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O gênero não cabe dentro de uma caixinha. Entre o feminino e o masculino, há um espectro muito grande que, por muito tempo, não foi discutido no âmbito social, médico, religioso e demais instituições de poder. Atualmente, tanto a orientação sexual quanto a identidade de gênero são pautas urgentes para desconstruir padrões e preconceitos limitadores. A psicóloga Eliane Maio explica os principais termos relacionados ao assunto.
O que é identidade de gênero
Eliane Maio, doutora em estudos sobre gênero e sexualidade, explica que a identidade de gênero “é a percepção que a pessoa possui de si, ou seja, ela pode se identificar com o feminino, masculino, ambos ou nenhum dos dois, independentemente do sexo biológico”.
O que é gênero
Segundo a profissional, o gênero é entendido pela sociedade como o comportamento esperado de alguém com base no sexo biológico. Desse modo, é um conjunto de “construções corporais, sociais e emocionais advindo de processos culturais, históricos, econômicos e religiosos”. Vale ressaltar que esses processos impõem normas a partir do sexo que se define como masculino ou feminino. Em outras palavras, a visão binária reforça o machismo, a desigualdade de gênero e, muitas vezes, perpetua violências.
Identidade de gênero, orientação sexual, sexo biológico e expressão de gênero
Embora todos os termos estejam interligados, há algumas diferenças entre as identidades de gênero, orientações sexuais e outros marcadores identitários. Relembrando, a identidade de gênero é como a pessoa se vê, se expressa e se apresenta para o mundo. Adiante, você conhecerá alguns tipos além do masculino e do feminino. Por agora, a especialista explica os demais conceitos.
Orientação sexual
A orientação sexual diz respeito à atração afetiva e sexual que uma pessoa manifesta por outra. Por exemplo, Luana se identifica como mulher e se relaciona com homens e mulheres. Identificar-se como mulher é a identidade de gênero de Luana; relacionar-se com homens e mulheres é a sua orientação sexual, nesse caso, bissexual. Abaixo, conheça as orientações mais presentes na sociedade:
Relacionadas
- Heterossexual: atração sexual e afetiva por pessoas do sexo e gênero oposto.
- Homossexual: atração afetiva e sexual por pessoas do mesmo sexo e gênero.
- Bissexual: atração por mais de um gênero e sexo.
- Assexual: ausência total ou parcial de atração sexual.
Existem outras possibilidades, como a pansexualidade, que é a atração afetiva e sexual por pessoas independentemente do gênero e sexo. Além disso, uma pessoa pode não sentir atração sexual, mas sentir atração romântica e afetiva.
Sexo biológico
Segundo a psicóloga, considera-se as informações cromossomiais de um ser humano para criar a diferenciação entre o feminino e o masculino. Dessa forma, o sexo biológico é definido com base nos órgãos sexuais, capacidade de reprodução e características físicas. Além disso, é geneticamente possível o nascimento de uma pessoa intersexo, ou seja, apresenta características biológicas, genética ou hormonais que não se enquadram na tipificação de masculino e feminino.
Expressão de gênero
Eliane Maio explica que a expressão de gênero é “como a pessoa se manifesta socialmente”. Esse aspecto está ligado às vestimentas, corte de cabelo, expressão corporal etc. As formas mais conhecidas são a masculina e a feminina, entretanto elas não são as únicas, há a androginia, a drag (queen ou king), entre outras.
Todos os termos são importantes para a constituição do sujeito. Os papeis sociais esperados do masculino e feminino engessam a sexualidade e a identidade de gênero. Assim, o binarismo é excludente, não abraça a diversidade, pelo contrário, limita os corpos e propaga preconceitos.
Tipos de identidade de gênero
Existe uma grande diversidade de termos para abarcar a complexidade das vivências e existências humanas. Antes de tudo, lembre-se que o gênero está relacionado ao sentimento e à expressão de uma pessoa. Abaixo, veja os tipos de identidade de gênero mais conhecidos:
- Cisgênero: a pessoa se identifica com o sexo biológico determinado no seu nascimento.
- Transgênero: a pessoa não se identifica com o gênero imposto em seu nascimento.
- Não binária: a pessoa não se identifica exclusivamente com o gênero feminino e nem com o masculino.
- Agênero: a pessoa se identifica com o gênero neutro ou com a ausência de gênero.
- Gênero fluido: a pessoa vive o gênero de forma fluida, ora se identificando com o masculino ora com o feminino ou com tudo o que transita entre eles.
Viver a singularidade não deveria ser uma luta, mas sim um direito. O Brasil é considerado o país que mais mata transexuais no mundo, marginaliza o diferente e propaga transfobia, homofofia, entre outras formas de preconceito. Assim, o movimento LGBTQIA reúne as pessoas que fogem à heterocisnormatividade, englobando a pluralidade identitária e as diversas orientações sexuais e afetivas.
Como entender a sua identidade de gênero
Eliane Maio defende que tudo seria mais simples “se as pessoas pudessem ser livres, desde o útero praticamente, para se expressarem. A partir do momento em que o sexo biológico é visualizado no ultrassom, há uma formatação da identidade por meio de roupas, brinquedos, mobiliário, forma de se agir com a criança etc”. Desse modo, ela compartilha algumas dicas que podem ajudar quem está em um processo de descoberta de sua identidade de gênero:
- Buscar informação: informe-se sobre as diversas formas de se sentir e expressar. O autoconhecimento começa com a curiosidade, a busca e o desejo de se descobrir.
- Ter uma rede de apoio: busque grupos de diálogos e de estudos. Compartilhar experiências mostra que as vivências são múltiplas, se assemelham e se diferem, lembrando que todas as individualidades são válidas. As trocas ajudam na identificação e compreensão de sentimentos.
- Dialogar com a família: conversar com os familiares sobre sentimentos, sexualidade e identidade de gênero também pode ajudar na autocompreensão.
- Lutar por políticas públicas: é preciso lutar por políticas públicas em diversos setores, como educação e saúde, buscando combater o preconceito e proporcionar qualidade de vida e bem-estar para todas as pessoas.
A profissional destaca que os temas relacionados à identidade deveriam ser abordados desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. Falar de gênero é revelar a pluralidade, desnaturalizar a desigualdade e combater violências. Em uma sociedade ainda muito pautada pela cisgeneridade, o processo de identificação com identidades transgêneras, grandes alvos de preconceito, pode ser solitário.
Caso esteja passando por uma situação que lhe traga sofrimento emocional, a psicoterapia é um lugar seguro de acolhimento, escuta sem julgamento e autodescoberta. Segundo Maio, as pessoas que não aceitam a diversidade também “deveriam procurar apoio para compreenderem seus receios, desfazer preconceitos e aceitar as diferenças”.
Saiba mais sobre identidade de gênero
O lugar de fala é muito importante para conhecer vivências diferenciadas. Por isso, confira uma seleção de vídeos em que pessoas compartilham suas experiências, falam sobre identidade de gênero, processo de autodescoberta, preconceitos, lutas, entre outros assuntos.
Guia básico para identidade de gênero
Para retomar alguns termos abordados no decorrer da matéria, como identidade de gênero, orientação sexual e sexo biológico, assista ao vídeo do Canal das Bee. O assunto é abordado com leveza, didática e descontração.
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As pessoas não merecem viver enclausuradas em aparências socialmente impostas como adequadas. Todas as identidades de gênero são válidas e precisam ganhar visibilidade. A pluralidade LGBTQIA+ mostra que o binarismo está ultrapassado e precisa ser desconstruído.
Victória Vischi
Jornalista e produtora de conteúdo. Fã de cultura POP com interesse em Estudos Culturais, tentando acumular o maior número possível de hobbies nas horas vagas.