Dicas de Mulher
Mulheres contam sobre suas vivências diante da situação e ressaltam como o diálogo é importante nesse momento
A vida após um término de relacionamento passa por muitas mudanças, principalmente quando a antiga união gerou frutos. O processo de divórcio não implica apenas na separação legal entre o casal, mas também em uma separação emocional que precisa ser elaborada por todos os familiares envolvidos. E justamente por esse motivo, para muitas mulheres pode ser delicado iniciar uma nova relação.
Uma pesquisa publicada em 2021 pelo aplicativo de relacionamento Inner Circle, por exemplo, aponta que 35,3% das entrevistadas que são mães, sentem grande dificuldade em comunicar aos filhos sobre um novo relacionamento, por receio dos conflitos que essa situação poderá gerar. Além disso, dados da mesma pesquisa mostraram que cerca de ⅓ das mães solteiras entrevistadas preferem esperar mais de 5 anos para começar a se envolver com outra pessoa.
Para entender as implicações e dúvidas a respeito do assunto, o Dicas de Mulher conversou com Fabiana Martins Neves, de 42 anos, Priscila Castelano, de 40 anos e Valdilene Rodrigues, de 25 anos, que passaram pelo processo de separação e estabeleceram novos relacionamentos. Veja a seguir o que elas revelam sobre suas experiências que têm muito a ensinar!
O divórcio e uma nova relação
Como dito no início da matéria, o divórcio é um período de muitas mudanças em todos as áreas da vida. Na vida das mulheres, a readaptação permeia não só as questões emocionais e pessoais, mas também financeiras e maternas, o que muitas vezes pode não abrir espaço para a descoberta de um novo amor.
Sobre isso, as entrevistadas contam que inicialmente, após a separação, não desejaram iniciar uma nova relação. “Não desejava estabelecer um relacionamento com outra pessoa”, afirma Priscila, que revela ainda que demorou para se abrir a essa possibilidade novamente. Valdilene, por sua vez, conta que depois da separação pensou em não ter mais nenhuma relação séria: “eu não me via capaz de assumir algo com alguém e colocar essa pessoa na vida da minha criança”.
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Apesar do posicionamento inicial, o destino revelou novas oportunidades para as três. Fabiana, por exemplo, relata que conheceu a parceira após alugar uma residência para ela: “a gente se tornou amigas e depois começou a se relacionar”. Revela, ainda, que desde o início teve uma boa aceitação de seus filhos e família.
No caso de Priscila, o primeiro contato com atual parceiro ocorreu em um encontro de amigos. No entanto, foi apenas 6 anos depois que se aproximaram pelo Facebook e se encontraram que ela recebeu o pedido de namoro: “depois do evento fomos para a praça, foi onde ele disse que gostaria de namorar e me conhecer melhor. Curto e grosso”.
Valdilene, também afirma que as redes sociais corroboraram para o início do seu novo relacionamento. Ela conta que conheceu seu atual parceiro através das redes, mas relata que o estabelecimento do vínculo não ocorreu de imediato: “demorou um ano para gente começar de fato a se relacionar”.
O diálogo com os filhos e os possíveis conflitos
A boa comunicação entre pais e filhos é sempre bem-vinda e nos casos de um novo relacionamento após um divórcio se torna indispensável. É ela que estabelece sinceridade e confiança em um momento de transição e transformação que é diferente para cada papel exercido no núcleo familiar.
Nesse quesito, as entrevistadas relataram que o bom diálogo resultou positivamente tanto na própria relação com os filhos, como na interação dos parceiros com eles. “Logo quando eu me relacionei com uma mulher a primeira pessoa a saber foi minha filha e sim ela aceitou de boa”, afirma Fabiana.
Valdilene, revela também que quando começou a nova relação, foi explicando aos poucos para o filho, inicialmente retratando o namorado como um amigo. “Quando eu notei que meu filho se sentia mais a vontade e começou a gostar da rotina com ele presente, decidimos falar que a gente namorava”, conta.
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Já no caso de Priscila a comunicação foi diferente e ocorreu na mesma noite em que foi pedida em namoro: “ele chamou meu filho, que já tinha 6 anos, e perguntou se podia me namorar. Meu filho disse que se fosse me namorar, teria que chamá-lo de pai, ele concordou e ficou decidido assim”.
De acordo com as entrevistadas, o diálogo a respeito dos filhos também esteve presente desde o início dos novos relacionamentos, o que colaborou para que a relação da nova configuração familiar não passasse por grandes conflitos. “Não temos conflito, e se tem é normal como toda família tem”, ressalta Fabiana.
Valdilene, por exemplo, conta que o filho desde o início torcia por sua felicidade: “no início ele disse que queria que eu fosse feliz assim como o pai dele, mas ele via que eu não era, que eu sempre chorava e ele gostava te ter meu namorado por perto”, descreve.
Para Priscila a situação é semelhante a das demais, com a diferença de que alguns conflitos familiares surgem por questões como ciúmes: “meu atual marido é um pouco ciumento, tanto comigo, quanto com meu filho, em relação ao ex. Tem conflitos, mas de pai e filho”, comenta.
Dicas para estabelecer a boa comunicação
É fato que não existe a fórmula exata para vivenciar uma situação assim, afinal, cada família terá sua própria dinâmica de funcionamento, bem como os “relacionamentos são pessoais e construídos a partir da subjetividade dos sujeitos”, como afirma a psicóloga Rebeka Santos.
Porém, se existe uma coisa que auxilia nesse processo, sem dúvidas é a comunicação clara e sincera entre todas as partes envolvidas. “Uma relação saudável existe a partir da honestidade. Os pais não precisam mentir ou esconder informações dos filhos e vice-versa. A partir disso, a relação familiar pode se estruturar de maneira autêntica”, ressalta a psicóloga.
A afirmação vai ao encontro do comportamento tomado pelas entrevistadas em relação aos filhos, uma vez que elas optaram pelo diálogo desde o início. Quando questionada sobre a técnica ou método utilizado para conversar com os filhos sobre a nova relação, Fabiana, por exemplo, pontua: “a técnica que usei foi sempre ter união e o ambiente sempre familiar, coisa que no antigo relacionamento a gente não tinha, nem eu e nem meus filhos”.
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Além disso, o diálogo também é fundamental no caso do novo relacionamento ser homoafetivo, uma vez que muitas dúvidas podem ser geradas independente da idade dos filhos. “Precisamos sempre manter uma comunicação respeitosa e oferecer informação com qualidade e acolhimento as dúvidas, inseguranças, medos, entre outros sentimentos e ideias que possam surgir”, afirma a psicóloga, que pontua ainda que toda comunicação deve ser realizada sempre pensando na capacidade de compreensão do seu filho.
O sentimento de pedir autorização dos filhos para um novo relacionamento também é um fator relevante a ser considerado. Segundo Rebeka, apesar dos filhos terem um lugar de prioridade para os pais, “a opinião deles não é o que deve prevalecer na tomada de decisão para iniciar uma relação afetiva”. A profissional explica ainda que é importante “dialogar e levar em consideração o nível de compreensão e o quanto o filho estará disponível para lidar com essa situação”, a fim de acolher os sentimentos dele, mas sem deixar os seus de lado.
A psicóloga também atenta que “não devemos descartar o período de adaptação e formação de vínculo dos filhos com o novo parceiro”, que pode conter conflitos e desavenças. Contudo, ela ressalta que se o momento for vivenciado amigavelmente, com respeito, honestidade e acolhimento, a relação tente a se estabelecer bem, pois “os vínculos surgem a partir da convivência e da liberdade de se expressar”.
Saiba dividir bem o seu tempo
Outra questão que pode surgir e acarretar sofrimento emocional para uma mulher que está pensando em começar um relacionamento ou já começou é a divisão de tempo entre filhos, relação e as demais tarefas cotidianas. Sobre isso, a especialista esclarece que é preciso pensar na vida como uma soma de fatores onde uma relação é apenas mais uma delas. “Um relacionamento saudável acontece quando conseguimos dar a devida importância a cada fator: família, relacionamentos, amigos, trabalho, tempo pra si, etc”, afirma.
Partindo desse pensamento, a psicóloga revela que a preocupação com a divisão do tempo é mais comum do que se pensa e explica o que fazer para melhorar essas questões: “essa situação é desafiadora para todos, não somente quando pensamos em pais separados assumindo novos relacionamentos. Por isso precisamos de um bom planejamento de tempo e autoconhecimento para discernir a importância de cada fator para cada um de nós”.
Dicas pessoais das entrevistadas
Por fim, mas não menos importante, as entrevistadas deixam suas recomendações. Fabiana conclui que: “independente de quem seja, a gente tem que ser feliz e não se importar com a opinião de ninguém”. Para Valdilene, existem alguns passos importantes nesse processo que vão desde a superação do divórcio até conhecer alguns hábitos e comportamentos da pessoa com quem decide começar uma nova relação.
Além disso, ela ressalta que uma de suas metas ao decidir se relacionar com alguém novamente “foi nunca aceitar um relacionamento onde meu filho não aceitasse ou ele não aceitasse minha criança. Eu não poderia viver dividida entre dois mundos”.
Já Priscila, comenta que é fundamental esclarecer muitas coisas para o parceiro desde o início da relação e impor alguns limites, além de “ajudar no processo do filho, e ensinar que deve respeitar a pessoa e te manter informada sobre tudo o que conversam ou acontece”.
Por fim, independentemente da forma como ocorreu a separação e suas novas relações, a psicóloga Rebeka comenta que também é indispensável que os filhos mantenham uma boa relação com os pais. “É importante que a criança saiba do desenrolar das decisões da família, já que ela é integrante desse grupo”, conclui.
Karyne Santiago
Psicóloga apaixonada por literatura e psicanálise. Acredita que as palavras, escritas ou faladas, têm o poder de transformar.