Dicas de Mulher
Há algum tempo as pessoas têm apontado como a Kim Kardashian deixou de ser uma mulher curvilínea e tem se assemelhado cada vez mais à estética “heroin chic” dos anos 1990. Não só ela, claro, mas certamente foi uma das mudanças mais drásticas que vimos na mídia. Principalmente em relação ao explante de silicone, que se tornou comum.
A verdade é que o padrão de beleza só existe se for inacessível e os modismos sobre o corpo sempre serão aqueles mais difíceis de atingir. Veja o caso das sobrancelhas: depois de décadas deixando-as fininhas entre 1980 e 1990, nos anos 2000 a moda se tornou tê-las mais cheias. E aí, quem gastou muito dinheiro para retirar os pelos da região lá atrás, começou a ter que fazer micropigmentação e outros recursos para conseguir “recuperar” esses pelos.
Algo semelhante aconteceu com os seios. Se há alguns anos houve o boom do silicone, com mulheres com seios cada vez maiores, depois de um tempo os seios pequenos começaram a ser o novo padrão. E aí, vale passar por uma nova cirurgia e retirar o silicone?
Quando é realmente preciso tirar uma prótese de silicone?
Cada vez mais vemos histórias de mulheres retirando suas próteses de silicone. Não dá para relacionar isso 100% com as mudanças da moda, já que essa segue sendo uma das cirurgias mais feitas no Brasil. Mas é comum os cirurgiões verem mulheres querendo mudar novamente seus corpos.
“O envelhecimento traz outras prioridades, peitos sensuais e grandes não são mais agradáveis, a harmonia não se restringe a colos e exageros e sim ao bem-estar. Então, a retirada de prótese após certa idade não se restringe a modismo e sim a mudanças de valores em certa etapa da vida”, considera Larissa Oliveira, cirurgiã plástica do Hospital Mater Dei Premium de Goiânia (GO).
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Até algum tempo atrás, era comum que a paciente voltasse ao médico uns 10 anos após a cirurgia para trocar sua prótese. “Até então não se sabia a durabilidade da prótese. Mas há vários anos isso já caiu por terra e troca-se a prótese quando nosso peito envelhece e o aspecto visual não nos agrada”, considera a especialista.
Nesses casos, no entanto, vale dizer que pode ser preciso uma cirurgia até maior. “Caso haja sobra de pele e nesses casos as cicatrizes resultantes podem ser maiores. Mas isso é individual e dependente de diversas variáveis (tamanho dos implantes, pele, glândula mamária etc.)”, alerta a cirurgiã plástica Mayara de Castro Nogueira, responsável pelo núcleo de cirurgia corporal da Clínica Facialteam Brasil.
É importante lembrar que existem até casos em que a retirada da prótese ocorre por saúde, mas representam uma minoria, cerca de 1%, como estima Oliveira. “São casos de dor importante sem melhora com analgesia, síndromes reumatológicas manifestadas pela presença do silicone etc.”, enumera.
Outras situações podem acontecer cerca de 10 a 15 anos após a colocação do implante, como a ruptura da prótese ou a contratura capsular, “quando a cápsula que forma em volta da prótese começa a espessar e apertar o implante, causando desconforto, dor e endurecimento da mama”, explica Nogueira
O mais importante, em todo caso, é sempre conversar bem com a paciente. “O cuidado maior que tenho é de evitar extremos, e principalmente, identificar a motivação da paciente, assim, conseguimos minimizar os arrependimentos”, considera Nogueira.
Cuidados com a saúde mental são importantes
Estar exposta a histórias de mulheres alterando tanto seus corpos pode ser danoso para nossa autoimagem. “Quando vemos essas pessoas famosas, o corpo delas acaba sendo também um objeto de trabalho. Então elas vivem em função disso”, considera a psiquiatra Danielle H. Admoni, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
Por isso mesmo, elas conseguem fazer modificações tão rapidamente e de formas até questionáveis. “Mas as pessoas que limpam casa, que cuidam de filho, que tem uma vida que não gira em torno do seu corpo, se sentem meio que na obrigação de conseguir fazer as mesmas mudanças, o que é um peso absurdo”, considera a médica.
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A psicóloga Larissa Fonseca, mestranda em psicobiologia pela UNIFESP e terapeuta clínica há 14 anos, nos lembra que essas celebridades podem ter as próprias questões também com seus corpos. “Não sei o quanto que emocionalmente, não necessariamente ela esteja querendo seguir um culto a beleza e ao corpo, mas sim uma pressão que ela talvez tenha vivido e que ela tem condições financeiras de mudar”, comenta.
Isso não muda o fato, porém, de que esse desejo de fazer igual pode nos fazer mal. “Obviamente isso traz uma pressão de insatisfação com a gente mesmo e gera, sim, transtornos alimentares, depressão e alguns problemas relacionados a questões emocionais e até fisiológicas”, completa a psicóloga.
No final das contas, o que as especialistas nos lembram é que é importante olhar para si mesmo, e entender o que da moda faz sentido com nosso corpo e com quem somos. “Não adianta ficar perseguindo um ideal que não tem nada a ver com o nosso corpo, com o nosso padrão de beleza, com o nosso país”, reforça Admoni. Ou seja, se ter um seio maior é uma vontade profunda sua, não tem porque não fazer!