Sociedade

10 mulheres indígenas que são símbolos de resistência

Célia Xakriabá

Atualizado em 08.09.22
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As mulheres indígenas são exemplos quando o assunto é ativismo. Além de lutarem contra as desigualdades de gênero e o machismo, estão à frente de mobilizações que lutam pelos direitos dos povos indígenas, a favor da preservação da floresta e da cultura desses povos. A seguir, confira a história de algumas mulheres indígenas que você não pode deixar de conhecer.

10 mulheres indígenas que você precisa conhecer

As mulheres indígenas dão o nome em prol do ativismo, dentro e fora das aldeias. Elas ocupam os mais diversos espaços, como o Congresso Nacional, conferências internacionais, e palcos de rap. Algumas de suas reivindicações são igualdade de gênero, respeito aos povos indígenas, preservação de terras indígenas, e o fim do genocídio indígena.

1. Sonia Guajajara, ativista (Guajajara/tentehar)

De origem da etnia Guajajara/tentehar, da terra indígena Araribóia, no Maranhão, Sonia Guajajara foi a primeira mulher indígena a disputar a vice-presidência do país, em 2018. Devido à luta pelos povos indígenas, foi eleita uma das pessoas mais influentes na América Latina em 2020.

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Como coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), atua ativamente para defender os direitos de povos indígenas, como demarcação de terras. Além disso, luta pelas mulheres indígenas à frente da Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), composta por mulheres indígenas de todos biomas do Brasil. Em entrevista ao Brasil de Fato, relata
“Ser mulher indígena no Brasil é você viver um eterno desafio, de fazer a luta, de ocupar os espaços, de protagonizar a própria história. Historicamente foi dito para nós que a gente não poderia ocupar determinados espaços”.

2. Katú Mirim, rapper (Boe Bororo)

Katú Mirim é rapper, compositora, YouTuber e ativista, descendente do povo Boe Bororo. Em 2018, levantou a campanha #ÍndioNãoÉFantasia, para chamar a atenção sobre o esvaziamento da história e da cultura indígena nas festas de Carnaval. A música é o seu principal instrumento de luta e ativismo.

As letras de suas músicas abordam ativismos importantes da causa indígena, como demarcação de terras, violência, ancestralidade e a cultura, como neste trecho da canção ‘Xondaria’: “Somos netas das indígenas que vocês não conseguiram matar”. Além disso, ela aborda a importância do respeito às pessoas LGBTQIA+. Katú foi a primeira artista indígena a fazer um show para a marca conhecida internacionalmente, Levi’s.

3. Alessandra Korap, ativista e líder indígena (Munduruku)

Meses após ter a casa invadida e receber ameaças de morte por denunciar atividades ilegais em terras indígenas, a ativista e indígena da tribo Munduruku, Alessandra Korap, recebeu o prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos, um dos mais importantes do mundo.

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Alessandra denuncia há anos o desmatamento ilegal, invasão de terras e atuação de garimpeiros em territórios do povo Munduruku. Atualmente, é uma das vozes no que se refere à luta pelos direitos dos povos indígenas e das mulheres indígenas no país.

Durante a pandemia de covid-19, ela e outras mulheres indígenas criaram ações para proteger os povos indígenas, enquanto lutaram para impedir e denunciar a destruição de suas terras.

4. Graça Graúna, escritora e pesquisadora (Potiguaras)

Foto de: Iris Cruz

Descendente de Potiguaras, Graça Graúna é escritora, professora e crítica literária, além de ser mestre, doutora, pós-doutora e pesquisadora nas áreas de Letras, considerada uma das maiores artistas indígenas do Brasil.

No currículo, ela ainda é membro titular do Conselho de Educação Escolar Indígena do estado de Pernambuco. Entre as obras mais conhecidas, estão “Flor da Mata”, “Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil”, “O Coelho e a raposa” e “Cartas de Ameríndia”, entre muitos outro contos, poesias, crônicas e ensaios.

5. Alice Pataxó, ativista e comunicadora (Pataxó)

Alice Pataxó é uma jovem ativista e comunicadora da etnia Pataxó. Em 2021, ela participou da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP26, e defendeu a preservação das florestas. Ela usa as redes sociais, nas quais tem milhares de seguidores, para falar sobre temas ligados à luta dos direitos indígenas.

Na COP26, Alice foi citada como uma das mulheres com uma das maiores vozes do evento pela, também ativista, Malala Yousafzai, que ficou conhecida no mundo inteiro após ter sido alvo de atentado or defender o direito à educação das meninas no Paquistão. Em entrevista ao portal UOL, diz “Nossas questões não passam apenas pela igualdade de gênero nas aldeias, mas sobre como estamos vulneráveis fora do território, às vezes sem água potável. São coisas que precisam ser discutidas de forma ampla.”

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6. Txai Suruí, advogada e ativista (Paiter-suruí)

Outra personagem que chamou a atenção do mundo durante a COP26 pelo seu discurso a favor da natureza é a jovem indígena Txai Suruí, da etnia Paiter-suruí, filha de uma das lideranças indígenas mais conhecidas do país, Almir Suruí. A mãe dela também é ativista.

Ela é a primeira indígena da etnia a cursar direito, área em que atuará a favor dos direitos humanos. Em 2021, ela criou e coordenou o Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, que reúne líderes indígenas para debater temas como política, crise climática e direitos dos povos indígenas.

7. Putanny Yawanawá, pajé (Yawanawás)

Junto com a irmã, Putanny Yawanawá foi uma das primeiras mulheres da tribo Yawanawás a se tornar pajé. Para alcançar esse feito, ela precisou lidar com o machismo dos homens que não aceitavam que ela poderia se tornar líder, além de ter encarado uma longa dieta rigorosa e isolamento na floresta como parte do ritual.

Por ser mulher, a preparação, que durou cerca de 1 ano, foi ainda mais rigorosa do que a aplicada para os homens. Dentro e fora da tribo, ela atua no resgate e manutenção da cultura, saberes e tradições dos Yawanawás. “Infelizmente, os homens indígenas são muito machistas e nenhuma mulher ousou pisar nesse terreiro sagrado. Mas eu e minha irmã sentimos o chamado e quebramos uma tradição. Foi uma luta, fomos repudiadas e desacreditadas na aldeia”, fala Putanny Yawanawá ao Jornal O Globo.

8. Daiara Tukano, artista e ativista (Yepá Mahsã)

Artista, educadora, ativista e comunicadora, Daiara Tukano é do povo Yepá Mahsã, conhecido como Tukano. Em suas obras artísticas, ela costuma retratar a ancestralidade e saberes indígenas por meio de murais, pinturas e desenhos.

Além de artista, ela desempenha um papel de ativismo em prol dos direitos indígenas, sendo uma liderança conhecida no país. Ela participa dos movimentos indígenas e feministas, além de colaborar com a primeira web rádio indígena do país, a Rádio Yandê.

9. Joênia Wapichana, deputada federal (Wapixana)

Pertencente à etnia Wapixana, Joênia Wapichana foi a primeira mulher indígena eleita deputada federal no país, em 2018. Hoje, é uma das principais vozes brasileiras na defesa dos direitos dos povos indígenas, dentro e fora do Congresso Nacional.

Ela também foi a primeira a ser reconhecida como advogada indígena que atua pelos direitos desse povo. Ela já recebeu diversos prêmios ao longo da sua atuação no ativismo dos povos indígenas, entre eles, o Prêmio de Direitos Humanos das Organizações das Nações Unidas (ONU).

10. Célia Xakriabá, professora e comunicadora (Xakriabá)

Do povo Xakriabá, a professora e comunicadora Célia Xakriabá é uma ativista das mudanças climáticas e da demarcação de terras indígenas. Ela é a primeira da etnia a concluir um mestrado acadêmico e a única indígena a cursar um doutorado.

Ela é apresentadora do podcast “Papo de parente”, onde aborda diversos temas relacionados à cultura e histórias dos povos indígenas. Ele também foi a primeira mulher indígena a fazer parte da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais.

Há outras tantas mulheres indígenas anônimas que realizam trabalhos incríveis e importantes dentro e fora das aldeias em todos o país. Vale a pena pesquisar e verificar se na sua cidade tem algum movimento de ativismo liderado por uma mulher indígena e conhecer as pautas reivindicadas por elas

Feminismo indígena

A criação da primeira organização indígena de mulheres registrado oficialmente no país aconteceu em 1984, com a Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro. De lá para cá, surgiram diversos coletivos que reúnem mulheres que lutam pelas causas indígenas, como as conhecidas marchas composta apenas por mulheres de diversas tribos do Brasil. Apesar de uma passeata de reivindicação de direitos compostas apenas com mulheres, as indígenas buscam muito mais que direitos individuais.

Assim como em outros grupos de mulheres, as indígenas têm particularidades, e que muitas vezes não são abarcadas pelo feminismo tradicional, como a luta pela terra, contra atividades ilegais de garimpeiros e pela preservação da natureza. Além de lutarem pela igualdade de gênero e contra o machismo (dentro e fora das aldeias), elas precisam atuam em defesa do seu território e pela sobrevivência do seu povo.

Em entrevista ao Canal Brasil a antropóloga ativista e indígena Taily Terena explicou que, no feminismo indígena, as questão não são focadas apenas na mulher, mas sobretudo, na luta pela terra. “Conhecendo o feminismo fui pensando o que é isso para a gente. O feminismo não se adéqua tanto na nossa cultura. A gente fala em luta da mulher indígena.(…) mas poder lutar junto pelo bem comum, que é a terra. Lutar junto com os homens, poder dar a nossa contribuição, a nossa visão.”

Para exemplificar um pouco sobre como é a luta da mulher indígena contra o machismo, Tayly Terena também falou como essas mulheres precisam lidar com a objetificação e hipersexualização do corpo por parte de não-indígenas. Eles ocorrerem pela falta de conhecimento sobre a cultura indígena e pelo estereótipo de selvagens perpetuado. Entretanto, isso não acontece dentro das aldeias. Ou seja, elas precisam lidar com questões diferentes dentro e fora das aldeias.

O feminismo indígena é muito mais complexo que apenas alguns parágrafos. Para ter uma melhor compreensão do tema, confira os vídeos abaixo!

Entenda melhor os que as mulheres indígenas pensam sobre feminismo e ativismo

Cada mulher indígena de uma tribo tem suas particularidades relacionadas ao feminismo, ou como algumas gostam de chamar, da luta das mulheres indígenas. Para você poder entender melhor as diferentes visões sobre o tema, nada melhor do que ouvir dessas mulheres o que elas pensam sobre feminismo. Ouça o que elas têm a falar!

Mulheres indígenas e a luta pelos direitos dos povos indígenas

Neste vídeo, feito como um documentário pela ONU, você verá um pouco sobre a importância da articulação das mulheres indígenas em prol dos direitos humanos e justiça para os povos indígenas. Além de entrevistas com algumas das principais lideranças feministas.

Surgimento da Associação das Mulheres Indígenas

A TV Unesp entrevista Jupira Terena, representante da Associação das Mulheres Indígenas, para entender um pouco melhor sobre a criação dessa associação e seus propósitos. Jupira conta também sobre suas viagens ao exterior para buscar ajuda.

Grandes marcos do feminismo e das mulheres indígena

De forma ilustrada, o vídeo apresenta o histórico do feminismo indígena, desde o nascimento até os dias atuais, passando por datas importantes, como o surgimento da Associação das Mulheres Indígenas, em 1980 e a 7ª Grande assembleia das Mulheres Kaiowá e Guarani, em 2019.

O que querem as mulheres indígenas?

Lideranças femininas indígenas falam o que elas querem alcançar por meio do feminismo e quais são as principais demandas do movimento. Veja o que elas têm a falar sobre a luta!

Acompanhe essas e outras mulheres indígenas e entenda o que querem as primeiras habitantes da nossa terra. Mas, além delas, há muitas outras mulheres com histórias inspiradoras, nas mais diferente áreas da sociedade. Que tal conhecer como a presença feminina aparece no empreendedorismo?

Apaixonada por contar (boas) histórias de gente! Estudante do último período de Jornalismo, busco aprender um pouco de cada área da comunicação.