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O Sagrado Feminino pode ser compreendido como uma forma de empoderamento da mulher. Sua prática envolve o poder do corpo em conexão com as energias da natureza. Para esclarecer o assunto, a astróloga e herbalista Giovanna Luz compartilha seu conhecimento, indica leituras e muito mais.
O que é Sagrado Feminino?
De acordo com Luz, o Sagrado Feminino “é um movimento de resgate do valor inerente a toda mulher”. Esse valor é sobre a “mulher ser a origem, pois nossos corpos são instrumentos divinos. É natural que tenhamos ciclos, porque somos parte da natureza”. Dessa forma, “ao respeitar a nossa natureza, não nos impomos um ritmo alheio”.
“O Sagrado Feminino nos liberta de crenças sociais que não nos representam, ainda, é uma corrente de amor e união que une todas as mulheres. A partir dessa mudança, a percepção do nosso corpo se transforma e compreendemos que podemos curar nossas feridas com o amor-próprio e respeito.”
Giovanna Luz, astróloga e herbalista
Em suma, entender o corpo feminino como potência divina é ter consciência dos seus ciclos, compreendendo que a energia criadora é capaz de acolher e transformar. Siga a leitura e veja um pouco mais sobre a complexidade que envolve essa filosofia.
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Origem do Sagrado Feminino
Luz explica que “a origem do Sagrado Feminino tem base na cultura celta, ou seja, entre 1200 a.C. e 1000 d.C., quando a sociedade ainda cultivava o sentido do feminino como veículo divino da vida”. Entretanto, é importante dizer que os primeiros registros históricos foram tardios e muitos deles passaram por alterações simbólicas no decorrer dos séculos.
É o caso da escultura ‘Deusa de Willendorf’ (esculpida entre 28.000 e 25.000 a.C.) considerada uma das obras de arte mais antigas da humanidade. Em sua pesquisa, Eliana Patricia Grandini Serrano aponta que, ao prestar a atenção nas “medidas do braço, busto, ventre e pernas” da escultura citada, é possível compreender como as civilizações pré-históricas entendiam o corpo feminino: “apresenta-se como uma matrona, criadora de uma sociedade matriarcal”.
Luz acredita que essa visão da mulher “conecta o corpo feminino à força da natureza, da terra e da água, bem como à naturalidade dos ciclos”. Além disso, a especialista afirma que “o movimento do Sagrado Feminino não pertence a uma religião, mas busca resgatar essa origem, independentemente das crenças”.
Ela complementa com uma reflexão: “certamente o paradigma apresentado contrapõe as ideias que pregam a culpa do pecado advindo da mulher ou a ideia da natureza perversa do sexo feminino”. Essas crenças acabam “alimentando a violência contra a mulher, a desigualdade de gênero, o feminicídio e a desvalorização dos ciclos femininos”.
Como praticar o Sagrado Feminino
Muitas pessoas pensam que a prática do Sagrado Feminino envolve grandes rituais, como plantar à lua ou cultuar alguma deusa. No entanto, essa filosofia vai muito além disso. Segundo Luz, “o mais importante é percebermos que precisamos aceitar nossa verdade e acolher nossa maneira de nos manifestar no mundo sem autocondenação”.
“Um dos maiores prejuízos da era do patriarcado é nos fazer pensar que estamos erradas em sermos quem somos, forçando uma adaptação ao ritmo não natural, ou seja, um comportamento que não é da nossa natureza, assim, vamos apequenando para caber em caixas que não são nossas”, explicou a herbalista. Em resumo, libertar-se dessas crenças é uma forma de se conectar com o seu sagrado, com as suas verdades.
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Arquétipos do Sagrado Feminino
Todo movimento é composto por alguns elementos norteadores. Por isso, é importante ressaltar que, em sua essência, o Sagrado Feminino busca conectar o corpo da mulher com os elementos da natureza. Sabendo disso, entenda o que é “arquétipo” e suas manifestações:
O que é arquétipo
Segundo Luz, a palavra arquétipo “foi teorizada pelo psicanalista Carl Gustav Jung. Ele acreditava que os mitos são a expressão direta do inconsciente coletivo. Por meio deles, é possível entrar em contato com as forças criadoras”. Assim, “os arquétipos são imagens típicas que se apresentam à psique e se formam no inconsciente coletivo no decorrer dos séculos. Eles se manifestam em forma de figuras, ainda, como forças incutidas no inconsciente coletivo, emergindo ao longo da nossa vida quando nos encontramos em situações específicas”.
Vale dizer que o arquétipo “não é um assunto exclusivo do Sagrado Feminino, mas ele surge com uma força muito grande nesse paradigma. A partir da vivência no movimento, experienciamos várias figuras arquetípicas, como a donzela, a guerreira, a mãe e até mesmo a anciã”. Por exemplo, mesmo se você não tiver filhos, é possível vivenciar o arquétipo da mãe ao experienciar uma energia criadora, como dar à luz um texto bonito ou uma arte visual. Ambas as atividades partem da ideia de criação, um fruto seu.
Os arquétipos mostram que todas as pessoas vivem de ciclos, e é exatamente esse pensamento que rege o Sagrado Feminino. “A partir da conexão com os arquétipos, percebemos que podemos ser fortes, frágeis, criadoras e reflexivas. E está tudo bem, porque cada fase tem o seu brilho e a sua beleza. Assim, também acolhemos e respeitamos os ciclos do nosso corpo com amor, pois até mesmo a natureza tem o ciclo das estações do ano”.
As fases da lua
O Sagrado Feminino observa a lua em sua “natureza cíclica, não linear e mutável, pois tanto o nosso corpo quanto a nossa mente mudam de ciclo”. Dessa forma, confira os arquétipos da lua elencados pela especialista:
- Lua Nova: representa o arquétipo da Anciã, pois, nessa fase, a lua atinge seu ápice de sombra. Assim, ele pode ser compreendido como a morte do ciclo anterior e o início de um novo, ou seja, é preciso abandonar o velho para abraçar novas oportunidades. Nesse período, flui a energia de limpeza, a necessidade de mudança. Ele também pode ser relacionado ao ciclo menstrual, pois é um período introspectivo e reflexivo.
- Lua Crescente: após a limpeza, vem a expansão. Essa fase é um convite para viver e executar. Representa a vitalidade e o arquétipo da Menina que cria, se arrisca, brinca e vivencia. É o período pré-ovulatório e, nesse momento, é comum a mulher produzir mais, ter criatividade para novos projetos e sentir vontade de expandir o trabalho e as relações humanas.
- Lua Cheia: é o máximo de luz e expansão. Representa o arquétipo da Mãe, cuidadora, magnética, sexual e acolhedora. É também a fase ovulatória da mulher, período em que o contato com o outro, a comunicação e a vontade de ajudar entram em ação. Também é o ápice da energia criadora, momento propício para concretizar e realizar objetivos.
- Lua Minguante: depois de realizar, é preciso se recolher para vivenciar outro ciclo. Assim, a Lua Minguante representa o arquétipo da Feiticeira, que mergulha no seu interior. É o período pré-menstrual, ou seja, a mulher está na fase de TPM. Nesse momento, é comum estar mais arredia, impaciente, sensível, reflexiva, observadora e introspectiva. Também é comum ter uma comunicação intuitiva, como sonhos significativos e simbólicos.
Observe, tanto a Lua quanto o ciclo menstrual mostram que há fase de nascer, de expandir e de recolher. Assim, “quando assumimos nossos ciclos em sintonia com a Lua, respeitamos os nossos movimentos internos e externos”. Cada momento da vida exige uma energia sua.
As deusas e os arquétipos
A maioria das pessoas conhece ou já ouviu falar em mitologia. Mas você sabia que as personagens mitológicas podem dialogar com uma fase da sua vida? Abaixo, Luz elenca as principais deusas e o que elas significam:
- Héstia: representa a mulher que cuida do fogo sagrado, sustentando-o espiritualmente para o resguardo e proteção da família.
- Atena: é a deusa que nasceu da cabeça de Zeus e representa a mulher intelectual, racional e observadora. Esse arquétipo não entra muito em contato com o próprio corpo, pois a energia se identifica com a força da razão.
- Deméter: é a mãe que gosta de cuidar da casa e dos filhos, ela é feliz no serviço do lar e nos cuidados prestados à família. É só pensar na jornada de Deméter para resgatar sua filha Perséfone, em nenhum momento a deusa desistiu da sua família.
- Perséfone: é filha de Deméter e passou por uma jornada profunda em Hades. Ela consegue vencer seus medos quando decide enfrentar suas sombras. Além disso, ela tem uma sensibilidade extrema e grande intuição.
- Ártemis: a deusa guerreira que defende os mais fracos. Representa a mulher que está sempre pronta para a guerra, que se une à natureza selvagem e luta pelos seus ideais.
- Afrodite: é a deusa do amor, das artes, da vaidade e da sexualidade. Ela valoriza as relações, de forma leve e agradável. Também pode representar uma fase de vaidade ou um momento em que você está se sentindo pronta para novos relacionamentos.
E aí, com qual deusa você mais se identificou? Em algum momento da sua vida, você precisará ser um pouco de cada uma delas. A especialista complementa dizendo que “o importante é aceitar cada arquétipo dentro de nós, unindo a luz e a sombra, sem recriminar as nossas fases”, ou seja, antes de tudo, autoaceitação.
5 livros sobre o Sagrado Feminino
Se você gostou do assunto e deseja continuar os estudos, Luz elenca 5 livros para incentivar a sua experiência com o Sagrado Feminino. Veja:
- “A Tenda Vermelha”, de Anita Diamant: romance sobre a personagem bíblica Dinah, que traz a importância da sororidade e a condição ancestral da mulher.
- “Lua Vermelha”, de Miranda Gray: mostra como é possível resgatar a sabedoria do Sagrado Feminino na atualidade e como reconciliar a ciclicidade com o corpo feminino.
- “Círculos Sagrados para Mulheres Contemporâneas”, de Mirella Faur: de forma didática, traz orientações práticas e modelos de rituais que podem ser realizados em círculos de Sagrado Feminino.
- “Manual Introdutório da Ginecologia Natural”, de Pabla Pérez: traz práticas de terapias naturais no cuidado ginecológico, sendo um resgate das sabedorias ancestrais no autocuidado.
- “Mulheres que Correm com os Lobos”, de Clarissa Pinkola: um material belíssimo de pesquisa sobre mitologia e arquétipos. O clássico dos estudos sobre o Sagrado Feminino.
Pronta para embarcar em uma jornada de autoconhecimento e contato com o seu íntimo? Anote os livros que você mais se interessou e continue seus estudos.
7 frases sobre o Sagrado Feminino para resgatar a força da ancestralidade
Praticar o Sagrado Feminino é um ato de resistência, liberdade e expressão. Assim, confira uma seleção com 7 frases de pensadoras famosas que propagam o empoderamento da mulher e convidam a mergulhar no universo ancestral das mulheres, buscando inspiração e empoderamento.
Cada frase é uma ponte para resgatar a sabedoria de antigas tradições e honrar a força feminina que tem sido cultivada ao longo dos séculos. Por meio dessas palavras, é possível redescobrir e reconstruir uma conexão sagrada com o ser, lembrando do poder intrínseco que todas as mulheres possuem e trazendo à tona a sabedoria ancestral para os desafios e alegrias da vida moderna.
“A flor e até mesmo o fruto são apenas o começo. Na semente está a vida e o futuro. E o que eu sou deve ser escondido, como a rosa está escondida dentro da semente.” (Marion Zimmer Bradley)
“O Sagrado Feminino é amor, e esse amor é ativo e passivo, dinâmico e receptivo, quietude e movimento, espiritual e material”. (Miranda Gray)
“Às vezes não existem palavras que estimulem a coragem. Às vezes, é preciso, simplesmente, mergulhar”. (Clarissa Pinkola Estés)
“A fonte única de quem somos no rodopiante ciclo mensal de energias e consciência reside no centro de nosso útero. A Divindade Feminina se expressa por meio de nosso Tempo do Útero”. (Miranda Gray)
“Ser forte não significa exercitar os músculos. Significa encontrar seu próprio brilho sem fugir, vivendo ativamente com a natureza selvagem de uma maneira própria”. (Clarissa Pinkola Estés)
“A mulher tem um enorme poder dentro de si. Não é o poder sobre alguém ou contra alguém, é o seu poder inato e ancestral, a sua intuição, percepção, compreensão, compaixão, criatividade, amor e conexão – consigo mesma, com os outros, com o Divino.” (Mirella Faur)
“O Egito apreciava o lótus porque sua flor nunca morre. Também é assim com as pessoas que são amadas. Basta algo insignificante como um som, um nome – duas sílabas, uma alta, outra suave – para trazer de volta os incontáveis sorrisos e lágrimas, suspiros e sonhos de uma vida humana”. (Anita Diamant)
Como você percebeu, o Sagrado Feminino tem o objetivo mudar a visão patriarcal da sociedade e é uma forma de conectar a mulher com o seu próprio corpo. Dessa forma, o feminismo também busca por mudanças, sendo um tema importantíssimo para todas as mulheres.
Maria Eduarda Koshiba
Licenciada em Letras - Português/Inglês (UEM) e estudante de Ilustração (EBAC). Viciada em jogos, tecnologia e aquarela. Escrevendo e ilustrando por aí :)