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Neurodiversidade: mulheres mostram a importância de cultivar a diferença

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Atualizado em 11.10.23
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Você já ouviu falar em neurodiversidade? Esse termo se refere à diversidade existente de funcionamento neurológico humano. A psicóloga Mariana de Mello Gusso Espinola, doutora em Tecnologia da Saúde e professora da PUCPR, é especialista no assunto e explica os pontos principais sobre o assunto.

O que é a neurodiversidade

Apesar de a neurodiversidade sempre existir, o termo só foi criado em 1998, pela socióloga Judy Singer, que inicialmente utilizou a palavra em uma de suas teses. Para Espinola, o objetivo é mostrar “que a gente tem uma diversidade de funcionamento neurológico”.

No mesmo ano de criação, o termo já foi popularizado, pois a própria Singer utilizou essa palavra em um artigo do jornal estadunidense The Atlantic, publicado pelo jornalista Harvey Blume. Ele e Singer conversavam bastante sobre o assunto, especialmente a respeito do autismo. Por este motivo, o mês de conscientização da neurodiversidade é em abril.

Mas o que significa ‘diversidade de funcionamento neurológico’? A psicóloga explica que “algumas pessoas funcionam de forma diferente em relação à sociabilidade, aprendizagem, atenção, humor ou outras funções cognitivas”.

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Como explica a doutora, o termo ‘neurodiversidade’ faz parte de um modelo de entendimento que se opõe “ao modelo médico de deficiência, que considera qualquer diversidade como um fenômeno patológico que precisa ser tratado”.

O movimento da neurodiversidade busca aceitação e inclusão das pessoas neurodivergentes, defendendo que se trata de uma diferença humana e não de uma doença que precise ser tratada ou curada. Além disso, entende que “as barreiras sociais são o principal fator que restringem a pessoa com deficiência, e não a deficiência em si”, esclarece Espinola.

O que é uma pessoa neurodivergente?

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A palavra neurodivergente engloba todas as pessoas com funcionamento cerebral variado. Dessa forma, a definição integra uma variedade de pessoas, como as com TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), Síndrome de Tourette, dispraxia, transtorno do espectro autista e outros.

Nesse sentido, Espinola destaca que “todos nós somos diferentes, pois cada um tem suas características: alguns são mais tímidos, outros mais espontâneos”. No entanto, quando se trata de pessoas neurodivergentes, ela explica que “a grande questão é que essas pessoas vão ter uma maneira diferente de lidar com o mundo”.

Essa forma de lidar com o mundo é muito variável, pois todo caso é único. Como ela exemplifica, “alguns deles vão ter mais dificuldade em prestar atenção, já outros vão conseguir prestar atenção até demais”. Ou seja, as características comportamentais são amplas, sendo que “é a maneira peculiar de lidar com as situações é o que mais diferencia esses casos da maioria das pessoas”.

A importância da neurodiversidade

Incluir a neurodiversidade nos mais diversos ambientes é importante tanto para as pessoas neurodivergentes quanto para as pessoas neurotípicas. A psicóloga aponta que “a pessoa neurodivergente vai aprender a lidar melhor com as situações sociais, tendo oportunidade de emprego, direito a educação e ter todos os seus direitos básicos garantidos”. Para as pessoas neurotípicas, a “convivência com a diferença nos faz crescer, estimula nosso cérebro, nos ajuda a encontrar soluções diferentes e sempre nos surpreendemos nesse convívio com o outro”.

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Neurodiversidade nas escolas

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Quando o assunto é ambiente escolar, a profissional coloca que “a pessoa neurodivergente vai ter a oportunidade de aprender de maneira igualitária aos seus amigos e colegas, desenvolvendo também as outras áreas da vida. A parte social, emocional, cognitiva são aprimoradas da mesma maneira como a das demais crianças que são neurotípicas”.

Vale lembrar que a escola não serve apenas para ensinar habilidades relacionadas a conhecimentos acadêmicos, mas também para desenvolver habilidades para a vida em sociedade. Dessa forma, “ao conviver na escola com crianças neurodiversas, a criança neurotípica também vai poder aprender a lidar com o diferente, aprendendo a respeitar, conviver e entender as diferentes expressões que se tem”.

Neurodiversidade nas empresas

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Da mesma forma, a neurodiversidade também é enriquecedora no ambiente de trabalho. Isso porque as pessoas neurodivergentes tem “uma maneira peculiar de encarar o mundo e pensar diferente das neurotípicas pode criar soluções criativas de resolver situações no ambiente de trabalho”. Nesse sentido, as potencialidades diversas das pessoas neurodivergentes podem ser aplicadas de acordo com suas capacidades pessoais.

Por exemplo, por meio do hiperfoco, elas podem se destacar em suas potencialidades, que podem ir desde uma alta potencialidade criativa, grande capacidade de memorização ou até mesmo de resolução de cálculos matemáticos. Desse modo, a especialista sumariza que “eles têm muito a agregar aí no ambiente de trabalho com a sua maneira peculiar de encarar o mundo”.

Deu para entender como a neurodiversidade é importante e beneficia a sociedade como um todo? Continue lendo a matéria para entender como é o cenário da neurodiversidade no Brasil e o que você pode fazer para ajudar a causa.

Cenário brasileiro

A profissional aponta que, “embora no Brasil nós tenhamos diversas leis e iniciativas para melhorar a visão das pessoas neurodiversas, ainda há muito a ser feito”. Isso vai desde a persistência da sociedade em utilizar termos pejorativos para se referir a pessoas neurodiversas até a falta de aceitação em escolas e ambientes profissionais. Mesmo com a Lei n.º 13146, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, essas atitudes insistem em permanecer.

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No estatuto estão definidos “diversos direitos como prioridade no atendimento, inclusão na escola e no emprego da pessoa com deficiência”, cita Espinola. Além disso, ela destaca que a Lei 8213, sendo “a grande responsável por garantir a contratação e inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho”.

Apesar dessa garantia de inclusão, a profissional exemplifica que o transtorno do espectro autista só foi incluído na categoria de pessoa com deficiência devido à Lei n.º 12764, que, em 2019, instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

Assim, ainda que existam “uma série de iniciativas governamentais e não-governamentais, a gente precisa, primeiro de tudo, mudar a nossa conduta e se conscientizar da necessidade dessa mudança”, destaca. Ela cita que “hoje, no Brasil, temos 80% das pessoas com transtorno de espectro fora do mercado de trabalho”. É preciso mudar nosso comportamento para que essa situação seja alterada.

Como exemplo de iniciativa legal de inclusão, ela conta que, no Pará, “nós temos uma lei estadual que garante a sessão azul, que é a sessão de cinema com som mais baixo, uma iluminação constante e que acontece uma vez por mês”. Essa iniciativa torna o ambiente mais acessível para pessoas no espectro autista, por exemplo.

Em Curitiba, ela conta que também acontecem sessões esporádicas com essa acessibilidade. Às vezes, essas atitudes estão presentes em outras atrações culturais, como peças de teatro. Essa acessibilidade não deveria ser algo pontual, pois são modificações importantes para tornar a cultura acessível para as pessoas com neurodivergência.

A potencialidade de neurodivergentes

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Tanto pessoas neurodivergentes quanto pessoas neurotípicas possuem sua própria potencialidade, que é única e diversa. A psicóloga explica que todos têm suas dificuldades e suas potencialidades. Então, “a gente tem que prestar atenção na singularidade daquela pessoa”. As possibilidades são várias e não é possível generalizar as potencialidades de pessoas neurodivergentes, da mesma forma que não é possível fazer isso com pessoas neurotípicas, por se tratar de um grupo muito amplo.

O importante é entender que pessoas neurotípicas conseguem desenvolver suas habilidades porque a sociedade fornece diversos meios que colaboram com essa formação. O mesmo deve acontecer com pessoas neurodivergentes: elas precisam de auxílio especializado e oportunidades para desenvolverem suas capacidades pessoais.

Como apoiar a causa da neurodiversidade

Para apoiar a causa neurodivergente é preciso estar aberto a lidar com as diferenças. A profissional compartilha 5 dicas do que pode ser feito no dia a dia para tornar os ambientes mais receptivos a pessoas neurodivergentes:

  • Falar de claramente: a psicóloga destaca que é muito importante falar de forma clara com pessoas neurodivergentes, porque “muitas vezes essas pessoas têm dificuldade em entender as expressões e figuras de linguagem”;
  • Reduzir estímulos: outra forma de ajudar é “diminuir a quantidade de estímulos no ambiente de trabalho, escola e lazer”, isso porque muitas dessas pessoas possuem hipersensibilidade a barulhos fortes e luzes piscando;
  • Avisar com antecedência a troca de rotina: ela explica que “muitas vezes a pessoa neurodivergente tem um pensamento mais rígido e mudar de rotina é uma coisa difícil”, então avisar com antecedência as mudanças permite que ela se adeque a ideia;
  • Apresentar outras possibilidades: oferecer uma forma para a pessoa neurodivergente sair de um ambiente estressante ou de muito estímulo também pode ajudar. Isso pode ser feito, “por exemplo, no ambiente de trabalho. Dessa forma, o local pode ter a opção de uma reunião on-line ou com possibilidade de sair do ambiente”, detalha;
  • Respeitar e ouvir: é importante deixar claro suas intenções e pedir autorização. “Por exemplo, você não sabe se a pessoa tolera um abraço, então você pode perguntar antes de fazer”.

São ações simples que você pode adotar no seu dia a dia que ajudam a tornar a sociedade mais receptiva a pessoas neurodivergentes. Não se esqueça de ter empatia e colocar essas ações em prática.

10 mulheres neurodiversas para acompanhar

Para ficar por dentro das vivências de pessoas neurodivergentes e entender mais sobre suas individualidades, você pode seguir produtoras de conteúdo nas redes sociais. Veja a seleção de 10 mulheres neurodiversas que você pode acompanhar:

1. Alice Casimiro

Alice Casimiro é escritora e ativista. Ela descobriu que é autista aos 20 anos. Aos 22, também descobriu ter Transtorno de Déficit de Atenção. Formada em Letras, ela escreve textos nas redes sociais para ajudar a se expressar e aproveita a plataforma para falar sobre assuntos relacionados ao autismo.

2. Joyce Marques Luz

A criadora de conteúdo digital Joyce Marques Luz foi diagnosticada com TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) aos 16 anos. Com a piora dos sintomas durante a pandemia, a jovem foi diagnosticada com Síndrome de Tourette, TDAH, FND (sigla em inglês para o Transtorno Neurológico Funcional), além de depressão e ansiedade. Ela usa as redes para falar sobre suas vivências, sempre com bom humor e mostrando suas viagens pelo mundo.

3. Ju Maia

Ju Maia é bióloga e mestranda em neurociência. Ela é autista, TDAH e AH/SD (altas habilidades/superdotação). A bióloga usa sua plataforma para falar sobre esses assuntos, trazendo desde informações para a população sobre pessoas neurodivergentes até dicas para pessoas neurodivergentes. Até porque, a informação também é a chave para construir uma sociedade mais inclusiva.

4. Alice Melo

Alice Melo é autista e usa as redes sociais para falar sobre acessibilidade, cinema e lifestyle. Ela fala da importância de combate ao capacitismo e sobre assuntos como veganismo. Assim, se você gosta desses assuntos, acompanhe suas redes para ficar por dentro de ótimas recomendações.

5. Daniela Sales

Daniela Sales tem 46 anos e é autista. Suas redes sociais são cheias de relatos sobre a sua vida como uma pessoa dentro do espectro autista e é autora do ebook ‘Guia Prático Para Autistas Adultos’. Além de extremamente didática, Daniela conquista seu público devido ao seu tom cheio de humor e carisma.

6. Priscila Sanches

Priscila foi diagnosticada com TDAH aos 30 anos. Em seu canal no Youtube ela conta como aconteceu. Já nas redes sociais, ela compartilha as experiências de uma brasileira morando no Canadá. No seu vídeo, Priscila compartilha que foi importante finalmente descobrir a origem de vários comportamentos dela.

7. Paola

Paola, produtora de conteúdo do canal Palola TV, tem Síndrome de Tourette. Na plataforma, ela busca conscientizar as pessoas sobre esse assunto e aproveita para falar sobre diversos assuntos de seu interesse, como música e jogos. Agora você sabe que conscientizar é uma forma de unir a sociedade para conquistar objetivos, então não deixe de seguir a Paola para se informar sobre as lutas e desafios dos neurodivergentes.

8. Patrícia Mirza

A empresária e especialista em marketing, Patrícia Mirza, tem 30 anos e possui dislexia e TDAH. Ela foi diagnosticada aos 19 e conta em suas redes que isso mudou sua autopercepção, porque ela sofria muito preconceito na infância. Isso acontece por causa da falta de informação e por conta da falta te empatia de uma sociedade que tem dificuldades em aceitar o diferente. Receber o diagnóstico pode ser um alívio para essas pessoas, porque finalmente entendem que o problema não é (e nunca vai ser) elas.

9. Daia

Daia é artista visual e muralista. Ela conta no seu canal do Youtube sobre ter dislexia e ter TDAH. Para além disso, o assunto mais abordado em suas redes sociais é arte e processos criativos. Dessa forma, acompanhe Paola para apoiar o trabalho expressivo que ela faz nos murais.

10. Mundo Autista (Selma Sueli Silva e Sophia Mendonça)

Mãe e filha, Selma Sueli Silva e Sophia Mendonça, começaram o canal Mundo Autista em 2015. Inicialmente para falar sobre a vivência de Sophia, que foi diagnosticada com autismo em 2008, aos 11 anos. Em 2016, Selma também foi diagnosticada dentro do TEA – Transtorno do Espectro do Autismo – e passou a compartilhar suas vivências juntamente com a sua filha.

Confira também essa matéria em que Cacai Bauer fala sobre inclusão e lutas relacionadas a pessoas com Síndrome de Down.

Jornalista e produtora de conteúdo. Fã de cultura POP com interesse em Estudos Culturais, tentando acumular o maior número possível de hobbies nas horas vagas.