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Tifanny Abreu é a primeira atleta trans a disputar a Superliga de Vôlei

Tifanny Abreu

Atualizado em 01.08.22

Tifanny Abreu conheceu o vôlei espiando a televisão de sua vizinha e viu no esporte a possibilidade de ser quem ela realmente é: a primeira mulher trans a disputar a Superliga Feminina. Assim, leia a matéria sobre a luta de Tifanny.

Índice do conteúdo:

Vida da esportista

Tifanny Pereira de Abreu nasceu em 29 de outubro de 1984, em Conceição do Araguaia no Pará. Ela é a filha mais nova de sete irmãos e veio de uma família humilde. A atleta relata que desde sempre trabalhou para ajudar em casa.

Assim, ela encontrou no vôlei a chance de realizar seus sonhos. Por nascer em um berço humilde, Tifanny não fazia ideia do que se tratava a transexualidade, mas ela sempre sentiu que não se identificava com o seu gênero.

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Iniciou sua carreira profissional em times de Juiz de Fora e Foz do Iguaçu, na Superliga Masculina B e também em países da Europa. Mas a partir de 2012, decidiu deixar o vôlei em segundo plano e fazer a transição de gênero.

A atleta explica que naquela época, ela estava cansada de fingir ser quem ela não era. Tifanny custeou o tratamento e ficou dois anos longe das quadras. O apoio da família e dos amigos foi essencial para enfrentar esse momento.

Primeira atleta trans na Superliga Feminina

O debate acerca da presença de pessoas trans no esporte iniciou na década de 90, no Comitê Olímpico Internacional. A liberação veio só em 2003, com a obrigatoriedade da cirurgia de redesignação sexual e o tratamento hormonal de pelo menos dois anos.

Em 2015, as diretrizes mudaram, pois a cirurgia deixou de ser obrigatória e o tratamento mudou para um ano. No caso de mulheres, a principal exigência é ter o nível de testosterona abaixo de 10 nmol/L de sangue. Desde então, somente uma atleta trans participou dos Jogos Olímpicos: a levantadora de peso neozelandesa Laurel Hubbard em Tóquio 2020.

Em 2012, após anos de depressão, Tiffany percebeu que precisava vivenciar a transição e deixou o vôlei de lado. Como ela não sabia quais seriam as reações do seu corpo com os hormônios, pensou até que nunca mais voltaria a praticar o esporte.

Após cinco anos da transição e vivendo na Europa, ela foi convidada para jogar na Bélgica e recebeu autorização do COI, da Federação Internacional de Vôlei e da CBV para jogar em um time feminino. Depois foi para a Itália, quando surgiu um convite de treinar nas instalações do Sesi Bauru em São Paulo.

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Foi assim que Tifanny Abreu entrou na história, sendo a primeira mulher transgênero a disputar uma partida da Superliga. Desde 2021 ela representa o Osasco São Cristóvão Saúde. É casada com o jogador de futebol Victor Emmanoel Metz.

A atleta também revelou que o começo da transição foi difícil, principalmente porque o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis em todo o mundo. Ela chegou a sofrer ataques de jogadoras e comissões técnicas, mas ela acredita que as pessoas fazem isso por falta de informação.

Importância

O esporte é mais um dos reflexos de uma sociedade cheia de transfobia e outros preconceitos. Por isso, a representatividade de Tifanny é necessária para transformar esse ambiente intolerante em algo acolhedor e saudável.

Após enfrentar um período turbulento de aceitação, Tifanny entendeu que seu papel é mais importante do que pensava. Além de ser a primeira atleta trans, ela trouxe o exemplo para diversos brasileiros. Sendo assim, o debate e visibilidade são caminhos para a área esportiva evoluir e garantir direitos para esses atletas.

Infelizmente não existe um consenso nas organizações, porém, a presença de Tifanny vem mudando as instituições desportivas e dando ênfase a luta dos atletas transexuais no Brasil e no mundo.

10 curiosidades para conhecer melhor a atleta

A história de Tifanny é de superação e muita garra dentro e fora das quadras. Por isso, leia mais sobre a atleta que revolucionou o esporte brasileiro:

1. Recordista de pontos em uma única partida

Em uma partida pela Superliga, Tifanny quebrou o recorde que pertencia a Tandara. Em 2013, ela marcou 37 pontos na vitória do Campinas em cima do Praia Clube. Já 2019, quando vestia a camisa do Bauru, ela marcou 39 pontos, mas não foi o suficiente para vencer o vice-campeão daquele ano, o Praia Clube.

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2. Única atleta brasileira a ser escolhida para participar da campanha mundial da Adidas

Junto com Paul Pogba, Mohamed Salah, Nneka Ogwumike e a cantora Beyoncé, Tifanny foi única atleta brasileira a ser escolhida para participar da campanha mundial da Adidas. Com o nome “Impossible in Nothing“, a série celebra as revoluções que ela incitou no esporte.

3. Maior média de pontos da Superliga

A maior média já registrada na Superliga Feminina pertence a Tifanny que, em 2017, marcou 70 pontos em apenas 3 partidas. Esses pontos chegam a uma média de 23,3 por jogo. Atrás dela, Tandara marcou a média de 19 por jogo, mas ficou na frente pela pontuação total.

4. Tem o sonho em defender a seleção brasileira

Em entrevista, Tifanny revelou que o seu sonho é representar a seleção brasileira e trabalha duro para merecer convocação. Seu sonho inclui “ver pessoas praticando o esporte sem serem crucificadas pela sua cor, raça, gênero ou sexualidade. Quero um esporte igualitário para todos”, conta a atleta.

5. Bicampeã paulista

Em 2018, quando jogava no Sesi Bauru, ela conquistou o campeonato paulista de vôlei com uma série intacta. Repetiu esse feito incrível em 2021, jogando pelo Osasco São Cristóvão Saúde.

6. Candidata a deputada

Foi candidata a deputada federal do estado de São Paulo pelo partido MDB em 2018. Obteve cerca de 3.998 votos, equivalente a 0,02%.

7. Estrelou o clipe do cantor SCALON

O cantor mineiro SCALON convidou a jogadora para estrelar o clipe da música Nós por Nós. A canção fala sobre preconceitos e violências sofridas pela comunidade LGBTQIA+ em uma balada pop com melodias suaves. Além disso, o clipe conta com a participação do ator Claudio Olegário e do modelo Eduardo Lacov.

8. Atua em duas posições

A versatilidade de Tifanny na quadra permite que ela atue em duas posições: oposta e ponteira. A primeira é focada mais no ataque, enquanto a segunda exige que a jogadora esteja apta a recepcionar, defender e atacar.

9. Ama música

Fora das quadras, a paixão de Tifanny envolve música. Nas redes sociais, a atleta posta vídeos dançando as músicas que viralizam e sempre compartilha o que está escutando no carro quando está voltando dos treinos.

10. Símbolo da luta de atletas trans e da comunidade LGBTQI+

“Saber que aquela sementinha que plantei lá no passado hoje dá frutos e poder representar a comunidade LGBTQIA+ em vários lugares do mundo. Minha mãe morreu faz um ano e ela sempre foi muito orgulhosa de tudo o que eu conquistei. A mensagem que eu posso passar é: abrace quem você é e sonhos não são impossíveis”, conta a esportista.

Tifanny abriu portas para que os atletas trans pudessem se enxergar no esporte. Assim, conheça a história de Carol Gattaz e se inspire em mais uma esportista que representa o esporte feminino.