COLUNA

Mulheres na política: por que não chegamos lá?

As eleições de 2024 acabaram e revelaram que ainda somos minoria no poder público

Em ano de eleição, é sempre aquela movimentação. Carros de som, campanhas, pedidos de voto, boca de urna e debates acalorados (teve até surra de cadeira neste ano!) e… resultados desesperançosos para as mulheres. 2024 foi mais um ano político em que o brasileiro vai votar meio cabisbaixo, igual criança indo pro castigo, só pra não ter que justificar e ficar irregular na justiça eleitoral.

Faz tempo que não encontramos nas figuras políticas uma representatividade que mobiliza, inspira e dá esperança. Entretanto, neste ano, ouvi de muitas amigas algo como: “vou votar nela porque ela é mulher”. Tem um sussurro feminino buscando “mulheres para votar”, que represente talvez um bocado de confiança no futuro.

As mulheres fazem a diferença no poder e no voto

Sim, estamos em vias de tomar algumas cadeiras. Já começamos a despontar tanto na candidatura quanto no eleitorado. Nas últimas eleições, tenho visto uma preocupação seletiva dos candidatos com o discurso “para mulheres”, porque entenderam que a gente também vota e faz diferença no resultado, afinal somos mais de 50% da população. Ainda assim, os dados são um pouco desanimadores.

Segundo informações do TSE, nas eleições municipais realizadas em outubro de 2024, as mulheres eleitas para vereadoras representam 18,2%; e apenas 13% das prefeituras terão uma representante mulher.

Por que temos poucas mulheres na política?

Culturalmente, atuar no poder político já ocupa uma ação desdenhosa no Brasil. Discursos contra a conhecida “politicagem” desencoraja pessoas de diferentes gêneros, classes e idades a participarem da representação pública no país. Quando falamos do universo feminino, a coisa vai pior: os próprios partidos não investem adequadamente em candidaturas femininas.

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Mesmo com a cota de 30% de candidaturas dedicadas às mulheres, cota esta estabelecida por lei, muitas vezes, essas vagas são preenchidas de forma simbólica, sem dar apoio real às candidatas – é tipo um “Aham, Cláudia, senta lá!”, sabe? O que é preciso de fato para uma mulher se candidatar? Quais programas de incentivo, redes de apoio, espaços de fala devem ser proporcionados nessa ação? Os partidos do Brasil de forma geral pouco investem nessas pautas. Uma pena, um atraso, uma falta de noção.

Nesse cenário, estamos falando de mulheres que já estão envolvidas com liderança. Ainda há os desafios para que cidadãs integrem o quadro dos cargos políticos. Professoras, profissionais da saúde, comunicadoras, administradoras, profissionais do lar, mulheres de todos os lados, profissões e ocupações precisam se engajar nos temas políticos.

Fato é que essas mesmas mulheres ainda enfrentam desafios como jornadas triplas de trabalho, pouca assessoria para a maternidade, pouco incentivo para terem voz de destaque em palanques. Somam-se a isso as violências de gênero que ocorrem nos contextos de trabalho. Assédio, desqualificação e até ameaças criam um ambiente hostil que desestimula a participação feminina. Basta dar um Google para encontrar inúmeros casos de assédio nos parlamentos. Que mulher em sã consciência vai querer enfrentar esse B.O.? É preciso coragem, vontade, assessoria e um pouquinho de loucura.

Mulheres representam mulheres

São extensos os motivos que constituem empecilho cultural e estrutural para a ausência das mulheres na política. Mas eu, você, todas nós temos pautas importantes para serem discutidas nas nossas cidades, estados e país. Políticas públicas, apoio às creches, serviços de saúde especializados, capacitação profissional, proteção às vítimas de violência doméstica, igualdade salarial, fortalecimento da delegacia da mulher, licença maternidade, direitos reprodutivos, equidade de gênero… ufa!

São muitas as pautas urgentes para nós e, portanto, devemos estar lá para defendê-las. É evidente que não são os homens que vão priorizar a luta pela nossa dignidade, e sim as mulheres. Quais ações deveriam ser tomadas para a consciência disso? O que as escolas, famílias e comunidades têm feito para inspirar mulheres a falar para e pela política? São questões ainda incipientes, tímidas, que precisam ser gritos de mudança em todas as esferas.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Dicas de Mulher.

Psicanalista e Palestrante, graduada em Psicologia e em Letras, com Mestrado e Doutorado em Linguística e Pós-Graduada em Sexualidade Humana. Dedica sua carreira ao desenvolvimento de mulheres líderes no trabalho, nos relacionamentos e na vida. É autora do livro "A linguagem da loucura" e empresária, ama comunicação, esportes, viagens e celebrações.