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- O que é
- Características
- Impacto social
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- Feminismo
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- Cenário brasileiro
O patriarcado é um conceito que, frequentemente, aparece em debates sobre feminismo. Mas, você consegue reconhecer seus impactos? Nessa matéria, entenda o significado desse termo e veja as marcas que o patriarcado deixa na sociedade.
O que é patriarcado?
O patriarcado consiste em um sistema social em que os homens detêm o poder nas esferas públicas e privadas. Ele é organizado de forma a perpetuar esse protagonismo nas mãos de homens brancos, heterossexuais e cisgêneros, dando a eles privilégios em detrimento dos demais grupos sociais.
Para a professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Fernanda Amorim Accorsi, o patriarcado é um “sistema de dominação mutável, ou seja, ele se reinventa para continuar existindo”. Por isso, este sistema se estabelece em qualquer cultura e suporta quaisquer transformações ao longo dos anos.
“Um exemplo disso é que mesmo diante das conquistas feministas sobre o mundo do trabalho remunerado e a ocupação de espaços públicos, as mulheres não foram libertadas da maternidade compulsória e do trabalho doméstico. Isso acontece porque o patriarcado generifica esse trabalho, associando que este cuidar é uma atribuição cultural destinada às mulheres”, afirma Fernanda.
Vale lembrar que, nesse sistema, a família é uma instituição importante e está no centro das discussões dos papeis sociais de homens e mulheres no mundo contemporâneo.
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O patriarcado ao longo do tempo
Segundo a professora, esse sistema levou mais de 2500 anos para se estruturar. Embora não seja possível afirmar onde surgiu, é possível encontrar os primeiros sinais no Estado Arcaico, no qual “a concepção de cidadania foi articulada de modo que excluísse as mulheres, estabelecendo papeis sociais, valores e costumes baseados na família”.
Na Grécia Antiga, as mulheres atenienses eram excluídas do cenário político. “As mulheres respeitadas eram aquelas que viviam em casa, na mesma medida que os homens respeitados eram os que frequentavam espaços públicos”, exemplifica a docente.
Obviamente o patriarcado não parou em Atenas. Como a professora explicou, esse conceito pode se reinventar. Atualmente, as mulheres podem votar e participar de espaços públicos, mas a relação que a sociedade faz entre o gênero feminino e tarefas domésticas, por exemplo, continua.
“A história patriarcal contou às mulheres que elas deveriam ser responsáveis pela manutenção da família, pelo cuidado, pelo trabalho doméstico e pela procriação. O modo como a família é romantizada, admirada e apresentada convenceu as mulheres de que cuidar de sua manutenção é um ato de amor” e muitas mulheres acreditam nisso.
Por este motivo, “a desvantagem e a marginalização feminina só funciona pois há a cooperação de mulheres na sedimentação do patriarcado”. Até porque, ser dona de casa ou construir uma família não é um problema. O patriarcado se apresenta quando homens e mulheres defendem essas atividades como papeis tipicamente femininos, limitando os desejos e a participação feminina nesse processo de escolha.
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Sintetizando o patriarcado: sinais de uma sociedade patriarcal
Para Fernanda Accorsi, uma sociedade patriarcal pode ser identificada por cinco características que refletem a lógica e o objetivo desse sistema. São elas:
- A mulher genuína é mãe, esposa, heterossexual;
- O trabalho não remunerado das mulheres é apresentado como ato de amor;
- Os homens dominam primeiramente as mulheres, depois outros grupos sociais;
- As mulheres são educadas pelo medo (de não procriar, de não casar, de não conseguir sustento, de serem assediadas, entre outros);
- O corpo da mulher pode sofrer intervenções do Estado e de Instituições (como família, mídia, mercado de estética, entre outros), logo o corpo não é dela.
Depois dessa breve introdução, você também precisa compreender quais são as marcas que o patriarcado deixa na sociedade. Só assim é possível compreender o motivo das lutas feministas contra esse sistema.
Como o patriarcado afeta as minorias
A diferença de direitos entre homens e mulheres constrói um cenário de desigualdade de gênero. A diferença salarial, a dificuldade de entrar e permanecer no mercado de trabalho devido à maternidade, o direito sobre o próprio corpo e a divisão de tarefas domésticas são só algumas das situações diariamente enfrentadas por mulheres.
Violências contra a mulher, como a ocasionada pela cultura do estupro e a violência doméstica também são instrumentos de dominação usados para manter o controle. Além disso, o patriarcado reforça a norma da heterossexualidade e da binaridade como únicas formas “corretas” de relação. Ou seja, homens e mulheres têm seus papeis sociais, orientações sexuais e identidade de gênero definidos por essa estrutura social (e reforçados pela religião e, por vezes, escola e certos nichos da cultura). Opor-se a isto traz consequências.
Assim como as mulheres cisgênero, a comunidade LGBTQIA+ é vítima de violência sexual, violência psicológica, física, política, entre outras. Seus direitos são constantemente questionados e suas questões são invisibilizadas na tentativa de diminuí-los frente aos demais grupos. Isso favorece a homofobia, a transfobia, a ausência de políticas públicas específicas e acesso a direitos básicos.
Tudo isso se relaciona, de certa forma, com o patriarcado, já que essas minorias variadas são vistas como “desviantes” em relação ao que é determinando como “regra”.
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O patriarcado e a masculinidade tóxica
Apesar de todos os privilégios, os homens também são afetados negativamente pelo patriarcado. A masculinidade é construída em cima de comportamentos e valores que exaltam a virilidade. A prática de esportes, a defesa da honra, comportamento agressivo, o interesse por mulheres e certos padrões em relação à aparência masculina são alguns exemplos.
Comportamentos que fogem dessa visão de masculinidade são considerados “femininos” ou “feminilizados” e homens que não as possuem são vistos como “menos homens”. A masculinidade tóxica destrói as relações sociais e põe em risco a mulher, que costuma ser o alvo primário do comportamento agressivo e, muitas vezes, abusivo e desrespeitoso com ela.
Mas, ao mesmo tempo, também põe em risco o homem, bem como sua saúde física e mental, já que, entre as representações de força e masculinidade, também estão a não necessidade de cuidados. Nesse sentido, a porcentagem de homens que fazem exames preventivos e exames de rotina é muito menor do que a de mulheres. O mesmo se repete em relação à quantidade de homens e mulheres que buscam terapia. Em 2018, por exemplo, cerca de 82% das mulheres procuraram algum tipo de terapia, enquanto apenas 69% dos homens entrevistados fizeram o mesmo, de acordo com o relatório da Pesquisa Nacional de Saúde.
Homem, quantas vezes você teve que agir de uma forma que não queria, só para aquele seu amigo ou parente não te criticar? Isso acontece porque a sociedade também cobra certos valores no gênero masculino.
O papel do machismo
A professora Fernanda Amorim Accorsi explicou que o machismo é o modus operandi desse sistema. É por meio dele que essa estrutura social funciona e se mantém. Mas em geral, o machismo não atua sozinho. Ele é acompanhado de atitudes e falas misóginas e sexistas, reforçando as diferenças e diminuindo a importância de certos grupos sociais. Ele também ajuda na manutenção do perfil ideal de masculinidade, contribuindo para a masculinidade tóxica.
Para fins didáticos de diferenciação, podemos dizer que o machismo é um tipo de pensamento, enquanto o patriarcado é toda uma estrutura social. Ou seja, o patriarcado se mantém pelo machismo, mas também o retroalimenta. Impedindo a disseminação do pensamento machista, contemos o patriarcado e, reestruturando o patriarcado, evitamos a reprodução do machismo. É uma via de mão dupla.
O feminismo no patriarcado
O feminismo contesta a lógica de subserviência imposta por esse sistema e luta pelo fim da violência contra a mulher. Além disso, o movimento reivindica oportunidade, participação política e igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Este movimento é responsável pela conquista de direitos femininos no Brasil e no mundo, como o direito ao voto, a remuneração justa e melhores condições de trabalho. Ao longo dos anos, três ondas feministas surgiram, cada uma responsável por um recorte sobre como o patriarcado afeta as mulheres.
Hoje o feminismo possui seis vertentes principais: o feminismo liberal, o marxista, o interseccional, o negro, o ecofeminismo e o radical. Apesar de ter objetivos centrais semelhantes, cada vertente olha para uma especificidade do ser mulher, seja pelo ponto de vista racial, sexual, de classe e meio ambiente.
Matriarcado X patriarcado
Mas o que seria necessário para romper com o patriarcado? Para Fernanda, é preciso enxergar um futuro alternativo à dominação. “Isso só vai ser possível com consciência de gênero, raça/etnia, classe social, geração… Ainda que não seja um processo individual, o despertar da consciência de gênero é o primeiro passo para uma mudança coletiva”, afirma a docente.
Como alternativa, há o conceito de matriarcado. Assim como o patriarcado, ele é um sistema social. Nele, são as mulheres as detentoras de poder político e doméstico. Esse termo é usado para se referir a sociedades ou famílias lideradas por mulheres. Elas são as autoridades, porém, esse sistema não promove a desigualdade entre os gêneros. Pelo contrário, é um movimento que prega a igualdade.
Entretanto, assim como no caso do feminismo, muitas pessoas têm problema com o nome dessa estrutura, por remeter à mãe e à mulher. Tais pessoas creem que, nesse sentido, tanto o feminismo como o matriarcado seriam o inverso do machismo e do patriarcado. Essa concepção vem de uma visão dualística, que não concebe outras formas de organização social. Na verdade, apesar da raiz de tais palavras, a ideia desses movimentos é apenas romper com a lógica de dominação de um grupo social por outro e manter a sociedade no máximo de equilíbrio possível.
A importância da religião para o patriarcado
De acordo com a professora da UFS, as normas e os papeis sociais são reforçados pela Bíblia. Das mulheres espera-se submissão e respeito ao homem e cabem a elas os cuidados da casa e da família. Aos homens cabem o sustento da família e a vida política. Tais normas legitimam o sistema de dominação, pois se constroem a partir da desigualdade entre os gêneros, com a exaltação do homem e a subordinação da mulher a ele.
Neste momento, a política e a religião se misturam, um dependendo do outro para embasar e solidificar suas visões de mundo. Mas, ao mesmo tempo em que anda lado a lado, a religião pode ser um obstáculo. É que nem todos os países seguem a Bíblia, forçando o patriarcado a se adaptar para continuar existindo.
“O patriarcado se alimenta das questões regionais, geográficas e culturais, porque precisa soar como natural”, explica Fernanda sobre as diferenças desse sistema entre os países. No entanto, embora haja divergências, a religião ainda é usada para controlar mulheres, afirma a especialista.
O patriarcado no Brasil
O Brasil é uma sociedade patriarcal e a família nuclear ainda é vista como a instituição mais importante, na qual a responsabilidade pelos filhos e família é unilateral. Diferente de países orientais, aqui as mulheres já têm maior participação social e, em muitos casos, são chefes de família. Entretanto, há forte discriminação de gênero que dificulta a atuação feminina na política e no mercado de trabalho.
A violência contra a mulher é uma das maneiras de impor o patriarcado, principalmente a violência doméstica. Motivada pelo gênero, ela representou 12,6% dos inquéritos policiais atendidos pelos Ministérios Públicos estaduais em 2021.
E num Estado em que a religião tem poder, o controle das mulheres também ocorre por meios legais, passível de punição. Há hoje, no Brasil e no mundo, leis específicas de gênero que garantem o controle do Estado sobre os corpos e a orientação sexual, sobre a educação e participação ativa em sociedade.
Agora que você conhece mais sobre o patriarcado, conheça o glossário feminista e veja este guia da mulher empoderada para saber ainda mais sobre os direitos da mulher!
Fernanda Paixão
Comunicadora, voluntária e empreendedora. Apaixonada por moda, leitura e horóscopos. Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela PUC-Rio, com domínio adicional em empreendedorismo.