No surfe, há uma certeza: você vai cair! Essa é a primeira lição que podemos aprender com Malu Weber, VP de Comunicação da Bayer no Brasil. Entretanto, qual é a relação entre o esporte e o perfil de uma comunicadora? Tudo se encaixa perfeitamente, porém, para compreender, você precisará acompanhar a história da executiva em uma entrevista exclusiva ao Dicas de Mulher.
A paranaense Malu Weber é a vice-presidente na multinacional e da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, a Aberje. Ela também possui um assento no Grupo de Liderança Global da Bayer e integra o Board de Negócios Brasil, chamado de Cluster Leadership Team (CLT), e leciona no Master de Comunicação Transmídia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Em tempo integral, é mãe do Pedro, de 22 anos, e esposa do Celestino.
Além dos títulos, Malu carrega várias honrarias em seu currículo: Troféu Mulher Imprensa (2016), na categoria Assessora de Comunicação Corporativa, quando representava a Votorantim Cimentos; Executiva de Comunicação do Ano (2016), concedido pela Aberje; Prêmio Comunique-se (2018), pois estava entre os 3 executivos mais admirados na categoria Comunicação Corporativa; e foi eleita uma dos 5 executivos mais admirados de Comunicação Empresarial no Brasil pelo PR Scope (2019).
O sucesso é fruto de uma longa jornada, uma filosofia de vida admirável e a garra de uma mulher empoderada que encara ondas dentro e fora do mar. Acompanhe a inspiradora entrevista com Malu Weber.
Muito antes de sonhar em trabalhar na área de Comunicação, Malu Weber se dividia entre as paixões dos pais: o tênis e o ballet. Ela conta que começou muito pequena no esporte, que até hoje é sua grande paixão. “Então, eu brinco que a minha mãe me colocou no ballet e meu pai me colocou no tênis, mas eu comecei a ir bem nos dois. Passei a participar de festivais de dança e de campeonatos de tênis”.
Malu chegou a cursar dança na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC – PR), entretanto acabou indo para a área de Comunicação. “Comecei Jornalismo na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e terminei na Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), porque eu me casei e meu marido foi transferido para lá, em 1990″.
Após um ano morando no interior de São Paulo, Malu começou sua carreira na mídia, como repórter e escuta da polícia, na Gazeta de Bebedouro. De lá, migrou para a reportagem e edição, em seguida, foi para a TV Soares, em Barretos, como apresentadora de telejornal. Durante um tempo, foi correspondente da região interiorana do estado para a Folha de São Paulo e assessora de imprensa de um hotel local.
Quando seu esposo recebeu uma proposta de emprego em Campinas, também no interior de São Paulo, Malu o acompanhou. Não demorou muito, começou a trabalhar na EPTV Campinas, afiliada local da Rede Globo. “Eu apresentava o jornal local, era repórter no final de semana, estava sempre à disposição”. Sua proatividade e desempenho foram o passaporte para a Comunicação Corporativa:
Eu estava entrevistando um gringo e fazendo a tradução simultânea. O presidente da Telia no Brasil viu a entrevista e falou – ‘é dela que a gente precisa!’
– Malu Weber
A Telia (TESS S.A.), uma empresa de telefonia sueca, a atual Claro, chegou ao Brasil no boom das telecomunicações, nos anos 2000. Como a maioria dos executivos falava inglês, a startup precisava de alguém fluente na língua para trabalhar na área de Comunicação. No dia seguinte após a entrevista com tradução simultânea, Malu recebeu uma ligação que mudaria seus rumos profissionais.
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Primeiro, Malu recusou a proposta para trabalhar na Telia. “Eu disse – não, eu quero ir para o Rio de Janeiro, eu quero ir para o Projac”. No entanto, após conversar com o esposo, decidiu aceitar a oportunidade e aprender mais sobre o nicho. Assim, durante dois anos (de outubro de 1999 a outubro de 2001), ajudou a construir a comunicação da companhia. Paralelamente, entrou na Aberje, onde realizou cursos e apresentou sua primeira palestra. “Eu devorava coisas, livros, queria estudar, queria aprender, queria me conectar com as pessoas de outras empresas para ver como faziam o tal do benchmarking (estudo de gestão)”.
Por indicação de um colega, Malu recebeu uma proposta para trabalhar na comunicação do Grupo Votorantim. Na época, seu filho estava com 9 meses, por isso, pensou em recusar. Novamente, o esposo foi o conselheiro da história, e ela decidiu aceitar. Claro, ficou um pouco assustada, pois sabia que o desafio seria grande. Fora de sua zona de conforto, a comunicadora precisou aprender sobre vários setores: cimento, papel, celulose, química, indústria e finanças.
Na casa nova, em novembro de 2001, ocupou o cargo de Gerente Geral de Marca e Comunicação Corporativa. Nos primeiros 12 anos, trabalhou com gestão de crise, marketing institucional, redes sociais e discursos empresariais. A partir daí, realizou um feito visionário para a época: apostou na diversidade e na inclusão. “Eu acreditava que pessoas com opiniões e histórias diferentes traziam inovação para a companhia e muito mais”. Esse olhar pautou sua carreira e concretizou seu sucesso em um ambiente majoritariamente masculino.
Ainda no mesmo grupo, Malu foi convidada para criar a comunicação global de uma empresa filha, a Votorantim Cimentos, que estava em processo de internalização. Assim, de 2014 a 2017, conheceu outras nuances do mundo dos negócios: “foi uma loucura, foi maravilhoso”. Dessa experiência, leva muitos aprendizados:
Me sinto mãe dos valores. Obviamente, com várias outras mães e pais, porque ninguém constrói nada sozinho, mas é um pouquinho de mim que ficou ali e eu tenho muito orgulho, muita honra de poder dizer que eu ajudei na construção dos valores e das crenças de gestão.
– Malu Weber
Entre os valores e propósitos desenvolvidos na empresa filha, estão: o SEREU, que significa solidez, ética, respeito, empreendedorismo e união; e a filosofia de negócio “A vida é feita para durar”, com uma abordagem mais emocional e menos técnica.
A gestão defendida e praticada por Malu é baseada na visão de Leny Kyrillos, autora do livro “Seja Inesquecível: Acabe com o medo, domine a linguagem corporal e verbal e use a neurociência para expressar ideias e encantar qualquer público”. Assim como sua guru, a comunicadora acredita que é preciso unir o efetivo ao afetivo para alcançar resultados excepcionais. Não só a comunicação, mas a vida como um todo é “construir confiança e relações de longo prazo”.
Quando completou 17 anos na Votorantim Cimentos, Malu se viu em um mar previsível. Então, mesmo com todo carinho que ainda tem pela companhia, soube que estava na hora de buscar novos desafios. Em agosto de 2017, o presidente da Johnson & Johnson convidou a paranaense para cuidar da comunicação da marca em toda a América Latina da área de medical devices. “Meus olhos brilharam e, de novo, saí da zona de conforto”.
No cargo de Diretora de Comunicações e Assuntos Públicos para a América Latina, Malu contou com toda a bagagem adquirida ao longo de sua carreira e vida. Entre as funções desempenhadas: desenvolveu a estratégia de comunicação externa da companhia; liderou campanhas inovadoras; e implementou a nova mentalidade e estratégia de comunicação interna. Em 2019, encerrou seu ciclo na empresa, levando consigo muito aprendizado e deixando muitos feitos concretizados.
Em 2020, foi convidada para atuar como mentora da ESPM. Com a flexibilidade de horário devido à pandemia, ela aceitou. Há 2 anos nesse cargo, conta: “cada turma é um aprendizado. Não sou eu que dou a aula. Eu vou lá, compartilho algumas experiências e algumas coisas, algumas provocações, e a gente constrói junto. Então, foi muito legal essa oportunidade”.
No mesmo período em que recebeu o convite da ESPM, Malu fez o processo seletivo da Bayer, “e foi uma grata surpresa”. Como de praxe, seu esposo foi um bom incentivador. “A empresa estava no meio de uma transformação cultural, de processos, de pessoas, de evolução dos negócios, de entendimento do que era prioridade e tudo mais. Isso foi muito legal, pois eles procuravam uma pessoa que tivesse o meu olhar — o olhar de cuidar de gente, de ajudar a fortalecer um time — e, ao mesmo tempo, competência técnica”. Sobre essa experiência, a comunicadora conta:
Tem sido um grande presente, nesses dois anos e meio, estar em uma empresa em que posso ser eu de fato. Sou resultado de muitas transformações. Claro que tive que me reinventar como líder, pois preciso ser aquilo que a empresa e o meu time precisam. Então, sou a soma de toda a minha bagagem, mas também sigo me transformando em função do que é importante para o outro.
– Malu Weber
A trajetória de Malu é marcada por feitos que questionam ideias antigas, o piloto automático e a falta de reflexão. Em sua opinião, uma equipe inclusiva precisa se reinventar constantemente para criar algo maior. No nível pessoal, ela cita a importância de abrir mão das idealizações. “Eu posso ser eu, posso trazer a minha essência, a minha alegria, meu entusiasmo e as pessoas começam a entender que é possível ser sério sem ser sisudo”. Esse é um dos encantos profissionais da comunicadora.
Assim que iniciou sua jornada como Diretora Executiva de Comunicação Corporativa na Bayer, Malu precisou enfrentar uma tempestade. A empresa estava lançando o primeiro Programa de Trainee para Lideranças Negras. Embora a diversidade racial seja uma pauta importante para a companhia, em questão de horas, a ação foi muito criticada nas redes sociais e considerada racismo reverso pelos internautas.
Novata na empresa (apenas 12 dias), porém experiente em gestão, Malu sentou com a diretora de RH e com a diretora jurídica para entender a intenção do programa. Após um alinhamento interno, a comunicadora foi pontual – a companhia precisa se posicionar! Ela ganhou um voto de confiança, lidou com a crise sem abandonar seus valores, prezando pela verdade, e reafirmou sua visão de gestão. Nesse assunto, não há brincadeira, o compromisso é verdadeiro:
Eu tenho um caso de amor com a Bayer. Realmente, estou muito feliz de estar aqui, é uma empresa que fala em paz, é coerente, tem o pé no chão. A gente tem um propósito muito ambicioso: saúde para todos e fome para ninguém. É isso que buscamos, que nos move, que nos faz evoluir e, cada vez mais, ser melhor, porque a gente sabe que tem muito para alcançar.
– Malu Weber
O sucesso atravessa muitas tempestades. No mercado de trabalho, por séculos, a mulher esteve em uma balança bamba inclinada ao sexismo. Entretanto, o cenário está mudando: “há 10 anos, mais ou menos, o público feminino ocupava apenas 7% do conselho de negócios. Atualmente, somos 56%. É motivo de orgulho, de comemoração”.
Ao lado de tantas outras trabalhadoras, Malu é exemplo de liderança, ajudou a construir o percurso, e reconhece: “quando se fala em interseccionalidade e outros indicadores de minoria, ainda há muito para fazer. Estamos em uma jornada consciente, com compromissos, verdade e evidência”. Dizem que após a tempestade, ressurge o sol, então, que o horizonte feminino seja imenso, com lutas, conquistas e revolução.
A boa execução de um movimento define o sucesso do outro – lição básica do surfe. Para chegar onde está, Malu contou com uma rede de apoio muito acolhedora: desde criança, teve o incentivo dos pais; seu esposo é um grande parceiro. Ao se mudar do Paraná, Rose, a ex-babá de Pedro, foi fundamental para que a executiva pudesse maternar e trabalhar.
O amor pelo filho é gigante e chega ao mares. Aos 42 anos, ao lado de Pedro, Malu começou a praticar surfe. Caiu, levantou e não desistiu, até que, um dia, escutou Pedro gritando – “minha mãe tá dropando!”. Foi um dos momentos mais emocionantes da maternidade. Juntos, já surfaram em Jeffrey’s Bay, na África do Sul. “Ele sempre me provocou para começar a fazer coisas”, entre tantas, correr uma maratona e aprender beach tennis. Ama trabalhar, porém não abre mão da família, sua grande equipe.
Hoje, além de se dividir entre o trabalho e a família, Malu busca manter uma rotina de esportes, que vez ou outra fica descompassada, dada a quantidade de atividades de seu dia a dia, como ela conta. Dentre os desportos, ela adora surfar, correr e jogar tênis, mas sem pretensão de ganhar qualquer coisa. Para ela, o que vale é a experiência.
Apesar de em alguns momentos ter de abrir mão de algumas dessas atividades, o que ela não deixa passar de forma alguma é o futebol, de acompanhar seu amado Furacão. E junto a isso, a executiva procura manter-se sempre perto de seus familiares, em contato com os pais e seu irmão mais novo.
Mais uma vez, pontua que para conseguir qualquer coisa em sua vida, contou e segue contando com muitas pessoas:
Hoje eu tenho o maior orgulho do meu time. Eu tenho um time forte, que realmente sabe o que está fazendo, que tem autonomia, para quem eu delego. Então, eu acho que a primeira dica é: tenha um time competente. E aí, de novo, eu escolhi um marido que me apoia, então isso também me ajuda muito. Tive o privilégio de ter uma estrutura de apoio e isso também ajuda bastante.
– Malu Weber
A executiva trilhou uma carreira admirável, cheia de desafios e aprendizados, mas, acima de tudo, mantém seu espírito livre, a mente aberta e os pés no chão. Ela espera que ainda tenha muita coisa por vir, muitas ondas desafiadoras a surfar.
A curitibana que saiu de seu estado para estudar e desbravou o interior de São Paulo junto a Celestino e Pedro, perpassando grandes multinacionais, hoje ainda espera em algum momento realizar o desejo de ser comentarista esportiva, única coisa que acredita que faltou na carreira.
Ela se autodefine – “uma metamorfose ambulante com topete”. O topete não tem nada a ver com arrogância, pelo contrário, é sobre enfrentar os desafios, buscar a transformação e se reinventar constantemente.
Um livro? “Seja inesquecível”, da Leny Kyrillos.
Uma frase? “Não basta competência técnica, é preciso ter competência humana”.
Um medo? Que as pessoas esqueçam que são humanas. Com tanta tecnologia vindo, que elas esqueçam que elas são de carne e osso, que podem errar, que não sabem tudo, que não são super heróis.
Time do coração? Furacão, o Athletico Paranaense.
Uma cor? Branco.
Um prato? Arroz com ovo, bife e batata frita ou strogonoff.
Um sonho? Sonhos em aberto.
Além da família, muitas mulheres inspiradoras foram o norte para a vida pessoal e profissional de Malu.
Entre elas:
E esclarece, aqui, que não incluo minha mãe nesta lista porque não acho justo. Mãe não tem comparação, está acima de qualquer outra mulher – e todo meu respeito e agradecimento à minha que me ensinou, desde pequena, a não desistir nunca: nem do que acredita, nem diante das pedras que sempre aparecem no meio da nossa jornada”.
Ao ser perguntada sobre qual dica ela daria às leitoras, Malu foi consistente: seja humana. “Não perca a sua essência, seja você, porque a gente constrói vínculo construindo confiança e você só constrói confiança sendo você mesma. Esteja sempre disposta a aprender e tenha atitude”. Para a comunicadora, não apenas o que você faz, mas também como faz, definirá a sua vida.
Assim como foi inspirada, Malu é inspiração. Por meio de um gestão humanizada, trabalha contra o capacitismo, luta pela inclusão e defende a importância de uma equipe multigeracional. Pegue essa onda e seja a diferença.
Formada em Jornalismo, é apaixonada por livros e boas histórias (ficcionais ou não). Trabalha com conteúdo e fotografia, e nas horas vagas gosta de ler, escrever e pedalar.