Dinheiro e Carreira

Workaholic: como o vício no trabalho pode impactar a vida social e a saúde

Dicas de Mulher

Atualizado em 25.08.23

Para conseguir reconhecimento em um mercado de trabalho tão competitivo, a pessoa workaholic pode confundir jornadas de trabalho excessivas com dedicação e alto desempenho. As psicólogas Alessandra Augusto e Sirlene Ferreira falaram sobre o vício no trabalho e como esse comportamento pode impactar a vida social e a saúde, gerando estresse e até dores corporais. Acompanhe a matéria!

O que é ser workaholic

De acordo com Alessandra Augusto, muitas vezes, o workaholic é confundido com um profissional de alto desempenho, comprometido, empenhado e que pode chegar em um patamar mais elevado em sua profissão. Porém, se trata de “uma pessoa viciada em trabalho, que desenvolve tarefas e funções de uma forma repetida e compulsiva”, explica.

Sirlene Ferreira esclarece que o vício em trabalhar não consta no CID (Classificação Internacional de Doenças), mas “pode ser um condutor de doenças, podendo, em alguns casos, chegar a óbito, como em situações de jornadas de trabalho exaustivas”.

Alguns sinais podem ser frequentes em uma pessoa workaholic, como deixar de descansar à noite e se sentir inquieto longe do trabalho. Isso acontece, pois “o vício de trabalhar é dominante em relação a outros aspectos da vida, como vida social e amorosa. Estas são áreas abandonadas e insignificantes”, pontua Sirlene.

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Alta produtividade x workaholic

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Conforme explicam as psicólogas, um indivíduo de alta produtividade sabe a hora de parar e produz com qualidade, de maneira saudável. O workaholic, por outro lado, nem sempre produz e, quando o faz, nem sempre é com qualidade. Além disso, a atividade se torna sempre cansativa, pois demanda exaustivamente do indivíduo.

Muitos profissionais entendem que duplicar a carga horária de trabalho e multiplicar funções pode contribuir para o sucesso na carreira profissional. Esse pensamento é propício para o desenvolvimento de um comportamento vicioso, repetitivo e nocivo.

Principais causas

A insatisfação pessoal e a busca por reconhecimento profissional é uma das principais motivações para o desencadeamento do comportamento workaholic, pois, segundo Sirlene, “normalmente esses indivíduos têm a autoestima baixa e busca recompensa no trabalho”. Veja, a seguir, outras causas apontadas pelas profissionais:

Desigualdade de gênero

A desigualdade de gênero é um dos fatores que podem levar a uma sobrecarga, segundo Alessandra. Segundo ela, a mulher “entende que não tem remuneração adequada e reconhecimento, então intensifica as horas de trabalho, gerando comportamento compulsivo e vícios que ela não consegue parar”. A desigualdade de gênero colabora para uma dedicação desenfreada e nada saudável. Entretanto, de acordo com Sirlene, “é importante entender que a dedicação doentia não mudará os aspectos da desigualdade estrutural da sociedade”.

Dupla jornada feminina

A maioria das mulheres precisa se dividir entre o trabalho e a maternidade e, muitas vezes, não tem apoio do companheiro. Ademais, é comum que mulheres em dupla jornada de trabalho desenvolvam o comportamento workaholic com o intuito de dar conta da casa e do emprego.

“A mulher pode ter a sensação de que não está dando conta e pode aumentar as horas de trabalho. Com isso, se torna uma forma compulsiva e até pode gerar um vício”, diz Alessandra. Isso pode causar transtornos psicológicos, ansiedade e síndrome de burnout.

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Ambiente de trabalho

O ambiente de trabalho pode prejudicar a saúde emocional dos profissionais. As cobranças de metas abusivas, assim como o aumento da sobrecarga de trabalho, geram estresse, ansiedade e até podem contribuir para o comportamento workaholic.

Conforme pontua Sirlene, “o ambiente de trabalho doentio também é um condutor de comportamento doentio. Uma empresa que não reconhece seus trabalhadores como bons profissionais, muitas vezes, os coloca numa busca incessante de algo que nunca acontecerá”.

Síndrome da impostora

A síndrome da impostora é uma condição em que a pessoa não reconhece a própria capacidade, então é tomada pelo sentimento de fraude e sente que a qualquer momento será desmascarada. Ela “tem a sensação que o tempo todo vai ser descoberta, então aumenta a carga de trabalho compulsivamente para aliviar esse pensamento”, explica Alessandra.

Ela ainda diz que para amenizar esse sentimento, “a pessoa tende a passar mais tempo no trabalho, como trabalhar aos finais de semana e feriados ou chegar antes e sair depois de todos os funcionários”. Dessa forma, esse comportamento fica tão intenso que se torna um vício.

Consequências de ser workaholic

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O comportamento workaholic está relacionado a uma série de impactos negativos que afetam o convívio social, o emocional e a saúde física da pessoa. A seguir, as psicólogas citam as principais consequências:

  • Socialização: segundo as psicólogas, o workaholic não tem tempo de estar com a família e amigos, pois ele troca a vida social pelo trabalho, prejudicando as relações afetivas e levando esse indivíduo ao isolamento.
  • Relacionamento amoroso: a pessoa com esse comportamento passa a maioria do tempo trabalhando ou pensando em trabalho, então pode não conseguir manter um relacionamento duradouro. De acordo com Alessandra, o comportamento “faz o parceiro se sentir desprezado, consolidando a mortificação da relação”.
  • Qualidade de vida: por não conseguir se desligar do trabalho, o workaholic não tem tempo para uma alimentação saudável e o mesmo acontece em relação aos esportes, aponta Sirlene. Normalmente, a pessoa pula refeições e só consegue dormir quando o corpo já chega ao limite.
  • Exaustão: a pessoa viciada em trabalho “acredita que precisa saber de tudo o tempo todo e, simultaneamente, produzir o máximo possível”, diz Sirlene. E como consequência dessa crença, ela pode chegar à exaustão, prejudicando a saúde mental e física.
  • Ociosidade: para Sirlene, “a ociosidade é necessária na vida de todos as pessoas, mas o workaholic não consegue se permitir a isso”. Por estar ligado o tempo todo com questões profissionais, ele pode desenvolver um quadro de ansiedade e estresse.
  • Qualidade do trabalho: segundo Alessandra, “um indivíduo que trabalha com criatividade pode ser prejudicado, porque a criatividade depende do descanso mental”. Então, a qualidade no trabalho é afetada, pois o cansaço emocional e físico impacta diretamente na capacidade de concentração e raciocínio.

Como tratar

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Segundo as psicólogas, existe tratamento para pessoas viciadas em trabalho e consiste em psicoterapia. Esse tratamento ajudará a entender o porquê desse comportamento para buscar o equilíbrio entre as funções. Além dessa indicação, as psicólogas apontaram algumas orientações que podem ajudar o workaholic nesse processo:

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  • Identificar o comportamento: de acordo com Sirlene, “o primeiro passo é saber se o indivíduo é um workaholic ou apenas uma pessoa que está com seus horários desorganizados”. Nesse caso, é importante observar os sinais mencionados.
  • Convívio social: para Alessandra, é preciso “ter atividades prazerosas e estar em ambientes sociais, como em um churrasco em família”. Mas ela acha importante não falar sobre trabalho e aproveitar esses momentos.
  • Priorizar a qualidade de vida: Alessandra destaca que “uma vida sem prazer perde o colorido e o sabor de viver”. Nesse sentido, Sirlene orienta “criar uma rotina em que a qualidade de vida seja prioridade”.
  • Autoestima: a autoestima é uma ótima ferramenta para manter relações saudáveis. Portanto, Sirlene orienta “ajudar a pessoa viciada em trabalho a recuperar a sua autoestima e trazer informações sobre o quanto o comportamento workaholic é nocivo”.
  • Equilibrar metas: tentar cumprir metas exageradas e inalcançáveis aumentam a pressão e pode gerar estresse, ansiedade e frustração. Nesse sentido, Sirlene acha importante “ajudar a pessoa a criar metas menos cruéis”.

Normalmente, a pessoa viciada em trabalho demora a perceber essa condição, portanto o apoio familiar é extremamente importante para ajudá-la. Além disso, fazer psicoterapia é essencial para reconhecer suas habilidades, vícios e pontos a desenvolver.

Formada em Letras e pós-graduada em Jornalismo Digital. Apaixonada por livros, plantas e animais. Ama viajar e pesquisar sobre outras culturas. Escreve sobre diversos assuntos, especialmente sobre saúde, bem-estar, beleza e comportamento.