue se identificar com as mudanças corporais.
- Incômodo com os pelos: a grande quantidade de pelos no corpo, inclusive a barba, pode causar angústias em uma pessoa que não se identifica com o gênero masculino.
- Vontade de esconder os seios: da mesma maneira, os seios grandes estão relacionados ao feminino e, para quem se identifica como homem, eles podem se tornar motivo de ansiedade.
É claro que todo mundo passa por momentos de baixa autoestima e incômodo com o próprio corpo. Entretanto, quando se trata de identidade de gênero e autoidentificação, a disforia faz parte de um processo de (re)conhecimento, perpassando por um caminho de aceitação e cuidado.
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Como lidar com a disforia de gênero?
A DJ Cici experienciou a sensação de desconforto na própria pele e a psicóloga dedicou muito estudo à experiência. Confira as dicas delas para lidar com o sentimento que pode se tornar algo negativo:
- Seja fiel a si mesmo: mesmo que seja um desafio, principalmente com o julgamento do outro, faça aquilo que te deixa confortável consigo e com o próprio corpo.
- Construa uma rede de apoio: a partir da própria experiência, Cici afirma que “o papel da família e dos amigos é dar um suporte, um apoio. Seus amigos, se realmente forem seus amigos, jamais vão deixar de te apoiar”.
- Busque acolhimento: de acordo com Ana Cláudia, a disforia não é um transtorno, contudo pode trazer sofrimento psíquico. Ela indica fazer psicoterapia, pois “pessoas com disforia de gênero podem precisar de uma escuta qualificada e, consequentemente, de acolhimento e estratégias de enfrentamento”.
Como aponta a psicóloga, “não necessariamente toda pessoa trans/travesti quer mudar algo em si”. Muitas vezes, a disforia surge do olhar do outro, do medo de não se encaixar e de sofrer preconceito. Entenda como a transfobia é um comportamento tóxico e prejudicial.
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Caroline Stempniak
Redatora, pesquisadora feminista e futura psicóloga. Gosta de falar de coisa que mexe com a gente e de mexer com gente. Apaixonada pela escrita e pelas diferentes formas de existência. Busca viver e promover a autenticidade de ser.