Sociedade

10 personalidades drag queen para conhecer a arte transformista

Aquaria

Atualizado em 19.05.23
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Com certeza você conhece celebridades como Pabllo Vittar e Gloria Groove. Sabe o que elas têm em comum? Ambas são drag queens, assim como Lua Lamberti, pesquisadora que participou dessa matéria contando mais sobre o universo drag. Para conhecê-lo melhor, siga a leitura!

O que é drag queen?

Lua explora a definição de transformismo sugerida por Miss Draga, travesti e artista drag, como uma linguagem artística que desafia, esgarça e parodia o campo do gênero. Já para Paul Preciado, o transformismo é “um laboratório de experimentações com tecnologias de gênero”. Além disso, Lua apresenta a perspectiva das Boulet Brothers, drag queens, de que “fazer drag é uma forma radical de auto expressão”, ainda afirma gostar dessas definições por serem amplas e plurais.

Lua afirma que “no geral, conhecemos Drag Queens e, quando muito, Drag Kings. Mas o transformismo enquanto campo artístico é muito mais amplo”. Segundo ela, Personas Drag não necessariamente precisam emular ou reproduzir as normas de gênero socialmente estabelecidas, entre o binário homem x mulher.

“Existem Drags barbadas, Kings peitudos, figuras andróginas, antropomorfizadas, fantásticas e fantasiosas, abstratas, caricatas, enfim… tão plural e infinito quanto a subjetividade humana. Até o próprio termo, transformismo, gosto mais do que “Drag”. Porque existem outras manifestações dessa linguagem que não estão dentro do imaginário que costumamos ter, Drags que parecem supermodelos, fashionistas, glamourosas. Pensar pelo transformismo tende a contemplar artistas que dialogam com outros campos, outras estéticas”, complementa Lua.

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A arte drag

“No geral, é uma arte performática de personificação”, indica Lua. Isso significa montar em você uma persona (diferente de uma personagem, porque dialoga muito mais com a sua personalidade e sem muitos compromissos com regras pré estabelecidas, como uma personagem no sentido teatral).

Muitos acreditam que Drag faz parte do teatro ou da performance, e em certa medida está inserida, mas Lua explica que “o transformismo é por si só uma linguagem autônoma. Existem Drags que não apresentam shows e não fazem números e há, também, os projetos de artistas transformistas contando histórias em bibliotecas, fazendo visitas em hospitais, em saraus, cabarés, clipes, séries, filmes e no teatro, na indústria da beleza como maquiadoras, designers, costureiras, e muito mais”.

Lua aponta que todos podem fazer arte drag! Segundo ela, “a ideia de associar Drag com homens gays é errônea, já que sempre foi produzida por pessoas trans e pessoas de gênero não conformes. Até porque, para além do clichê homem vestido de mulher para Queen e mulher vestida de homem para King (que já exclui pessoas trans, por exemplo a Miss Draga, ou eu mesma, que somos travestis, não homens gays, e fazemos Drag), existem personas Drag ou transformistas que borram essas divisões binárias, que flertam com o absurdo, com o terror, com a ficção científica, com as mitologias, com as fantasias medievais, enfim, vai muito além de só ‘parecer mulher’ ou ‘parecer homem’.”

História da arte drag

Existem muitas controvérsias sobre a origem do transformismo. De acordo com Lua “há quem diga que começou em Shakespeare, que indicava quais personagens eram Drag (dressed as a girl, o anagrama, que significava que estaria caracterizado de mulher); Algumas linhas dizem que Drag vem do verbo ‘to drag’, de arrastar, por causa das longas caudas dos vestidos que as transformistas usavam. Outras, ainda, dizem que o termo surgiu derivado de dragon por causa das maquiagens carregadas”.

“O fato é que o que entendemos como transformismo nesse campo mais aberto sempre existiu em muitas culturas e de muitas formas diferentes”, afirma Lua. Além disso, a Drag julga difícil creditar isso a Shakespeare sem levar em conta, por exemplo, que esse era um recurso misógino para impedir mulheres cisgêneras de estarem nos palcos.

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Lua ainda conta que “Drags, artistas transformistas no geral, sempre estiveram. Sempre estivemos. Em militâncias políticas, no entretenimento, na arte conceitual, nas galerias, nos palcos, nos bares, nas sarjetas. E, por causa do caráter subversivo dessa arte, lembrando que até hoje a gente encontra países que criminalizam e violentam tudo que desobedeça às regras binárias de gênero e sexualidade, muito da nossa história é mutilada. Não somos narradas.” Ela ainda chama atenção para a falta de uma disciplina específica de transformismo nas graduações de artes cênicas.

”Muitas figuras Drag são importantes na história, acho perigoso pensar em nomes heróicos, meio que personificando essa linguagem artística em poucos sujeitos, até porque cada artista vai buscar suas referências”, aponta a Drag queen Lua Lamberti. Ela ainda lembra que Drags, no geral, são símbolos marcantes nas paradas do orgulho LGBTQIA+, mudam paradigmas com suas atividades e influenciam o mundo todo, seja na moda, na estética, nos estilos musicais, nas produções cosméticas, midiáticas etc.

Drag no Brasil

Lua ressalta, aqui no Brasil, o grupo Dzi Croquettes. Ela conta que “o que eles fazem não é Drag, da forma hegemônica de entender, mas é essencialmente transformista e tem uma estética muito latino americana”. A drag considera difícil traçar uma historiografia a nível mundial porque a relação artística está em constante negociação com o meio, o período, a cultura e a economia.

Lua ainda completa que “muito da história transformista flerta com a história do teatro, do circo, das artes visuais, mesmo a nível mundial. A cena Club Kid, a cena Ballroom dos Estados Unidos, majoritariamente composta por trans afro latinas, a estética camp, a pantomima, e o burlesco. Tem muita coisa nessa história que a gente não pode esquecer de lembrar!”

Drag e a questão de gênero

Lua conta que o transformismo é feito a partir do acoplamento de próteses de gênero (como a maquiagem, a peruca, um enchimento, o figurino etc), mas não é limitada ao que o gênero designa. “No caso do transformismo, acho que inventa novas formas de ser e estar, sem muitos compromissos com a vida real, podendo expandir esse campo para muito além do binário estático de homem x mulher”, assinala Lua Lamberti. Caso sua dúvida seja em relação às nomenclaturas, confira as definições a seguir sugeridas por Lua:

  • Drag queen: Drag é uma linguagem artística, que nada tem a ver com o gênero ou a sexualidade de quem performa;
  • Transgênero: trans diz respeito aos modos de existência fora da cisnorma, ou seja, da coerência entre genital e gênero;
  • Travesti: essa é uma identidade muito específica da América Latina, da ordem do feminino, mas não afeita aos binários homem x mulher.

Em síntese, drag, ou transformismo, se alimenta das normativas de gênero para produzir formas outras, então é uma relação de retroalimentação em que produz, reproduz e é produzida.

10 drags pelo mundo para conhecer

Agora que você aprendeu mais sobre a arte drag, é hora de conhecer personalidades do transformismo e apoiar o trabalho delas. Bora?

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Lua Lamberti

Nada mais justo do que começar pela entrevistada na matéria, certo? Lua Lamberti é travesti, professora, artista e pesquisadora. Graduada em Artes Cênicas, Mestra e Doutoranda em Educação (UEM), matriarca do coletivo transformista Haus of X (2016), integrante do Grupo Meu Clown (2013), filiada aos grupos de pesquisa NUDISEX (2015) e D.O.B.R.A. (2019) nas áreas de gênero, sexualidades, transfeminismos, performatividades, ludicidade, autoficções e comicidade.

Gloria Groove

Gloria Groove é a drag queen de Daniel Garcia. Hoje, é uma das maiores drags brasileiras! Além de cantora, é compositora e dubladora e está no meio musical há muito tempo.

Dalvinha Brandão

A ativista, pesquisadora, comediante, palestrante, cantora e compositora Dalvinha Brandão é uma drag queen brasileira, representando, hoje, um dos grandes nomes do incentivo ao transformismo no Brasil.

Vander Von Odd

A drag queen, performista, artista visual e cineasta mexicana Vander Von Odd foi a vencedora da primeira temporada de The Boulet Brothers’ DRAGULA.

Juno Birch

A britânica Juno Birch é, além de drag queen, esculturista e youtuber. É conhecida por seus óculos com uma pegada vintage e a pele colorida.

Hugo Grrrl

Que tal conhecer agora um drag king? Hugo Grrrl foi o vencedor da temporada 1 de House of Drag, sendo o primeiro drag king e primeiro homem trans a participar de um reality show drag. Além de transformista, Hugo Grrrl é ainda comediante.

Bianca Dellafancy

Voltando às drags brasileiras, conheça Bianca Dellafancy. Ela é Dj, podcaster, modelo, colunista e faz sucesso em seu canal no Youtube.

The Vixen

A performista americana ficou bastante conhecida por sua participação no reality RuPaul’s Drag Race em 2018. The Vixen é um nome do ativismo contra o racismo e homofobia, e é cofundadora da Black Girl Magic, um show de drags afro-americanas.

Shea Couleé

A drag queen participou da temporada 9 de RuPaul’s Drag Race e venceu a quinta temporada de RuPaul’s Drag Race All Stars. Começou a carreira drag em 2012 e desde então tem ganhado cada vez mais notoriedade.

Haus Of X

Haus of X é uma drag family e coletivo de artistas transformistas composto por Drag Queens, Drag Kings, Drag Queers e Tranimals do qual Lua Lamberti, entrevistada na matéria, faz parte. O coletivo existe desde 2016 e vale a pena conhecer!

A arte drag é muito importante para inúmeras pessoas, por isso merece conhecimento e notoriedade. Afinal, pode ser um meio de encontrar empoderamento e autoestima.

Acadêmica de psicologia apaixonada por todas as formas de se expressar.