Dicas de Mulher
“Não se acha a paz tentando evitar a vida” – é o que diz a personagem Virginia Woolf, no livro “As horas”, de Michael Cunningham. A paz pode ser aquela certeza sobre nossas capacidades, que aparece quando superamos um medo, ressignificamos um trauma, aprendemos algo novo. Sendo assim, encontrá-la implica viver, ainda que isso tenha um preço. Nesse sentido, a vida se faz em um eterno costurar-se, remendar-se, sem que, de fato, saibamos muito bem o que estamos fazendo.
Dias desses, me peguei incomodadíssima. Eu estava participando de um processo seletivo para um trabalho importante e imaginei que os contratantes poderiam vasculhar pela internet coisas sobre minha vida: quem sou eu, se sou foragida, se estou envolvida em processos no Jurisbrasil ou no Reclame Aqui.
Prontamente, digitei meu nome no campo de busca do Google “só pra garantir”, e me deparei com um passado todo: textos mais antigos e rasos que escrevi, pesquisas ultrapassadas que fiz quando estava na faculdade, teses das quais me envergonho, fotos que já não me representam… Nada que me faça uma foragida da justiça, mas alguns textos são tão ruins que merecem prisão perpétua.
Pensei em apagar. Eu teria de entrar em contato com muitas plataformas de pesquisa e canais de comunicação e pedir para que tudo aquilo fosse ocultado, mas, nessa era das redes, não há crime sem vestígios. Me ponho a pensar, então, se não foram justamente todos esses pequenos passos que fizeram esta mulher que escreve este texto (cuja qualidade também será questionável por mim mesma daqui a algum tempo) e se, de fato, eu não precisava ter escrito tantas outras coisas ruins para poder escrever uma linha que preste.
Costumo dizer, no consultório, que há caminho que só aparece depois do passo. Pessoas dizem todos os dias que não se sentem prontas e podem repetir isso por anos até perceberem que nunca estarão, porque esse ideal é apenas um ideal, nada muito concreto. Planejamentos são importantes, mas não são garantias.
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Quando nos damos conta disso, pode ser que seja um pouco tarde para arriscar o projeto, a maternidade, a relação, a reconciliação. A vida e suas peripécias ocorrem sem garantias, sem certezas do sucesso. Há coisas que a gente só aprende fazendo e a preparação eterna para qualquer mudança só faz com que fiquemos estacionadas no mesmo lugar.
É tropeçando, errante, ora correndo, ora engatinhando, que vamos traçando uma vida possível, para uma paz também possível. Este texto é para você, humana, que pode estar cansada de esperar por uma hora certa que não existe. Você nunca estará pronta: comece a caminhar.
Psicanalista e Palestrante, graduada em Psicologia e em Letras, com Mestrado e Doutorado em Linguística e Pós-Graduada em Sexualidade Humana. Dedica sua carreira ao desenvolvimento de mulheres líderes no trabalho, nos relacionamentos e na vida. É autora do livro "A linguagem da loucura" e empresária, ama comunicação, esportes, viagens e celebrações.