Dicas de Mulher
Especialistas dão dicas de planejamento para aposentadoria e destacam que estilo de vida e configuração familiar são variáveis importantes
Planejar o futuro não é uma tarefa fácil. Tornar os planos realidade também. É que certos desejos, como ter uma aposentadoria tranquila, dependem de planejamento e dinheiro, tornando o caminho até ele um pouco difícil. Mas não impossível. Ainda que a reforma da previdência tenha aumentado o tempo de trabalho para as mulheres, é possível se beneficiar desse tempo a mais. Ele é o principal aliado quando o assunto é guardar dinheiro.
Foi diante de mudanças como a da reforma da previdência somadas à preocupação com o futuro que Sabrina Donatti, especialista em direito da mulher e criadora de conteúdo de 38 anos, entendeu que precisava se resguardar financeiramente. Para isso, a advogada se organizou no trabalho e se cadastrou como microempreendedor individual (MEI). O próximo passo: organizar as contas.
Antes dos 30 anos, tudo o que Sabrina ganhava era revertido no seu próprio negócio e nas contas da casa. Não sobrava nenhum dinheiro para colocar na poupança. A influencer não é a única. Um levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em 2022 mostra que 64% das brasileiras não têm nenhuma reserva financeira. O principal motivo para não investir é a falta de dinheiro (55%).
Antes de poder poupar para a aposentadoria, Sabrina precisava saber lidar com o dinheiro. Mas começar a se organizar foi difícil para a família. “Nós aqui em casa não tínhamos qualquer noção de como economizar ou investir. Por isso, passamos por sérios problemas financeiros”, conta a advogada, que na época também não tinha nem conhecimento nem interesse por assuntos como finanças. Suas principais dificuldades era saber onde, quanto e como começar a investir.
“Mais que isso, a dúvida era se seria capaz de conseguir me organizar. Achava que, com as contas apertadas, era impossível ver uma luz no fim do túnel”, conta. A solução foi procurar ajuda profissional e conhecimento na internet.
Publicidade
De acordo com a educadora financeira Marina Sá, “quanto antes começarmos a poupar e a investir para o nosso futuro, maior a chance de ter um futuro com qualidade”, afirma. Isso porque o tempo é um dos principais agentes que fazem o dinheiro render tanto na previdência social quanto no investimento complementar. Por isso a importância de começar a se planejar desde cedo, aumentando as chances de acumular uma quantia que satisfaça as necessidades no futuro.
Na previdência social (INSS), o tempo, a idade e a expectativa de vida da mulher interferem no valor a ser recebido na aposentadoria, explica a também economista e educadora financeira Mariliane Camarão. Pedir a aposentadoria com pouco tempo de trabalho reduz o valor do benefício.
Já na previdência complementar, o tempo atribui juros à quantia aplicada, elevando o valor final a cada novo depósito. Esses são os juros compostos, “o maior aliado de quem começa cedo a pensar no futuro”. Neste caso, “tempo e dinheiro são os ingredientes que fazem um patrimônio crescer. Quanto mais tiver de um, menos você precisará de outro”, afirma Mariliane.
Primeiros passos para a aposentadoria
Uma forma de controlar e acompanhar de perto o valor da aposentadoria é investir em previdência. Ela é composta de uma carteira de investimentos, ou seja, aplicações de maior ou menor risco que fazem o patrimônio crescer em um determinado período de tempo. Elas podem ser em renda fixa, ações de empresas, fundos imobiliários, câmbio e até mesmo ativos internacionais.
Mas para que um investimento dê certo, é necessário constância nas aplicações, afirma Mariliane. Com isso, não importa se a quantia é pequena, mas sim fazer aportes mensais sem comprometer o orçamento familiar. Para saber o valor dessa quantia, as educadoras indicam fazer um planejamento financeiro, isto é, “ter controle do orçamento pessoal, saber quanto ganha, quanto gasta e com o que gasta”, explica Marina Sá.
Sabrina Donatti também recebeu essa dica e seguiu a risca. Com o tempo, passou a analisar as finanças de forma mais detalhada, olhando para o que deveria ser controlado ou cortado das despesas. Esse olhar mais rigoroso foi essencial para controlar os gastos e colocar as contas no azul novamente, como era o seu objetivo inicial
O próximo passo foi criar uma reserva de emergência para ajudar em momentos difíceis ou de imprevistos. Segundo Marina, a reserva é a soma dos gastos totais de seis a doze meses. Para construir essa reserva, a mulher pode apenas guardar esse valor na poupança, mas o ideal é investir em ativos que façam o dinheiro render acima da inflação. Tal processo se assemelha à aposentadoria.
Publicidade
Como se organizar para aposentar
Mulheres que buscam construir sua aposentadoria precisam ter um objetivo financeiro em mente. Para isso, Mariliane indica analisar primeiro se a quantia que deseja receber será complementar ao INSS ou se será a única fonte de renda. Donas de casa, por exemplo, se enquadram nesse perfil, podendo investir uma pequena quantia mensalmente, ainda que nunca tenham sido trabalhadoras formais.
A partir disso, colocar em números o valor que deseja receber por mês. “Sabendo quanto você deseja receber, pode simular o potencial dos investimentos de longo prazo e descobrir quanto vai precisar investir e quanto tempo vai durar a renda”, explica Mariliane. A educadora financeira indica a Calculadora da Aposentadoria, do site Investnews para ajudar nesta etapa.
Lá, além de simular valores de aporte e saque mensal, a mulher pode estipular a idade que deseja se aposentar e até quando os saques irão durar. A idade para a aposentadoria mostra aqui sua importância, estabelecendo quantias maiores ou menores para atingir a meta no período determinado. Por fim, ela pode entrar em contato com um especialista caso tenha interesse.
Segundo Marina Sá, o ideal é guardar pelo menos 10% da renda mensal para a aposentadoria. Lembrando que, caso não seja possível, o importante é guardar o que puder. O ideal é que seja distribuído em uma carteira diversificada, a fim de aumentar a rentabilidade do patrimônio e se prevenir de imprevistos na economia, mantendo o seu poder de compra.
“Para proteger o nosso dinheiro da inflação é preciso investir em ativos atrelados a este índice. Existem opções de investimentos que corrigem a inflação e te pagam um prêmio extra. Esses ativos são ideais para o longo prazo, pois garantem uma rentabilidade real, ou seja, acima da inflação”, indica Marina.
E para quem não dispõe de muito dinheiro ou apetite para o risco, há investimentos que podem ser contratados a partir de 30 reais, como o Tesouro Direto e o Certificado de Depósito Bancário (CDB), e 100 reais, com os Fundos de Investimento. Os mesmos foram escolhidos pela advogada Sabrina Donatti.
Títulos como o do Tesouro Direto podem ser administrados sem a intermediação de um gestor e estão disponíveis em aplicativos bancários, facilitando o acompanhamento periódico. Já os fundos são controlados por um gestor, que faz o acompanhamento por você.
“Válido ressaltar que não existe uma adequação de investimentos por gênero, o que existe é o mais apropriado para um perfil. A investidora precisa se conhecer e saber qual sua tolerância a riscos, qual o prazo que vai dispor daquele dinheiro e quais são os objetivos com aquela quantia”, afirma Mariliane.
Publicidade
Gastos com a saúde são imprevisíveis e indispensáveis
De acordo com as especialistas, gastos com a saúde são imprevisíveis, porém mais frequentes conforme a idade avança. Não há meios concretos de mapear esses gastos ao longo dos anos, mas algumas ações podem ser tomadas para evitar que eles sejam onerosos e inesperados. Veja a seguir:
- Medidas preventivas: é preciso conhecer sua pré-disposição para certas doenças, como hipertensão, diabetes e câncer. Acompanhar o quadro clínico, manter os exames em dia e manter uma vida ativa e saudável. Dessa forma, evita-se o aparecimento ou agravamento do quadro no futuro.
- Cuidar da sua saúde financeira: ter um planejamento financeiro ajuda não só a organizar as contas, mas evita que o estresse e outros sintomas emocionais motivados por dívidas afetem a saúde física e mental da mulher.
- Plano de saúde que contemple suas necessidades: uma alternativa importante é manter um bom plano de saúde, pois os custos das consultas e procedimentos não saem diretamente do bolso. Dessa forma, também evita gastos inusitados em cima da hora.
Pesquisa feita pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (Iess) mostra que o envelhecimento populacional é responsável por um aumento de 20,5% das despesas com saúde até 2031. Nesse mesmo ano, estima-se uma despesa per capita de 4.137 reais por beneficiário.
A dica geral que a educadora financeira Mariliane dá, diante desse cenário, é acompanhar esses preços e ficar atenta às mudanças no valor, principalmente ao atingir 60 anos. Não deixe de cuidar da sua saúde e mantenha exames e cuidados preventivos em dia!
Fernanda Paixão
Comunicadora, voluntária e empreendedora. Apaixonada por moda, leitura e horóscopos. Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela PUC-Rio, com domínio adicional em empreendedorismo.