Mayra Aguiar é a primeira brasileira a conquistar três medalhas olímpicas em uma modalidade individual, mas começou sua trajetória em um clube muito tradicional em Porto Alegre e vem se tornando símbolo do esporte feminino no Brasil. Nessa matéria, conheça a história da judoca Mayra Aguiar, veja curiosidades e entenda sua importância.
De Porto Alegre para o mundo
Com interesse nos esportes desde cedo, Mayra Aguiar da Silva nasceu em Porto Alegre, em 3 de agosto de 1991. Incentivada pelos pais, começou a praticar judô aos 6 anos, em simultâneo às aulas de balé. Passou pelas modalidades de ginástica olímpica e natação, mas foi no judô que ela se encontrou. O apoio da família sempre foi a base da atleta, que conta com a participação dos pais na carreira desde o início. Ela e o pai viajaram cerca de 600 km para que ela participasse de uma competição e, quando chegaram lá, não havia adversárias na categoria dela. Em épocas de viagens, a mãe, Leila, coloca bilhetinhos em suas mochilas e malas, com frases para tranquilizar e apoiar a filha nas competições.
Sua primeira competição foi aos 6 anos, terminando em segundo lugar. Competitiva, Mayra chorou muito e os pais até acreditaram que ela não continuaria. Entretanto, o vice-campeonato serviu como aprendizado e aos 8 anos ela passou a treinar no clube esportivo mais tradicional do Rio Grande do Sul, a Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (SOGIPA). Aos 14 anos, profissionalizou-se no esporte e defendeu a seleção brasileira de base. Em 2007, aos 16 anos, integrou a seleção adulta e disputou os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro.
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Trajetória olímpica
Mayra Aguiar disputou sua primeira olimpíada aos 17 anos. Nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008 foi derrotada em sua primeira luta. Em 2010, em seu ciclo olímpico seguinte, conquistou o segundo lugar no campeonato mundial realizado em Tóquio. Além disso, também ganhou medalha de bronze em 2011, na França. No ano olímpico, ganhou o Grand Slam de Judô de Paris e o Pan-americano de Judô. A compatriota Sarah Menezes foi campeã olímpica na categoria até 48 kg, tornando-se a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha de ouro no judô.
Em 2014, tornou-se campeã mundial ao derrotar a francesa Audrey Tcheuméo em Cheliabinsk, na Rússia. No ano seguinte, foi vice-campeã panamericana e do Grand Slam de Abu Dhabi. Já em 2016, às vésperas dos jogos no Brasil, foi bicampeã do Grand Slam de Paris. Nas Olimpíadas do Rio-2016, conquistou sua segunda medalha de bronze ao vencer a cubana Yalennis Castillo.
Mayra iniciou seu quarto ciclo olímpico se tornando bicampeã mundial em 2017, em Budapeste. Levou o ouro nos Jogos Pan-Americanos Lima 2019 e no Grand Slam de Dusseldorf 2019. Em Tóquio, após 16 meses sem lutar e uma operação no joelho, consagrou-se a maior judoca brasileira da história ao faturar sua terceira medalha olímpica seguida. De olho em Paris-24, iniciou seu quinto ciclo olímpico com medalha de ouro no panamericano de judô 2022, um ouro por equipes e uma prata no Grand Slam de Tbilisi, na Geórgia.
Papel importante para as futuras gerações
Para além dos feitos, Mayra Aguiar mostra para as gerações futuras como conseguiu superar as lesões, cirurgias e diferentes obstáculos até chegar ao lugar mais alto do esporte de alto rendimento. “Quero mostrar para elas que eu sou e fui que nem eles. Com sonhos e objetivos, começando cedo também. Mostrar que sou igual, que dá para chegar onde eles querem. Poder passar um pouco do que vivi e das dificuldades, porque elas existem, mas vale a pena continuar”, contou ao jornal GZH.
Além disso, Mayra conta que sabe o peso que é ser um exemplo para diversas atletas, e como isso a impactou quando esteve no lugar delas. A atleta teve a chance de treinar ao lado de seus ídolos, Thiago Camilo e João Derly, no SOGIPA, e sabe o quanto isso a ajudou. Para além do exemplo e da técnica, o importante para ela é não desistir.
10 curiosidades por trás de 3 medalhas olímpicas
Além de judoca, Mayra Aguiar tem seus hobbies que igualmente fazem parte da vida da atleta. Além disso, por trás das suas conquistas existe uma mulher batalhadora, que precisou enfrentar muitos obstáculos até chegar aos pódios olímpicos. Dessa forma, confira algumas curiosidades sobre Mayra Aguiar:
1. Primeiro lugar do ranking mundial da categoria até 78 kg
Após vencer seu primeiro Grand Slam em Paris contra Kayla Harrison, Mayra Aguiar atingiu o lugar mais alto do ranking mundial de sua categoria até 78 kg. Repetiu o feito em 2018 e 2019, permanecendo constantemente entre as 10 melhores atletas do mundo e consequentemente representando o esporte feminino brasileiro.
2. Foi derrotada por Ronda Rousey
Em sua primeira competição na seleção brasileira adulta, Mayra chegou à final e foi derrotada pela futura campeã do UFC, Ronda Rousey. Antes de ir para o MMA, Ronda fez parte da seleção norte-americana de judô e até conquistou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008. Em entrevista a um podcast, Mayra conta que foi uma luta boa, apesar de ter perdido.
3. Já enfrentou 7 cirurgias
A partir de 2013, a judoca passou por constantes lesões e cirurgias. No total, ela precisou fazer sete cirurgias. Em entrevista à TV Globo após vencer sua terceira medalha olímpica, a judoca contou sobre as dificuldades dos procedimentos: “Acho que é a conquista mais importante para mim. Foram difíceis os últimos tempos, bem difíceis, tem que superar, superar de novo e de novo. Não aguentava mais fazer cirurgia, ainda mais no momento que vivemos, tive medo, angústia. Mas continuei. Dar o nosso melhor vale a pena”.
4. Heptacampeã panamericana
Entre os diversos títulos já conquistados, Mayra Aguiar é heptacampeã dos jogos panamericanos de judô. Com domínio total nos anos 2008, 2010, 2012, 2013, 2015, 2019 e 2022, parece que não existe rival ao nível da maior judoca brasileira da história.
5. Melhor Atleta de 2017
O ano de 2017 trouxe muitas conquistas para a carreira da judoca eleita a melhor atleta do ano pelo COB no o Prêmio Brasil Olímpico. Ao lado do tenista Marcelo Melo, Mayra venceu como atleta feminina e foi coroada a melhor atleta do judô, repetindo os feitos de 2010 e 2014. Para completar, seus técnicos na seleção brasileira e no SOGIPA, Mario Tsutsui e Antônio Carlos Pereira, dividiram o prêmio de Melhor Técnico em modalidades individuais.
6. Contou com a ajuda da irmã para vencer a terceira medalha
A preparação para as Olimpíadas de Tóquio-2020 exigiu que técnicos e atletas mudassem suas rotinas de treinos devido à pandemia da Covid-19. Mayra ainda precisou se recuperar de uma cirurgia no joelho e realizar suas atividades em casa. Ela contou com a ajuda da irmã fisioterapeuta, Hellen, para se recuperar e ajudar na questão da preparação.
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7. Treina junto ao noivo
Sorte no amor e no jogo, Mayra conheceu o noivo, Leonardo Lopes, por meio das redes sociais. Ele também é judoca e mudou-se para Porto Alegre para tentar entrar no clube do qual a própria Mayra faz parte. O apoio mútuo é uma característica muito presente no casal, que inclusive treina junto e faz planos de casarem assim que conquistarem suas vagas olímpicas em Paris-2024, ou após faturarem medalhas olímpicas.
8. É fã de biografias
Para ajudar na preparação dos Jogos Olímpicos do Rio, Mayra contou ao Uol que livros, especialmente de autoajuda e biografias, incentivaram a judoca a buscar o melhor de si. A biografia de Steve Jobs e Michael Phelps são algumas que ela já leu. Se pudesse indicar algum livro, seria o de João Derly, seu conterrâneo e ex-atleta do SOGIPA, que, assim como ela, também é bicampeão mundial.
9. “Conquistei três medalhas, mas eu quero o ouro”
A busca pela medalha de ouro é a motivação da atleta. Sua cobrança é pessoal, mas sem aquela competitividade que consome. Mesmo com o ciclo olímpico mais curto, devido ao adiamento dos Jogos de Tóquio, a preparação da atleta será a mesma, visando bons resultados em competições como panamericano, Grand Slams e Mundial.
10. Contrato com SOGIPA até Paris-2024
No Dia Internacional da Mulher, o clube que Mayra defende há mais de 10 anos anunciou a renovação do contrato com a judoca até as Olímpiadas de Paris em 2024. Focada em conquistar a vaga em sua quinta edição de Jogos Olímpicos, Mayra contou a Federação Gaúcha de Judô que se sente muito bem. “Estou forte, feliz e muito motivada. A caminhada é longa e está no começo, mas a construção da próxima medalha olímpica já começou”.
Enquanto Mayra se prepara para sua quinta olimpíada, que tal conhecer mais sobre Rebeca Andrade? A atleta também fez história em seu esporte e trouxe as primeiras medalhas da ginástica olímpica feminina.