Sociedade

A colonização ocidental oprime, mas o hijab resiste

Dicas de Mulher

Atualizado em 04.10.23
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O hijab é uma vestimenta que cobre cabelos, orelhas, pescoço e corpo, deixando de fora apenas as mãos e o rosto das mulheres muçulmanas. A peça gera choques culturais e desperta debates, principalmente no mundo ocidental. Por isso, a criadora de conteúdo Fátima Cheaitou e a antropóloga Profa. Dra. Francirosy Campos Barbosa conversaram com o Dicas de Mulher e esclareceram dúvidas sobre o assunto.

O que é o hijab?

Segundo Barbosa, antropóloga pesquisadora das culturas muçulmanas, o “hijab vem do verbo hajaba, ‘aquilo que separa’, entendido como cortina, pois separa uma pessoa da outra em sinal de modéstia, simplicidade, respeito e devoção a Deus”. A peça possui três dimensões: “a primeira é visual, ocultar algo da visão. A segunda dimensão é espacial, separar, marcar a diferença, definir a entrada e o acesso. A terceira dimensão refere-se à ética, à moral e ao campo do proibido”. Desse modo, “podemos pensar o véu como fronteira simbólica que separa o que deve e o que não deve ser visto”.

Geralmente, o hijab é associado ao islamismo, entretanto seu uso possui raízes mais antigas. Cheaitou conta que uma peça parecida era utilizada pelas mulheres judias e cristãs, entre elas, Maria. No Império Islâmico, o uso do véu não era comum até o fim do século X, quando ele foi introduzido à cultura por meio da conquista persa. Diferentemente dos lenços e acessórios ocidentais, essa vestimenta é um símbolo, um código de conduta com diversas interpretações.

O que significa o hijab?

Houve uma época em que o véu era usado somente por mulheres da elite como símbolo de status. Posteriormente, ele foi associado à humildade. Cheaitou explica que o hijab é compreendido como um “mandamento de Deus”. Desse modo, a vestimenta visa “preservar a pureza e a modéstia feminina para que a mulher não seja vista apenas como um corpo”. No Ocidente, muitas vezes, a peça é criticada e considerada opressora. Todavia, é preciso respeitar a diversidade cultural e religiosa, expandir o diálogo, bem como ouvir o que as muçulmanas pensam sobre o assunto. Para muitas, o traje significa um ato político de resistência contra o colonialismo.

Por que o hijab é usado?

As mulheres muçulmanas consideram o hijab um mandamento de Deus. Segundo Barbosa, o uso da peça é baseado em uma surata (espécie de capítulo do Alcorão), “na noite de núpcias de Muhammad e Zenaib, como os convidados estavam demorando para ir embora, ele proferiu: ‘se pedirem às mulheres do profeta qualquer objeto, peçam-no através de uma cortina’ (33:53)”. Cheaitou complementa que a vestimenta é um modo de “agradar a Deus, fazer algo por devoção e seguir os ensinamentos do Alcorão”. Assim, toda vez que uma mulher é vista com o hijab, ela está representando a religião.

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Quem usa o hijab?

O islamismo possui duas correntes: a sunita e a xiita. Cheaitou é xiita, vertente na qual os deveres muçulmanos começam a ser obrigatórios para as meninas a partir dos nove anos, são eles: “rezar, jejuar e usar o hijab”. Já para a vertente sunita, o dever começa com a primeira menstruação. A criadora de conteúdo deixa claro que o uso da vestimenta é uma escolha da mulher. Em suas palavras, “eu sempre falo que quem julga é Deus. Quando a mulher estiver pronta para usar o hijab, ela usará”.

Hijab é opressão?

Apesar de ser um dever, o uso do hijab não deve ser imposto. “Deus criou todos nós com o livre arbítrio, então, a escolha precisa partir da mulher”, esclarece a influenciadora. Para Barbosa, “do ponto de vista religioso, o uso do véu é obrigatório, pois está no Alcorão, mas a decisão não cabe à família. Essa deve ensinar os fundamentos do islamismo, inclusive a importância da vestimenta.

Por fim, é preciso entender que a cultura é cheia de nuances, a religião não prega e não defende a opressão, porém, a sociedade, assim como em qualquer parte do mundo, dissemina o machismo e violências contra a mulher. Então, olhar o islamismo pelo monóculo do Ocidente é muito restritivo e preconceituoso.

Dúvidas sobre hijab

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A concepção de liberdade passa pelo viés da cultura. O diferente causa estranhamento. No caso das mulheres muçulmanas, elas precisam lidar com comentários preconceituosos e intolerância religiosa quando estão no Ocidente. Antes de criticar, vale dialogar, conhecer outras realidades e costumes. Abaixo, Cheaitou esclarece outras dúvidas sobre o hijab:

Dicas de Mulher – Qual é a diferença entre hijab e burca?

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Fátima Cheaitou – o hijab é o mandatório, isto é, cobre tudo e você pode deixar aparecer o rosto e as mãos. A burca é uma peça usada por cima e possui vários tipos.

Qual o objetivo do Dia Mundial do Hijab?

É conscientizar as pessoas sobre o significado do hijab. Para os muçulmanos, usar o véu é agradar a Deus, ser devota e seguir os ensinamentos do Alcorão. A vestimenta também é um símbolo de fazer o bem, olhar para o futuro e para a sociedade, pois, ao usá-la, você está representando a religião.

Existe uma forma certa de usar o hijab?

A maneira correta é cobrir o cabelo completamente, o pescoço e a orelha. No geral, somente o rosto e as mãos podem ficar aparentes.

No Brasil, muitas muçulmanas abandonam o uso do véu por medo e constringimento. O hijab visa não expor a mulher aos olhos dos outros, entretanto, com o choque cultural, acontece o oposto. É preciso parar de suavizar as piadas e brincadeirinhas, pois, na verdade, elas camuflam o racismo e a xenofobia.

Vídeos sobre hijab

O seu feminismo chega à mulher muçulmana? Impor a sua forma de liberdade pode ser uma face da violência. Por isso, é importante estudar sobre o assunto. Nessa seleção de vídeos, você encontrará relatos, explicações sobre o hijab, entre outros conteúdos. Acompanhe!

Uso do hijab dentro e fora do islamismo

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Heba Altabakh fala sobre o uso do hijab dentro e fora da religião muçulmana, além de responder às dúvidas sobre o assunto e apresentar personalidades famosas que seguem a religião.

Burca e os tipos de hijab

Fátima Cheaitou em seu canal no Youtube, Fala Fatuma, explica e coloca referências visuais dos diferentes tipos de hijab. Dessa forma, fica mais fácil compreender a variedade de hijabs existentes.

Começando a usar o véu

Mag Halat compartilha sua história com o hijab. Nascida e criada em uma família muçulmana no Brasil, ela conta que seus parentes não usam o véu no país. Assim, sua decisão foi recebida com receio por medo da recepção preconceituosa. Acompanhe o relato!

Como já mencionado, muitas muçulmanas usam o hijab em um ato de resistência: uma forma de dizer não para a colonização cultural. Elas possuem seus costumes, religião e liberdade. Você pode conversar, trocar experiência, porém jamais decidir o que é certo ou errado. Os direitos das mulheres precisam partir de um movimento que reconhece a pluralidade e as demandas dos diversos grupos, etnias e classe social.

Jornalista e produtora de conteúdo. Fã de cultura POP com interesse em Estudos Culturais, tentando acumular o maior número possível de hobbies nas horas vagas.