Dicas de Mulher
O tempo é confuso, muitas vezes. Na Psicanálise, dizemos que nossa mente não respeita o relógio, mas funciona de uma forma muito particular, em que os fatos podem se misturar no tempo e podemos nos perder entre passado, presente e futuro. Para além das percepções únicas de cada indivíduo, há algo sobre as mães que muitos de nós pudemos viver e que nos confunde sobre o tempo, os lugares e papeis familiares.
Se você conviveu muito tempo com sua mãe e teve o privilégio de construir uma relação próxima, provavelmente a viu envelhecer. Provavelmente, também a viu perder pessoas. A mãe da sua mãe, a mãe da mãe da sua mãe, os irmãos e irmãs da sua mãe e tantas outras pessoas queridas que partiram, e ela teve de lidar com despedidas menos ou mais dolorosas.
É neste ponto que nossa mãe, muitas vezes, perde aquele poder mágico de dar conta de tudo e se mostra, de alguma forma, frágil demais. Em outros casos, a gente percebe, com o tempo, que ela tem adoecido, a memória já não é mais a mesma e a velhice tem deixado marcas na expressão que a torna quase irreconhecível. Às vezes, é preciso olhar direito e exclamamos sem querer: “como minha mãe envelheceu!” Então, percebemos o tempo passando, mesmo que pareça que foi ontem que ela estava ali, perguntando se você já escovou os dentes antes de dormir.
Um filme que eu adoro – lançado em 2009 com o lindíssimo Brad Pitt, “O curioso caso de Benjamin Button” – trata de um bebê que nasce velhinho e, conforme cresce, vai se tornando mais jovem. No final das contas, a mensagem do filme é clara e real: nosso estado ao nascer e na velhice é muito parecido. Necessitamos de cuidados, atenção, medicação, alimentação, somos dependentes de alguém.
No passado, quando eu dizia que não queria ser mãe, era comum ouvir alguém muito indignado responder: “mas quem vai cuidar de você quando você for velha?!”. É óbvio que filhos não vêm ao mundo para cuidar de seus genitores. Esse não deve ser o motivo de engravidar e colocar alguém neste mundo maluco. Mas, de alguma forma, isso nos lembra que pode ser um privilégio viver tempo suficiente para cuidar de nossas mães.
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O dia em que fui mãe da minha mãe foi quando percebi sua fragilidade. Ela não era tão imbatível quanto eu pensava. Ela errava também. Ela pediu ajuda e me abraçou. Foi então que me vi falando assim, de mulher para mulher, e percebi o quanto somos todas crianças precisando de cuidado. Somos crianças-mães que, na melhor das hipóteses, poderemos cuidar das nossas mães como se fossem bebês, porque isso é o atestado de que tivemos tempo.
Não há mães perfeitas. Não há filhas perfeitas. Ninguém é assim. Mas há relações de crescimento que nos tiram e nos colocam em lugares invertidos para entendermos a fragilidade humana. Neste Dia das Mães, escrevo para aquelas que têm a chance de passar o dia das mães com suas mães-bebês. Que possamos estar atentas às suas fragilidades para exercer o cuidado materno com aquelas que nos maternaram da melhor forma que puderam. Feliz Dia das filhas-mães.
Psicanalista e Palestrante, graduada em Psicologia e em Letras, com Mestrado e Doutorado em Linguística e Pós-Graduada em Sexualidade Humana. Dedica sua carreira ao desenvolvimento de mulheres líderes no trabalho, nos relacionamentos e na vida. É autora do livro "A linguagem da loucura" e empresária, ama comunicação, esportes, viagens e celebrações.