Dicas de Mulher
Fundadora da Mazé doces fala sobre erros e acertos em sua trajetória e dá dicas para mulheres que querem mudar de profissão
No Brasil, cresce consideravelmente o número de trabalhadoras domésticas, cuja ocupação é a principal renda para o sustento da casa. Muitas dessas mulheres não trabalham com carteira assinada e, além de não terem proteção trabalhista, ainda recebem 40% a menos. Entre tantas dificuldades, algumas delas precisam buscar outras alternativas, mas não sabem como fazer e nem por onde começar.
Em meio a essa realidade tão árdua, existem histórias de superação como a da ex-faxineira Mazé Lima, que exerceu a profissão durante anos. Mas, como acontece com muitas mulheres, foi demitida após o período de licença-maternidade. Com dois filhos para criar e uma situação financeira difícil, Mazé teve que se reinventar e buscar alternativas. A caminhada não foi nada fácil, mas superou diversos obstáculos e se tornou uma empreendedora bem-sucedida no ramo de frutas cristalizadas, geleias e compotas.
Mazé Lima foi além e lançou o livro Agridoce – O Sabor de Empreender com as Próprias Mãos, em que narra a sua trajetória de vida, as lições que aprendeu ao enfrentar os obstáculos e como é recompensador perseguir um sonho. Em entrevista ao Dicas de Mulher, a empresária fala sobre a sua história e dá dicas para mulheres que desejam se tornar empreendedoras. Confira!
História de Mazé Lima
Maria José de Lima Freitas, a Mazé, é mineira, nasceu e cresceu em um povoado há 7 km de Paiol, Minas Gerais. Ela conta que desde pequena trabalhou na roça ajudando o seu pai na lavoura, mas sonhava em ser bailarina do Bolshoi. “Um dia, eu li uma matéria em uma revista que meu pai trouxe da fazenda de onde trabalhava. Eu vi uma foto linda de uma bailarina, então comecei a ter esse sonho”.
Mazé diz que esse foi o seu sonho mais profundo na infância, além de estudar, sair de Paiol e desbravar o mundo. Entretanto, “o tempo passou e não foi possível, depois eu me casei e fui morar em outra roça, em Ponte Grande”, recorda. A fundadora da Mazé Doces é casada, mãe de dois filhos e fazer doces é um dos seus hobbies preferidos.
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“Quando a gente faz o que ama, não é um trabalho e, sim, uma diversão” – Mazé Lima
Além de produzir doces, sua maior paixão é estar em contato com a natureza, sentir a energia e caminhar entre as árvores. “Sou apaixonada pelas plantas e, se eu não fosse doceira, com certeza, eu seria jardineira, paisagista ou algo envolvido com a natureza e com as plantas. Eu amo muito”, diz.
De faxineira a empresária de sucesso
Mazé conta que quando se casou, foi morar na cidade, mas se sentiu um peixe fora d’água. Foi quando decidiu viver em um rancho em uma lavoura de café que seu marido tinha na roça. O casal ficou ali por dois anos, porém, como não havia infraestrutura na região, as coisas começaram a ficar difíceis e eles voltaram para a cidade.
“Chegando aqui, eu queria muito trabalhar, mas em 1991 era muito difícil a mulher conseguir um trabalho – além disso, eu não tinha estudos e era da roça. Aí eu soube que uma cooperativa de crédito iria abrir uma agência, que hoje é o atual Sicoob. Então eu lutei e consegui o meu primeiro emprego de faxineira e fui muito feliz limpando o chão que todos pisavam.” A empreendedora trabalhou como faxineira por mais de 4 anos até que engravidou do segundo filho e, assim que retornou da licença-maternidade, foi demitida. Com dois filhos para sustentar, em março de 1999, Mazé Lima fez o seu primeiro tacho de doce com a intenção de comprar leite para eles.
“Eu lembro que eu fiz um juramento: eu criaria o meu emprego e muitos outros para minha cidade, eu fiz um tacho de doce e nas ruas ganhei R$ 20. Então percebi que iria mudar a minha vida e eu mudei mesmo, apesar de não ter nenhum conhecimento de negócios” – Mazé Lima.
Como nasceu a Mazé Doces
Assim como tantas outras mulheres que desejam ter o próprio negócio, Mazé não tinha conhecimento sobre empreendedorismo, mas sempre foi curiosa e nunca temeu os desafios. Ela conta que ligou para o Sebrae, que encaminhou informações sobre o assunto para o seu endereço. O Sebrae “indicou um curso na TV que eu assistia às 5h40 da manhã e foi nesse curso que tive o meu primeiro encontro com a palavra empreendedorismo”.
A empresária relata que dias depois recebeu mais informações em sua casa de como montar uma fábrica de doces. “Eu li e reli aquele ponto de partida, não entendia nada, voltei a estudar para entender melhor e também para aprender a fazer contas novamente”. Afinal, “fazia 10 anos que terminei o 4º ano de grupo e já estava com quase 30 e sem prática, então a gente esquece tudo”.
Mas, além de não entender sobre negócios, a empresária não sabia fazer doces e teve que aprender na prática, errando e acertando. Inicialmente, fazia doces de leite e amendoim e ofereceu a um cliente chamado Marco Aurélio. Ele a desafiou a fazer frutas cristalizadas, então Mazé fez o primeiro curso no CEDAF – extensão rural da Universidade Federal de Viçosa e percebeu uma grande oportunidade de negócios.
Desafios, erros e acertos
Agora mais preparada, ainda existia outra questão desafiante para a empreendedora: ela não tinha recursos para montar uma cozinha. Mazé compartilha que conseguiu um empréstimo de R$ 5.000 e levou 5 anos para quitar a dívida. Entre erros e acertos em toda a sua jornada, a empresária acredita que o maior erro foi a falta de planejamento financeiro para abrir o seu próprio negócio.
Em 2010, ela decidiu expandir a Mazé Doces, fazer franquias e abrir lojas em todo o Brasil, mesmo sem suporte. “Então eu ousei e abri uma loja de doces em Divinópolis -a segunda loja da Mazé Doces – mas foi o meu maior erro porque eu não tinha estrutura e uma boa equipe administrativa para me ajudar”.
Assim, ela viajava todos os dias para Divinópolis para resolver problemas da loja. “Com isso fui perdendo o foco e dinheiro e, no Carnaval de 2012, eu fechei a loja e estava falida”, relata. Mas, apesar de considerar essa perda como um erro, Mazé diz que também foi um grande acerto. Pois, ao abrir uma loja em uma cidade grande, as pessoas conheceram os seus doces, a sua história e recebeu reconhecimentos pelo seu trabalho. A empreendedora ganhou o troféu Maria Elvira Fases, da Associação Comercial de Belo Horizonte, o Prêmio Mulher de Negócios e o concurso Cante Sua História, ambos do Sebrae.
“Eu falo que foi tudo junto e misturado, os grandes erros e grandes acertos no mesmo período fizeram a Mazé Doces se sobressair, mesmo diante das adversidades” – Mazé Lima.
Livro: Agridoce – O Sabor de Empreender com as Próprias Mãos
Após fundar a sua marca e se consolidar no mercado de doces, Mazé Lima decidiu escrever um livro para empoderar mulheres e encorajá-las a buscarem o seu espaço no mundo do empreendedorismo. Em 2022, lançou o livro Agridoce – o Sabor de Empreender com as Próprias Mãos, pela editora Almedina Brasil, selo Actual.
“Eu sempre ouvia as pessoas falarem que eu precisava escrever um livro porque eu tinha uma história muito bonita para contar, mas eu nem pensava nisso. Foi quando em 2018, fui fazer uma palestra e lá estava o Diego Trávez, da DMT Palestras”. Ela conta que ele a levou para o time de palestrantes da ABNT e a convenceu a escrever o livro.
Então, em 2019, Mazé começou a escrever a obra e relata ter sido um processo desafiante de resgates, descobrimento e de dor.
“O livro é para as pessoas entenderem um pouco mais como transformar as nossas vidas com coisas simples. Porque a minha trajetória como empreendedora é muito simples, mas mudou a minha vida, dos meus filhos e da minha região para muito melhor” – Mazé Lima.
A empresária fala que os carmopolitanos tem muito orgulho da sua trajetória e que quando uma pessoa faz o que ama consegue transformar a vida das pessoas ao redor. “Sou muito grata a Deus por ter me dado esse dom de fazer doces, por ter a oportunidade de transformar as nossas vidas. Isso me dá muita alegria e contentamento”, informa.
Receptividade do público
Ao escrever um livro, a maior preocupação de um autor é se terá uma boa recepção e com Mazé não foi diferente. Ela queria inspirar pessoas, principalmente em sua cidade, mesmo que fosse apenas uma, mas que o livro transformasse a vida de alguém. Segundo a empresária, o pré-lançamento do livro foi em sua cidade e teve uma ótima recepção. “É uma cidade pequena, mas dezenas de pessoas, amigos e parentes vieram para o lançamento e eu falei: meu Deus, e agora? Como essas pessoas vão receber, será que vão ler o livro?”
Mazé recorda que no dia seguinte, por volta das 8h, ela já tinha relatos de pessoas que viraram a noite lendo o livro e amaram. Ela diz que até hoje recebe mensagens de pessoas dizendo que se inspiraram na sua história. “Eu estou muito feliz em saber que por mais simples que seja o meu livro, está tendo uma ótima receptividade, isso é maravilhoso”.
Planos para o futuro
Desde criança a empresária sempre teve sonhos grandes e extraordinários, como ser bailarina do Bolshoi e distribuir seus doces para o Brasil afora. Mazé conta que, em 2019, ousou a fazer uma black friday ao nível nacional via WhatsApp. Então percebeu que poderia vender doces on-line.
“Eu falo que essa loja na internet é tão legal que a pessoa pode fazer a compra quando quiser, pode ser à noite vestida ou não vestida”. Então para o futuro, Mazé planeja expandir as vendas e transbordar as suas delícias por meio de lojas on-line.
“Para mim, é uma coisa extraordinária e assim conseguimos chegar em muitos locais com um custo bem baixo”, comenta. Dessa forma, a empresária deseja levar os doces para todo o Brasil e se tornar referência na arte de fazer doces artesanais de frutas e sem conservantes.
Dicas da Mazé Lima para mulheres empreenderem
Muitas mulheres desejam trilhar novos caminhos, mas não sabem por onde começar. Seja por questões pessoais ou financeiras, não conseguem sair do lugar e nem mesmo ter um projeto para iniciar. Nesse sentido, Mazé Lima acha que a dica mais importante e nobre de todas é que essas mulheres acreditem em seus sonhos.
“Acredite firmemente em você, nos seus sonhos, trabalhe muito, realize e seja feliz. Então é isso: a dica é simples, mas foi algo que transbordou a minha vida. E eu espero que com essa dica muitas outras mulheres transformem as suas vidas também” – Mazé Lima
A empreendedora recorda que, em 1999, estava trabalhando muito fazendo doces, com dívidas para pagar e adoeceu, chegando a pesar 43 quilos. Além disso, sentia que ninguém acreditava nela, mas, conta que: “mesmo assim, eu estava ali firme, acreditando no meu sonho, no meu propósito de vida e, graças a Deus, eu não desisti. Porque se eu tivesse desistido não estava aqui contando isso para vocês”. Ela enfatiza a importância de não dar ouvidos aos outros, pois isso contribui para qualquer pessoa desistir dos seus projetos.
Erika Balbino
Formada em Letras e pós-graduada em Jornalismo Digital. Apaixonada por livros, plantas e animais. Ama viajar e pesquisar sobre outras culturas. Escreve sobre diversos assuntos, especialmente sobre saúde, bem-estar, beleza e comportamento.